Tortura e morte em São Paulo: casos de violência policial assustam

Tortura e morte em São Paulo: casos de violência policial assustam

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:25

Em menos de um mês, três casos de violência policial chocaram a cidade de São Paulo.

A primeira ocorrência aconteceu na Zona Norte da capital. Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, de 30 anos, foi detido juntamente com outros três rapazes, por policiais, em ocorrência de discussão por possível furto de uma bicicleta, na noite de 9 de abril. Os quatro jovens foram levados até um quartel, onde, segundo testemunhas, Eduardo foi espancado por policiais. Na madrugada do dia seguinte, o rapaz foi encontrado desacordado no bairro de Santana, levado ao hospital, mas não resistiu e morreu.

No segundo caso, ocorrido na noite de 27 de abril, três policiais são suspeitos de tentar matar o jovem Valdinei Resende dos Reis, a tiros, na praça principal de Edu Chaves, bairro da Zona Norte. Na noite anterior, o jovem e um adolescente já haviam sido torturados pelos mesmos policiais por terem roubado dois celulares. Os PMS, no entanto, não registraram ocorrência da noite de 26 de abril.

Quatro policiais militares também são acusados de imobilizar, espancar e matar o motoboy Alexandre Menezes dos Santos, de 25 anos, em frente à casa em que morava com a família, na Zona Sul, na madrugada de 8 de maio. O jovem teria sido seguido pelos policiais por estar em uma moto sem placa e ter ignorado o pedido dos agentes para encostar.

No dia 22 de abril, a Polícia Militar do Estado de São Paulo publicou, no site da corporação, uma nota de esclarecimento à sociedade, referente ao primeiro caso citado. Leia trecho da nota: "A Polícia Militar não compactua com nenhum tipo de irregularidade praticada pelos seus integrantes, sendo implacável e ágil na apuração rigorosa dos desvios de conduta, retirando das fileiras da Corporação cerca de 300 policiais em média, por ano."

Em um período exato de 29 dias, três casos semelhantes. Algumas pessoas manifestam apoio à ação dos agentes justificando o uso intenso da força física por possíveis atos de insubordinação das vítimas, enquanto outras, revoltadas, queixam-se de abuso do poder por parte dos policiais e pedem justiça.

Fé e justiça

O Portal GUIA-ME entrou em contato com a Polícia Militar buscando informações sobre a situação atual das investigações dos casos. Em resposta ao contato, a assessoria da PM disse: "A Polícia Militar esclarece que os policiais envolvidos na ocorrência do Bairro da Casa Verde encontram-se recolhidos no Presídio Militar Romão Gomes, em razão da decretação da prisão temporária. A ocorrência referente à Zona Sul, a Polícia esclarece que os PMS envolvidos foram presos em flagrante delito na data do fato e também se encontramrecolhidos no mesmo presídio".

Em entrevista ao GUIA-ME , Elza Pinheiro dos Santos, mãe de Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, vítima do primeiro caso citado, disse que continua a acreditar que o motivo de seu filho ter sido morto foi racismo. Sobre a Polícia Militar, dos Santos não mudou seu ponto de vista e diz confiar na justiça. "É uma entidade que existe para proteger o cidadão. Evidentemente não há nada que não possa ser melhorado e, na minha opinião, não é meia dúzia que vai sujar o nome de uma corporação [...] Em primeiro lugar, eu espero e confio na justiça divina, depois eu acredito na justiça do homem. Acredito que os culpados serão identificados, responsabilizados e punidos na forma da lei".

Evangélica, Elza contou que não busca vingança e mostrou-se firme e confiante em Deus durante toda a entrevista: "Não cai nenhum fio de cabelo da nossa cabeça sem que Deus permita e o Senhor permitiu. Só Ele sabe a razão. Todos os dias eu acordo de madrugada e me apresento diante do Senhor com meu coração limpo, livre de ressentimento. Tenho feito exercício diário de perdão e eles estão perdoados".

"Eu havia dito para o Senhor que era muito forte para mim, e achava que eu não poderia suportar aquela dor. A dor é muito grande de saber que você perdeu um filho, morto aos poucos, torturado, algemado, apanhando, gritando pela mãe, pedindo pelo amor de Deus que parassem. Mas os servos de satanás continuaram a matar meu filho aos poucos. Uma noite orei ao Senhor e disse: 'Senhor, eu não vou agüentar' [...]. O Senhor é a nossa força, Ele nos sustenta e nos levanta a cada manhã, mas para isso nós temos que perdoar, não ter desejo de vingança e nem ressentimento", ponderou.

Por telefone, a Tenente Cibele Marssola, porta-voz da Polícia Militar de São Paulo, informou que 12 PMS envolvidos no caso de Eduardo dos Santos estão presos. Sobre a ocorrência do Parque Edu Chaves, ela disse que ainda não há novidades sobre as investigações. De acordo com a Tenente, em todos as situações, como penalidade, os policias envolvidos podem ser exonerados da corporação.

Por: Juliana Simioni

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