Eu sempre fui atraído pela beleza das bolhas de sabão. Aquelas que as crianças gostam de fazer. Admiro pela leveza contida nelas e por sua beleza caleidoscópica. Filosofia é a arte de encontrar na simplicidade de uma brincadeira de criança um jeito novo de encantar-se com a vida. O monótono será sempre uma brincadeira de gente grande (adultos) que perdeu a criatividade e a poesia e já não consegue parar para o encanto da bolha de sabão. Outro dia vi um adulto chateado com a arte de uma criança que soltava bolha de sabão. Dizia que estava sendo molhado. Mas percebi também adultos brincando com a mesma chuva de bolha de sabão. Nesses momentos dá para perceber quem está amando e quem vive amargurado na vida!
Somos a geração bolha de sabão. Não pela leveza e nem por sua beleza caleidoscópica. Quem dera que fosse por isto! Somos bolhas de sabão pelo seu lado trágico. A bolha de sabão é formada pelo intenso vazio interior e pela incrível capacidade de explosão.
Nós, geração bolha de sabão. Mergulhados num vazio crônico que nos agride e causa-nos perturbação. Existe em nós uma inquietação, desejos incontidos e insaciáveis. De homo sapiens (penso, logo existo) transformamo-nos em homo consumens (consumo, logo existo). Tudo se tornou alvo de consumo - de uso e abuso. Vampiros que estão fadados a viverem a inquietação da sede sem serem jamais saciados em sua existência. Buracos negros que a tudo engolem e destroem!
Geração bolha de sabão. Imensamente vazia e extremamente explosiva! Um simples toque é o suficiente para causar uma explosão de nervos, de temperamento e de egos. Tudo é alfinete na festa de aniversário! As bexigas coloridas e enchidas na expectativa da festa, agora existem sob a fragilidade da existência do alfinete.
Perdemos ao longo dos anos a leveza e beleza da vida e ficamos somente com o explosivo vazio. Esse explosivo é o resultado do vazio. Vazio nascido da certeza de que "tudo o que está próximo se distância" (Goethe). Sim. A certeza de que tudo vai nos abandonando. E, nós, ficamos enraivados porque não dominamos o tempo. A areia corre entre nossos dedos. A ampulheta não pára: a areia cai, a vida se esvai!
É necessário e urgente recuperar a leveza e beleza da vida. Ser bolhas de sabão que se sabe efêmeras, mas se sabe, também, portadora da capacidade de voar ? sem asas ? e de refletir o colorido da vida pelo seu corpo. E resgatar, assim, a capacidade de sonhar em qualquer momento ou época. Aqueles que ainda não aprenderam a sonhar haverão de dormir depois de noites e noites de insônia e perceberem a doçura da massagem do travesseiro no rosto e o encanto da escuridão no corpo.
Não importa que a bolha de sabão nasça para explodir no nada. Ela é lembrada pela leveza e beleza. Como dizia o filósofo e pedagogo Rubem Alves quando quis afirmar a força da vida: "A vida, pelo mundo todo, e a despeito da morte que vai comendo corpos, florestas, mares e rios, continua a se afirmar teimosamente como uma planta que nasce numa fenda de rocha".
Se você nasceu entre fendas de rocha (lar sem amor e vida sem valor) ainda é possível viver o sorriso. O dom da vida é mais forte que a dureza das pedras do caminho. O sol vai nascer amanhã e você tem a capacidade de sorrir e jamais isto será tirado.
Bolhas de sabão: você pode ser soprado pelo Espírito Santos de Deus. Na fragilidade de sua vida Deus fará da fraqueza a força, do choro o sorriso e da tempestade um raio de sol. E novamente uma criança soprará e bolhas de sabão se espalharão para todos os lados: é tempo de brincar novamente!
Rev. J. A. Lucas Guimarães é historiador e pastor-auxiliar da Igreja Presbiteriana de São Vicente/SP e tem experiência em implantação e consolidação de igrejas. Mestrado em Teologia (concentração em Bíblia), especialista em História e Sociologia e bacharel em Teologia. Possui licenciatura em História e em Ciências da Religião e cursa mestrado em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo/SP.
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