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Guia de carreiras: Jornalismo

Guia de carreiras: Jornalismo

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:09

 

Apesar do grande interesse pela leitura e a redação, Caco Barcellos, ainda na adolescência, passou no vestibular para o curso de matemática, com o objetivo de um dia se tornar engenheiro. A oportunidade de participar do jornal do centro acadêmico da faculdade, porém, acabou lhe rendendo uma oferta de trabalho em um jornal diário. "Foi meio por acaso. Como eu gostei muito do trabalho e eles gostaram de mim, tratei de mudar rapidamente e fui fazer jornalismo", conta o repórter, que se formou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, já trabalhou nos principais jornais e revistas impressos e há mais de duas décadas conta histórias em frente às câmeras de televisão.
 
Jornalistas como Caco, que hoje é repórter e diretor do programa Profissão Repórter, são profissionais dedicados a transmitir e explicar fatos e histórias de interesse público aos leitores, ouvintes. Para isso, eles contam com técnicas de apuração das informações, realização de entrevistas com fontes e personagens relevantes para a notícia e produção e edição da reportagem.
 
E, já que depende de eventos em sua maioria imprevisíveis, a carreira também exige paciência para conseguir a informação, flexibilidade para lidar com acontecimentos de última hora e dinamismo quando é preciso produzir uma reportagem poucos minutos antes de ela ir ao ar, ou à gráfica.
 
"Um amigo meu brinca que o jornalista é aquele que fica a vida toda esperando o nada virar coisa. A gente nunca sabe quando vai acontecer o factual que vai nos fazer trabalhar de madrugada ou que vai nos obrigar a trabalhar domingo", explica a jornalista Ana Escalada, editora-chefe do Profissão Repórter.
 
Ana e Caco concordam que esta é justamente a graça da profissão. "Uma pessoa que não gosta de problemas não deve ser jornalista, uma pessoa que gosta de rotina não deve ser jornalista", afirma a editora.
 
jornalismo"Tem que ignorar aquilo que em outras profissões é muito importante, como rotina, jornada de trabalho... Você não sabe quando começa e, principalmente, não sabe quando termina", disse o repórter ao G1, às 20h da segunda-feira (23). Naquele dia, ele já tinha passado pelas Clínicas, na Zona Oeste de São Paulo, seguido para Guarulhos, na Região Metropolitana, e retornado à Avenida Paulista, na região central da capital, em busca de uma matéria para o programa que foi ao ar na noite de terça-feira (31), sobre estrangeiros que moram no Brasil (assista ao programa).
 
"É uma profissão que combina mais com os poetas, por exemplo, com as pessoas que gostam de outras pessoas. É fundamental ser apaixonado por gente, senão não dá certo. E o repórter tem que ser apaixonado pelo que faz, achar graça disso, não achar que isso é sacrifício", afirma.
 
Para Caco, além de contar histórias, quem vive da reportagem também tem uma função essencial. "O repórter tem por obrigação fazer o registro dos acontecimentos de um país. É a partir do trabalho do jornalista que as outras profissões se movimentam", diz. "A gente que é repórter tem que estar mais informado do que todos os que estão à nossa volta, inclusive o dono do veículo onde a gente trabalha", explica ele.
 
A responsabilidade do produto que o jornalista apresenta ao público tem implicações que podem perdurar durante muito tempo. "Por exemplo, daqui a algum tempo, essa história que estou contando talvez seja a história que sintetize o que é a violência urbana na maior cidade da América Latina. Talvez daqui a dez ou 20 anos um sociólogo vá querer interpretar por que isso estava acontecendo neste momento da história do Brasil."
 
A produção da notícia
 
Para retratar os pequenos e grandes fatos que, a cada dia, vão construindo a história, os jornalistas se dividem para cumprir diversas tarefas. Dentro das redações impressas e de internet, as mais comuns são a do repórter, que busca as histórias e vai a campo apurar as informações, e a do editor, que decide como todas as reportagens da equipe serão expostas no veículo. Por exemplo, no jornal impresso, o editor decide qual reportagem terá mais espaço e em que página cada texto vai entrar.
 
Na televisão e na rádio existe ainda a função do produtor. "É quem propõe uma pauta e às vezes a produz, o repórter é quem vai a campo, o pessoal da rádio-escuta liga para as delegacias, para os bombeiros, para saber se tem alguma coisa que foge da rotina. Quando a reportagem vem da rua, ela passa pelo editor, e tem também os apresentadores, que cada vez mais são jornalistas", explica Ana.
 
Cada editoria do veículo, como de notíciário político, internacional e de economia, conta com uma equipe de repórteres e um editor, que pode contar com editores assistentes para finalizar a criação das páginas. Na TV, os repórteres saem às ruas com os cinegrafistas e os técnicos de iluminação e som para garantir a captação das melhores imagens.
 
