Tempo atrás a Juventude Batista Brasileira já se interessava pelo engajamento social. Postamos aqui um texto publicado pela revista Ser Jovem da JUMOC em 1989.
Política é coisa suja?
A política tem recebido um julgamento público muito candente, face a comportamentos humanos dos que fazem política, não aceitos muitas vezes pela sociedade. Área de jogos de interesse - e que podem ser de todo lícitos gera as naturais dificuldades de vitória, projetando com isso o comportamento censurável dos que não pautam seu comportamento político pelos caminhos honestos. A intensa luta no campo das idéias, em que idéias têm que ser suplantadas, têm buscado muitas vezes soluções para os problemas dentro de composição de favores e interesses. Tais jogos não trazem, intrinsecamente, as cores da desonestidade, etapa só alcançada quando o querer dos litigantes assim desejar e assim se posicionar. Por esse mau comportamento vem assim a política, como arte, sendo condenada, por vezes cega a injustamente. De fato, a desonestidade é simplesmente humana e são os homens que buscam os maus caminhos que são muito mais e unicamente seus e não da política. Soluções políticas não são soluções desonestas, mesmo que não sejam soluções corretamente técnicas ou gerencias. As soluções políticas pairam acima das soluções citadas, buscando sempre o menos violento para o homem e para a sociedade.
Coisa suja ou coisa limpa, a política sempre será se os homens que com ela lideram forem sujos ou forem limpos. Política não é coisa suja, nem coisa limpa, mas acima de tudo é coisa séria, pois trata do governo dos povos, das nações, das sociedades, das famílias, das pessoas. Deixemos o olhar curto e alcemos nosso olhar para o horizonte deste mundo social extenso e intenso onde o cristão está colocado para ser agente de mudanças, cooperador na construção da sociedade, trabalhador que convive com Deus para construir sempre o melhor. Deixemos de lado o mesquinho egoísmo dos julgamentos pequenos e vitalizemos nossa função de sal da terra, no colaborar, em tudo que pudermos para construção de uma sociedade honesta, produtiva e forte. Nossa influência cristã não pode estar ausente.
Um cristão na greve
Quem o vê, panfletos debaixo do braço, mobilizando a categoria para a greve, pode duvidar que se trate de um crente. E quem o ouve, em plena assembléia dos portuários, iniciar uma assembléia acalorada lendo trechos da Bíblia, pode estranhar que ele seja um líder sindical. Mas vencendo dúvidas e estranhezas e desbravando um caminho novo, o jovem Jairo Louzada Dias, presidente do Sindicato dos Portuários do Espírito Santo e 1º Vice-moderador de uma grande igreja batista da Grande Vitória, conseguiu firmar-se na sua disposição de ser um instrumento de Deus no conturbado meio sindical, tornando-se assim... um cristão na greve.
Aos 24 anos, Jairo começou a trabalhar no porto de Vitória, limpando banheiro e servindo cafezinhos. Algum tempo depois, por concurso interno, chegou ao cargo de conferente. Neste cargo, reivindicando melhores condições de trabalho para si e para os colegas, caiu no desagrado da empresa. E foi assim, diz ele, que comecei minha experiência sindical, mais para fugir do desemprego do que qualquer outra coisa. A empresa já havia colocado a mim e a outros cinco numa lista e aguardava apenas a oportunidade de nos demitir. Era ano de eleições, e aceitei o convite para participar de uma das chapas que concorriam, pois a imunidade sindical seria a única coisa que me seguraria no emprego. Ganhamos e eu fui eleito para cargo de 2º tesoureiro.
Assim entrou par ao sindicato um homem que não acreditava em sindicatos. Na Marinha e no Próprio porto pintavam para ele a imagem do sindicato como sendo sinônimo de anarquia, corrupção, ambição e preguiça. Além disso, pesava-lhe o pensamento corrente em meios evangélicos de que cristão e política eram coisas que não se misturavam. Porém, seus olhos se abriram para o grande potencial de um sindicato levado a sério. Comecei a tomar gosto pela coisa e ver naquela trabalho uma oportunidade de beneficiar minha categoria com a reivindicação de seus direitos, mas também com o testemunho do evangelho.
Em 1984, depois de três anos de mandato, enfrentou uma nova eleição. Os colegas da classe diziam que ele puxava voto, porque o pessoal achava mais confiável votar num crente. E de fato ele foi reeleito, desta vez para o cargo de 1º secretário.
Além de sua própria reserva em relação ao sindicalismo, Jairo teve de enfrentar outros obstáculos para trilhar este novo caminho. Um dos maiores foi o que enfrentou na igreja. Apesar do apoio que minha igreja sempre me deu, é triste constatar como os crentes, as vezes, são desinteressados até mesmo avessos a atividade política, quer seja eclesiástica, partidária ou sindical. Na última eleição, convidei todos os portuários evangélicos para integrar a minha chapa e nenhum deles aceitou. Há aqueles que acham, por exemplo, inaceitável que o crente participe de greve. Deveria ser esclarecido que há greve política e há greve reivindicatória. Esta última é totalmente legítima. Dirigi quatro greves reivindicatórias nos últimos dois anos, todas bem comportadas, e não houve nada que as desabonasse.
Em 1987, Jairo Louzada Dias foi eleito presidente do Sindicato dos Portuários do Espírito Santo, com o triplo da soma de votos dos outros quatro concorrentes. Ele diz que o fato de ser crente contribuiu para isso. Várias pessoas, afirma, confiaram nele justamente pelo fato de ser crente.
Este crente encarava seu trabalho como uma missão. E tem dois apelos a fazer. O primeiro, aos crentes que desejarem ingressar na carreira política, para que tenham uma real consciência missionária de seu trabalho, resistindo ao comodismo e à corrupção; tendo convicção de que sua atividade é dirigida por Deus, pois se o líder cristão tiver essa consciência, seus liderados também terão. E o segundo, aos líderes denominacionais, para que invistam na formação política do povo batista, a fim de que haja sempre um servo de Deus envolvido em cada seguimento da sociedade como prefeito, deputado ou sindicalista, sendo sal e luz, testemunhando de Cristo e apressando a volta do Senhor.
Por Marcelo Rodrigues de Aguiar
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