Um tipo de terapia celular para regeneração da pele vem ganhando força no meio científico. Um estudo do King's College London mostra como os chamados fibroblastos (células que produzem fibras colágenas e sustentam tecidos do corpo) podem ter implicações no tratamento de cicatrizes.
A manipulação de fibroblastos tem aplicações variadas. A principal delas é a regeneração celular da pele, e por isso desperta interesse de seu uso estético de rejuvenescimento e até crescimento de cabelo. Mas também há pesquisas focando em tecidos do coração e do pulmão.
- Havia a dúvida se tinha só um tipo de fibroblasto e comprovamos que há tipos diferentes, que podem ser isolados e usados de formas diversas - afirmou Fiona Watt, autora do estudo e diretora do Centro de Células Tronco e Medicina Regenerativa da universidade britânica, que foi publicada nesta quinta-feira na “Nature”.
No estudo, os cientistas mostram que há pelo menos duas camadas de fibroblastos no tecido conjuntivo, responsável por unir e sustentar outros tecidos, e como elas se comunicam. Um deles, na camada superior, interfere na formação dos folículos de cabelo; o outro, na camada inferior, é responsável pela produção de colágeno e regeneração da pele. Eles também perceberam como as duas camadas geram sinais entre si.
À medida que envelhecemos, há mudanças na espessura e composição da pele que a torna mais propensa a lesões e menos apta a cicatrizar. O estímulo à produção de fibroblastos poderia reverter este processo. Ele foi possível em camundongos, mas ainda é preciso testar se ele se aplica a humanos.
Fiona explica que sua pesquisa não tem aplicação estética, mas admite que a técnica pode ser usada com este objetivo, o que vem preocupando autoridades britânicas:
- Existe esta possibilidade sim, mas o que as autoridades questionam é se o que está no mercado é seguro e eficiente. Eles não querem que pessoas façam dinheiro com tratamentos que não funcionam, principalmente para fins cosméticos.
Já o biólogo Radovan Borojevic, professor da UFRJ e diretor técnico do laboratório Excellion, diz que o uso em medicina estética é consolidado cientificamente, mas no Brasil, caiu numa espécie de limbo jurídico.
- Estes trabalhos estão estabelecidos. No Brasil foi livre por muitos anos, mas em 2011, uma portaria limitou a sua aplicação. Foi considerada uma terapia experimental, embora tenha autorização para uso em pele há 15 anos. Não está proibida, nem autorizada, está num limbo - explicou o pesquisador, que ainda comentou sobre o estudo:
- A pesquisa é consistente, vem de um dos melhores grupos de embriologia da pele no mundo, e os dados são interessantes, mas não revolucionários. Eles descreveram a lógica de replicação das células, e isto abre a possibilidade de aplicação terapêutica, já que se se quer interferir farmacologicamente, é preciso entender como eles são controlados e respondem a estímulos.
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