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Saúde

A internet mudou a maternidade

A internet mudou a maternidade

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:24

Quantas vezes você acessa a internet por dia? Consegue imaginar seu cotidiano sem procurar por respostas nos mecanismos de busca, fazer compras online e visitar ocasionalmente – ou compulsivamente – as redes sociais? A internet mudou radicalmente a vida dos 2,095 bilhões de pessoas que tem acesso a ela, de acordo com dados do Internet World Stats, mas um grupo social parece especialmente afetado pelas possibilidades da web: o das mães.

Ser mãe, hoje, é uma experiência bem diferente daquela vivida pelas mulheres há meros dez anos. Uma pesquisa conduzida pelo Google em parceria com o site especializado “BabyCenter.com”, em março deste ano, revelou que o simples fato de ter um filho faz dobrar o número de buscas feitas na web por uma mulher. Por ser um período de muitas dúvidas e incertezas, as novas mães buscam na rede por soluções.

“Tudo o que a mulher precisa saber ela digita no Google e encontra. Você tem muito apoio, muita informação para ajudar”, explica a terapeuta familiar Marina Vasconcellos. Além disso, Marina destaca que a web pode ser essencial na solução de um dos maiores problemas de quando se tem um filho: a solidão. “Você fica o dia inteiro em casa, cuidando do bebê, mas tem a possibilidade de conversar com milhares de pessoas”, diz.

“As grávidas entram na internet em busca de informação e conforto”, resume Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisa da Psicologia e Internet da PUC São Paulo. Ao encontrar virtualmente outras pessoas vivendo o mesmo momento, elas se sentem acolhidas.

Trocando em miúdos

É de casa que a jornalista Roberta Lippi, 35 anos e mãe de Luísa e Rafaela, escreve no Mamatraca. O site foi criado há um mês, mirando o público materno. “A ideia é discutir questões reais. A gente traz nossas próprias informações e também de outras mães e especialistas”, esclarece.

Projetos como este são comuns nos Estados Unidos. Existe uma série de redes sociais voltadas especialmente para as mães, e eles são ainda mais específicos: mulheres grávidas, mães que trabalham e mães executivas são alguns dos públicos que têm seu próprio site para socialização. Só o “SocialMom.com”, por exemplo, contabiliza mais de 35 mil membros.

No Brasil, o mais próximo que se tem disso é o e-familynet, no ar há 11 anos. “O e-family conectou mulheres de toda a parte do mundo que estavam passando pela mesma situação, tendo as mesmas dúvidas, mesmas esperanças”, explica Paula Rayman, administradora dos fóruns do site. “Muitas chegam desesperadas em busca do esclarecimento de uma dúvida que, muitas vezes, nem podem compartilhar com familiares ou amigas”. Segundo Paula, o site tem cerca de 400 mil membros inscritos.

Foi justamente em busca de informação e compreensão que a confeiteira Tylza Rodrigues, de 34 anos, fez um perfil na rede social em 2008, quando ficou grávida. “Nunca tinha cuidado de uma criança, tinha muitas dúvidas”, revela. Como a família parecia sempre muito ocupada e sem tempo para conversas mais aprofundadas, Tylza recorreu à internet, onde encontrou mulheres passando pela mesma situação.

Nos fóruns, onde se discutem todos os assuntos que possam interessar às grávidas e novas mães, Tylza encontrou novas amigas. “A gente se afasta muito das amizades quando engravida. O e-family acabou suprindo essa falta”, diz. Dois anos depois de se relacionar online com outras grávidas que estavam no mesmo estágio da gestação, o grupo resolveu se encontrar no Rio de Janeiro. “Foi muito divertido, éramos muito amigas, mas nunca tínhamos nos visto pessoalmente”.

Para Marina, o fenômeno desta aproximação é explicada pela troca que a rede possibilita. “Uma aprende com a experiência da outra e todas crescem juntas”. Roberta concorda: “Com a troca de experiências, você forma melhores opiniões”. Hoje, as mães fazem escolhas sobre a educação e criação dos filhos baseadas em pontos de vista e conteúdos muito além dos costumes da família ou do último best seller sobre o tema.

Encurtando distâncias

A atriz Danielle Farenzi, 38, pouco entendia de computador e tecnologia quando ficou grávida de seu único filho, Pedro, em 2004. Foi justamente a gravidez que a fez se interessar pelo assunto. “Eu tinha muito tempo livre e meu marido, na época, era louco por tecnologia. Ele me deu a ideia de fazer um blog sobre o assunto”, diz.

Com o blog Gestacional, que deixou de ser atualizado pouco antes de o bebê completar dois meses de idade, Danielle pôde “fazer uma caricatura escrita” da gestação, como gosta de dizer. Mas a internet se provaria ainda mais útil em outras situações. “Chegou a uma altura, durante a gravidez, que eu me sentia grande demais para sair de casa, aquilo era o meu mundo”. Por isso, a artista passou a trabalhar da sala de estar. “Quando tinha que fazer alguma locução ou dublagem, eu podia fazer isso do meu próprio computador”, relata.

Quando o casal se separou, a web serviu como uma maneira de se conectar com o pai da criança, músico que viajava constantemente. “É uma janela que aproxima a gente”, diz Danielle. Pelo Skype, Danielle e Pedro podiam ver como estava o pai, independentemente de onde ele estivesse: Manaus, Paris ou Moscou.

Moderação

“Às vezes passo muito tempo no computador, olhando meus perfis no Orkut e no Facebook, e acabo não dando atenção para a minha filha”. A fala de Tylza ilustra um dos principais efeitos colaterais da internet: a imersão total no universo virtual.

“O computador é ótimo para passar o tempo, mas não pode esquecer que o contato pessoal é primordial e tem que ser vivenciado”, explica Denise Diniz, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Qualidade de Vida da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP). Ao observar que está passando a maior parte do seu dia online, cuidado. Talvez seja melhor procurar ajuda profissional. “Entrar na internet não pode ser compulsório”, finaliza ela.

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