Solteiros, sim. Ansiosos, não!

Solteiros, sim. Ansiosos, não!

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:05
solteiro“Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer” (Lc 12.22), nem sobre quando, com quem e se haveis de casar. Certo que essa não é uma sentença facilmente praticável, a vejo como um grande desafio. Como caminho sinuoso e confrontador. A maioria dos solteiros cristãos quer casar. Desejo legítimo e coerente. Contudo, muitos se veem cheios de ansiedade inquietante, enquanto isso não ocorre. Andam citando fervorosamente o salmo 40, projetando o matrimônio:
 
“Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele (…) me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama”.
 
Mas quem disse que estar solteiro é viver enlameando e em perdição? É aí que desvendamos a visão macabra que temos de um dos períodos mais construtivos da vida. Ideia que reforça nossa ansiedade. 
 
Somado a isso temos o arrocho evangélico “casamenteiro”, na qual o solteiro está no “deserto” e encontrará sua “metade” por meio de inúmeras tentativas amorosas, regadas às ameaças, quase proféticas, do tipo: “Vai ficar pra titia.” A pressão estimula a ansiedade, que, por sua vez, denuncia uma imaturidade generalizada.
 
Esses dias li um texto bem pertinente da colunista Marta Medeiros que dizia: “A maturidade traz ganhos reais. A ansiedade diminui, a teatralidade também: já não vemos sentido em agradar a todos.”*
 
É isso mesmo. No teatro forjado pelos esquemas e na cronologia de terceiros nos contorcemos em malabarismos relacionais – por vezes, sexuais – para estarmos dentro dos padrões.
 
Quando mesmo assim o casamento tarda, vivemos “pré-ocupados” ou “pré-habitados” pelo futuro. Enjaulados nele, nos furtamos do único patrimônio que nos foi divinamente emprestado: o presente. No fundo, a ansiedade é como tentar, arrogante e ineficazmente, roubar o inviolável. Adquirir senhorio do que só pertence ao Eterno: o amanhã. Logo, basta-nos aceitar que, diante do porvir, somos ignorantes.
 
 “Vós não sabeis o que sucederá amanhã (…) Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”. (Tg 4.14).
 
Tais palavras são destruidoras. Deixam em ruinas nossa soberba. E nos humilham ao revelar que não temos controle sobre o que vamos fazer depois que os ponteiros do relógio andarem. E mais:
 
“Ao invés disso, devíeis dizer: se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15).
 
Se você anseia diminuir a ansiedade com relação ao casamento terá que admitir em oração alguns fatos: tudo que tenho é o hoje. Tudo que ignoro se chama futuro. Tudo que quero é o que o “Senhor quiser”. E, pra tudo que queres, há um tempo e um modo (Ec 8.6). Já que o hoje acima citado atende pelo nome de solteirice e abstinência sexual, pensemos sobre elas.
 
Solteirice e abstinência sexual
 
A solidão e as tentações sexuais, realmente, tendem a aumentar a escala da inquietude. Criando a impressão de que quando nos casarmos seremos catapultados para uma dimensão mágica plena de companhia infalível. E, de uma vida sexual “messiânica”, que nos salvará de todas as paixões lascivas do mundo, afinal, com sexo lícito e regular “todos nossos problemas acabarão”.
 
Essa expectativa “tabajara” é mentirosa (desculpe, não consegui evitar a piada). O rei Davi não deixou de pecar sexualmente, apesar de ser casado com algumas mulheres. E, José do Egito, mesmo na “seca” sexual, fugiu de uma senhora bem provocadora. Adão pecou no jardim (lugar tranquilo) comendo a fruta. Daniel decidiu não se contaminar na Babilônia (território pagão) comendo legumes.
 
Isso nos mostra que o ambiente no qual vivemos e nosso estado civil, apesar de nos influenciarem, são apenas duas das diversas variáveis inseridas na complexa decisão diária de permanecermos sexualmente puros. Colocando em termos claros: se um solteiro não está disposto a arrepender-se e aprender com o Espírito Santo como fugir da imoralidade, não estará interessado nisso quando casar. E, as tentações com relação à pornografia, masturbação e relações sexuais indevidas seguirão presentes. Viver com estas expectativas irreais engrossa ainda mais o rio da ansiedade. E, isso, por sua vez, enfraquece a busca pela pureza sexual do solteiro. O erro está em colocar em outro ser humano e nas circunstâncias o senso de plenitude.
 
Para acalmar os corações ansiosos e, simultaneamente, prepará-los para as dificuldades do mundo dos não casados, gostaria de citar o conceito apresentado por Brennan Manning, no qual a confiança em Deus é vista como a somatória entre fé e esperança. A fé na pessoa de Cristo e a esperança na sua promessa. Jesus nos garantiu a “promessa de sua presença (‘Estou convosco todos os dias…’), e a presença de sua promessa (‘Cristo em você agora e sua esperança da glória ao longo da vida’)”.**
 
Isso significa que não seremos poupados das tentações sexuais e da solidão ocasional, mas Cristo está ali sempre, porque sua presença foi prometida.
 
Também quer dizer que a fidelidade de Cristo poderá ser comtemplada em qualquer instante e nos saciará. Como a glória que enche o templo e o “satisfaz”. Ele é a promessa completa de Deus, sempre acessível a nós. Uma promessa já realizada que nos habita e nos faz confiar. E, só a confiança destrói a ansiedade. Portanto, por meio da confiança e da satisfação em Cristo, é possível deixar de andar ansioso com relação a quem haveremos de casar ou transar, pois, no fundo, o contrário disso seria um “anti-andar”, uma paralisia. É melhor mover-se confiante. Pleno. Cheio.
 
Como Jesus que, apesar de solteiro,
sorriu,
dançou,
protestou,
trabalhou,
estudou,
produziu,
serviu,
emocionou,
foi emocionado,
investiu,
discipulou,
amou,
foi amado,
e viveu no presente livre do futuro.
 
 
Notas
* MEDEIROS. Martha. A graça da Coisa. Ed. LePM. Porto Alegre – RS. 2013.
** MANNING. Brennan. Confiança cega. Ed Mundo Cristão. São Paulo- SP. 2009.
 
 
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David Riker 

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