Se alguém vem a mim e não "odeia" (miseo) a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
O texto acima são palavras de Jesus Cristo, registradas no evangelho segundo Lucas, no capítulo 14.26. O termo entre parênteses, utilizado no original grego, significa literalmente odiar. Contudo, muitas vezes é traduzido para o nosso português com uma intensidade muito mais branda do que a realmente utilizada por Jesus.
Considerando então, as palavras originais do Senhor, alguém pode pensar: "Quão paradoxal é o discurso de Jesus! Não é Ele quem disse que temos que ?amar o próximo como a [nós] mesmos? ?. Como, pois agora Ele nos diz que temos que odiar nossa família para sermos seus discípulos?" Será que temos que criar inimizade com nossa família para seguir Jesus? Absolutamente que não. Porque se assim o fosse, o próprio Deus ter-nos-ia feito nascer sozinhos, sem uma família. Você não acha?
Na verdade, é muito simples entender o que Jesus requer daqueles que querem ser seus discípulos. Para isso, vamos verificar alguns versos de Deuteronômio capítulo 13: " 6 Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu amor, ou teu amigo que amas como à tua alma te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a outros deuses, que não conheceste, nem tu, nem teus pais, 7 dentre os deuses dos povos que estão em redor de ti, perto ou longe de ti, desde uma até à outra extremidade da terra, 8 não concordarás com ele, nem o ouvirás; não olharás com piedade, não o pouparás, nem o esconderás, 9 mas, certamente, o matarás. A tua mão será a primeira contra ele, para o matar, e depois a mão de teu povo. 10 apedrejá-lo-ás até que morra, pois te procurou apartar do Senhor, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão...."
Vale ressaltar que Deus não está pedindo para cometermos homicídios. Então, qual a conexão desse árduo trecho da Lei dada a Israel, com as palavras de Jesus em Lucas! Saiba que aqui está a chave para o êxito, em todos os níveis, de nossos relacionamentos. E é exatamente onde uma boa porção de crentes tropeça.
O que Jesus requer na sua fala é uma total fidelidade a Ele, e automaticamente, aos mandamentos do Pai. Não dá para separar o Filho de Deus, das ordenanças de Deus. Vamos rever o contexto onde Jesus emitiu sua fala em questão. Segundo o evangelho, no verso 1, Ele entrou "na casa de um dos principais fariseus para comer pão". Lá, chegaram vários convidados do religioso.
Ao longo do episódio, o Senhor permaneceu observando como tais pessoas agiam e reagiam perante várias situações. Supostamente, todos estavam ali para verem o Homem que anunciava as Boas Novas do reino de Deus. Sendo assim, mediante o comportamento de muitos, Jesus libera as impactantes palavras, que estabeleceram, de uma vez por todas, os limites entre a devoção real a Ele e a mera religião. Isto é, embora os textos da Lei, exigiam total amor e fidelidade ao Deus de Israel, os ouvintes de Jesus, já não sabiam mais, com discernimento, como se relacionarem com Deus. Pois, não O tinham como seu foco principal. Eram meros homens da Lei. Já não eram mais fiéis, como se esperava.
Por isso, o Mestre "direciona como que um espelho", para lhes mostrar o que estava em seus próprios corações. Jesus não estava dizendo que eles (ou nós) deveriam (os) ter um sentimento ruim pela família. O que aprendemos na fala do Senhor é que há um nível de comparação entre o amor que se deve ter por Jesus e o amor pela família. Em outras palavras, o amor que Jesus espera de nós deve ser infinitamente superior, se comparado com qualquer outro amor. De forma que o outro amor parecerá ódio.
Primeiramente, devemos investir tudo em nosso relacionamento com Jesus. Por isso, Ele propõe as parábolas do construtor de torre e do rei, no mesmo contexto de Lucas 14. Isto é, temos que aplicar tudo que temos e somos em Jesus. Amá-Lo com todo nosso coração, força e entendimento. Quando assim fazemos, passamos a amar tudo que Ele ama. A querer tudo que Ele quer.
Deste modo, nossa família se tornará preciosa cada vez mais. Pois, a amaremos como o próprio Jesus o faz. Saberemos como nos relacionar com nossa família por amor de Jesus. Teremos a mesma graça e mansidão para lidar com as dificuldades do nosso lar. E por fim, pagaremos o preço de carregar a mesma cruz pela redenção da nossa casa.*
Jean Carlos é pastor, cursou seminário teológico; professor e interprete da língua Inglesa - graduado em Letras (UFMG); colunista da Revista Cristã. Casado com Katy Bastos com quem tem um casal de filhos.
Contato: [email protected]
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