Os veículos ainda têm equipes dedicadas à produção e edição de fotografias e profissionais de desenho e programação, que cria os infográficos, as tabelas e artes que ajudam a explicar os fatos aos leitores. Além disso, jornalistas fazem o trabalho de pauteiro, que organiza a distribuição das pautas --como é chamada a notícia antes da apuração, redação e edição-- entre os repórteres.
 
Acima de toda a equipe estão o editor-chefe e o editor-executivo, responsáveis por manter a coesão do conteúdo e da linha editorial.
 
Fora das redações
 
As redações de jornais, revistas e portais não são o único habitat dos jornalistas. "Ser repórter, ser roteirista de cinema, escritor de novela, trabalhar com publicidade... São mil possibilidades para uma mesma profissão", afirma Caco, que, além das reportagens diárias e semanais, também escreveu grandes reportagens em livros como "Rota 66 - A história da polícia que mata", que já recebeu mais de 80 edições.
 
Grande parte dos jornalistas também é encontrada cumprindo a função de assessores de imprensa, uma profissão que dividem com quem tem diploma de relações públicas, apesar de os últimos serem minoria neste mercado. Com as mudanças que a internet tem imposto à publicidade, ao consumo e à relação das marcas com o público, outros leques também se abriram ao profissional de jornalismo, principalmente nos setores de produção de conteúdo.
 
Camilla Salmazi, que se formou em 2004 pela PUC de São Paulo, entrou para o curso de jornalismo pensando em trabalhar em uma rádio, e inclusive fez seu trabalho de conclusão de curso usando as técnicas específicas para este veículo. Mas, ao terminar a graduação, ela recebeu uma proposta de emprego em uma agência de comunicação, que presta serviços de assessoria de imprensa para empresas do setor privado e do terceiro setor.
 
Como ela não poderia ser contratada na editora onde fazia estágio na produção de notícias, Camilla decidiu aceitar a oferta, e não largou mais da área. "Percebi que gostava muito mais desse tipo de jornalismo", explica. "Você tem mais controle do tempo, uma carga horária fixa, é difícil ter que fazer plantão de fim de semana, só quando tem algum evento. E o salário também é melhor, além de você subir na carreira mais rapidamente."
 
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, existem três pisos salariais para a categoria. O valor, referente a veículos da capital paulista, é de R$ 2.982.89 para os profissionais de rádio e TV e R$ 3.740,53 para assessores de imprensa. Quem trabalha em jornais e revistas recebe a partir de R$ 3.321,60.
 
Assessores de imprensa podem atuar tanto dentro da instituição em que trabalham, no departamento da comunicação, quanto em agências contratadas para prestar esse serviço a empresas e ONGs.
 
Além de atender aos pedidos da imprensa, é função da assessoria sugerir pautas aos repórteres e aconselhar a direção das instituições sobre estratégias de comunicação e exposição na mídia, incluindo o 'media training', treinamento para que os porta-vozes da empresa utilizem as mesmas técnicas dos profissionais de televisão ao dar entrevistas, como linguagem corporal e uso da voz.
 
Camilla, que hoje atua no setor de comunicação do movimento Todos Pela Educação, afirma que, nesta função, continua fazendo tarefas típicas de repórteres, como ir atrás de pautas e histórias que possam ser contadas pela mídia. "Você tem cabeça de jornalista, sabe se aquela pauta é interessante", diz.
 
Novos suportes, mesmo rumo
 
Para Ana, do Profissão Repórter, a internet já mudou muito o jornalismo na última década, e continuará provocando alterações, apesar de isso não colocar em risco a necessidade do profissional. "Talvez a televisão migre para a internet, talvez a internet se torne o veículo principal. Mas ele vai precisar daquela pessoa, daquele profissional que saiba falar 'olha só o que eu tenho para te dizer, olha que legal'", diz. Para ela, o jornalismo não vai morrer. "Talvez o jornalismo não permaneça dessa forma, mas vai se transformar em outra coisa."
 
Desde 2009, o diploma do curso de jornalismo não é mais obrigatório para conseguir o registro de jornalista profissional. Um projeto de lei para voltar a exigir diploma de jornalista tramita no Congresso Nacional.
 
Mesmo sem a obrigação, muitas empresas ainda exigem, em suas ofertas de vagas, pessoas formadas na faculdade de jornalismo, além de pedirem cada vez mais habilidades, como conhecimentos de vídeo e fotografia e o domínio de programas de edição de imagens e processamento de dados. Esses temas, assim como algumas técnicas de assessoria de imprensa, já começam a ser incluídos nos currículos das faculdades.
 
Caco afirma que, desde que começou a trabalhar com televisão, viu como a tecnologia modificou o modo de fazer jornalismo, com câmeras cada vez mais compactas e de maior qualidade, por exemplo. Segundo ele, o futuro da profissão é imprevisível. "Mas com certeza posso garantir que, daqui a cinco anos, histórias maravilhosas estarão acontecendo no cotidiano de todo mundo, e quem perder a oportunidade de experimentar essa profissão não sabe o que estará perdendo", diz.
 

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