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Leia a crítica de 'Homem-Aranha 2: A ameaça de Electro'

Pela primeira vez, a destruição da cidade de Nova York faz com que novaiorquinos parem para assistir ao 'espetáculo'

Fonte: OmeleteAtualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:02
homem aranha
homem aranha

homem aranhaTantas vezes Nova York já foi destruída no cinema, é sempre aquela correria, e em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro deve ser a primeira vez que os novaiorquinos param para assistir. Nos duelos entre Aranha e Electro ou entre Aranha e Rino, já tem até as grades na calçada prontas para separar a plateia da ação.

É evidente que tudo se volta para o espetáculo num filme desses - o próprio nome já diz - mas a tendência dos roteiros de Alex Kurtzman e Roberto Orci é sempre lidar com o espetaculoso e não necessariamente com o espetacular. A dupla pensa a trama, a ação, as viradas do roteiro por seu potencial de impacto e de retenção da atenção do espectador, e não seu potencial narrativo; é assim nos roteiros de Além da Escuridão - Star Trek, Transformers e neste novo Homem-Aranha também.

Impacto não falta em O Espetacular Homem-Aranha 2, na forma de revelações (segredos do passado, do presente) e de expectativas (em torno do destino de alguns personagens, em torno da formação do Sexteto Sinistro). Vilões fazem fila para manter a ação em marcha, um de cada vez, enquanto crises e tragédias são dispostas ao longo da trama de forma mecanizada (o adeus aos pais, o vilão prestes a morrer, a donzela na iminência do perigo). Tudo parece grave e urgente nos filmes de Orci e Kurtzman, mas só na superfície e só por um instante: urgências se resolvem num passo, para dar lugar a urgências novas.

Aqui, o que temos é um produto com visível vocação para o descompromisso (o visual colorido em computação gráfica e a trilha de Hans Zimmer lembram desenho animado, e o ator Andrew Garfield foi certeiro ao comparar a ação deste filme a um desenho do Pernalonga) e para espelhar a geração dos millennials (o perfil hipster de Garfield, os diálogos irônicos e autorreferentes entre Peter e Gwen). Então quando Orci e Kurtzman tentam injetar gravidade no espaço curto entre uma cena descompromissada e um diálogo irônico, tudo acaba soando mais artificial, mais posado.

Essa incapacidade de encontrar um tom para o filme vem acompanhada de omissão no trato do herói. O Peter Parker dos quadrinhos é uma clássica figura da Jornada do Herói organizada por Joseph Campbell, capaz de aprender com seus erros, levantar-se de novo e tornar-se um herói melhor; neste filme, o erro só acontece perto do desfecho e não leva à lição, e sim a uma fuga. O Peter dos dois O Espetacular Homem-Aranha vive de luto mas não parece crescer com a perda.

Justiça seja feita aos dois roteiristas, desde o filme anterior - cuja trama de conspiração envolvendo os pais de Peter é elucidada na continuação - já tínhamos um herói tratado com mimos, sob falsos dilemas. Esse é um legado de paternalismo deixado por Harry Potter no cinema de fantasia e aventura: protagonistas protegidos por um heroísmo hereditário (aqui Richard Parker literalmente diz ao filho que ele é "especial"), com coadjuvantes funcionais que resolvem boa parte das buchas (a tia e o pai que explicam a charada, a secretária da Oscorp que sabe mais que o filho do dono).

A certa altura, uma personagem diz que só ela é capaz de resetar um sistema, e por esse motivo, ela, a personagem, seria de fundamental importância na cena. Mas daí surge na tela a alavanca escrita "Master Reset", e o espectador pode acordar para a realidade: qualquer pessoa é capaz de ver e acionar a maldita alavanca! Essa cena sintetiza o falso senso de gravidade em que Orci e Kurtzman envolvem seus personagens, sempre fadados a pensar, diante da torcida, que são astros de um grande espetáculo.

 

- Marcel Hessel

 

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