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Brasil é líder no consumo de remédios para emagrecer

Brasil é líder no consumo de remédios para emagrecer

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:32

O Brasil está novamente no primeiro lugar mundial no consumo per capita de medicamentos chamados anorexígenos, aqueles que reduzem o apetite. De acordo com o relatório divulgado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), órgão das Nações Unidas, o Brasil é o maior consumidor

desses medicamentos, há três anos consecutivos. Atrás do Brasil estão Argentina, Coréia, Estados Unidos, Cingapura e Hong Kong.

As drogas citadas no relatório, que acaba de ser publicado, inibem o apetite ou a sensação de fome e constam de uma lista preparada durante a Convenção Internacional de Psicotrópicos de 1971. "Dessa lista, as drogas utilizadas no Brasil e que respondem pelo indesejável ranking brasileiro são o femproporex, a anfepramona e o mazindol, drogas que somente devem ser receitadas por médicos prescritores que tenham estudado cuidadosamente os riscos e benefícios das mesmas", defende a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.

Riscos x benefícios das drogas anorexígenas

Os anorexígenos são as drogas mais antigas do arsenal para o tratamento da obesidade. São assim denominadas por serem derivadas de compostos químicos chamados de anfetaminas que detinham um grande potencial para causarem dependência química. "A tendência é que elas sejam progressivamente abolidas do nosso receituário com o surgimento de compostos menos agressivos e mais potentes. Foram muito importantes até dez anos atrás, quando não contávamos com nenhum outro tipo de medicamento para esse fim", diz a endocrinologista Ellen Paiva.

Os efeitos das anfetaminas se dão através de ação cerebral, elas agem nos neurônios responsáveis pela fome, bloqueando-os. Reduzem a fome com efeito de intensidade variável, muito intensamente em alguns pacientes e quase nada em outros. "Os anorexígenos têm a seu favor o poder no controle da fome, o que muitas vezes inviabiliza o seguimento de uma dieta. Contrário a eles, existe o fato de poderem causar grande excitabilidade do sistema nervoso, levando a comportamentos compulsivos e intolerantes. Estas drogas também interferem no sono e quando em uso prolongado podem causar dependência química", explica a médica.

Até dois meses atrás, os anorexígenos podiam ser usados em associação com ansiolíticos e antidepressivos, tornando ainda mais questionável a associação terapêutica que excita e deprime ao mesmo tempo. "Quando são suspensos, geralmente, surge uma grande sensação de cansaço físico, indisposição e sonolência", diz a médica.

Prováveis causas do problema

"Após este 'tri-campeonato', terceiro ano consecutivo atingindo o posto número um no consumo mundial dessas drogas, devemos parar e nos perguntar o porquê desse uso abusivo", pondera Ellen Paiva.

Segundo a médica, provavelmente, as causa são variadas. Englobam desde a ignorância do paciente - que solicita veementemente uma droga que o ajude a perder peso - não importando os danos possíveis, até a própria displicência do médico - quando este cede a esse apelo no sentido de ajudar o paciente ou até mesmo não perdê-lo - porque na maioria das vezes, o paciente tem acesso a estes medicamentos, por outro médico ou até mesmo sem receita alguma, em farmácias e sites que vendem clandestinamente esses medicamentos.

"O uso abusivo dos anorexígenos também está relacionado ao surgimento dos ideais absurdos de magreza, muito difíceis de serem alcançados e mantidos sem o uso de drogas anoréxicas. Também é causa do problema a falta de ações fiscalizadoras dos órgãos competentes, visando coibir o uso abusivo", defende a endocrinologista. O consumo de anorexígenos no Brasil também é alavancado pela volumosa produção doméstica. Em 2005, segundo o relatório da JIFE, 98,6% do femproporex e 89,5% da anfepramona usados no mundo foram produzidos no Brasil, sendo que a maior parte desta produção foi consumida em território nacional.

A reação da ANVISA

A ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - órgão responsável pela fiscalização dos medicamentos, vem implementando ações no sentido de coibir o abuso destes medicamentos, fato mundialmente conhecido e motivo de constrangimento para todos os brasileiros, especialmente para a classe médica relacionada ao tratamento da obesidade.

Segundo a diretora do Citen, várias ações foram implementadas pelo órgão, incluindo a proibição das associações medicamentosas que produziam fórmulas milagrosas com a associação de anorexígenos, ansiolíticos, antidepressivos, diuréticos, hormônios tireoideanos e toda a sorte de fitoterápicos, gerando formulações intermináveis e totalmente questionáveis em validade terapêutica e quanto ao risco ao paciente. "Foram estipuladas doses máximas permitidas, quantidade mensal de cápsulas ou comprimidos, novos receituários específicos para esses medicamentos e finalmente a implantação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados - SNGPC - com a obrigatoriedade do envio de informação por parte de todas as farmácias - incluindo as de manipulação - para a ANVISA. As farmácias devem informar as vendas do período, dados dos medicamentos, médico prescritor e paciente que compra a medicação", diz Ellen Paiva.

Além disso, a ANVISA também firmou convênio com a Polícia Federal para localizar e tirar do ar os sites brasileiros que vendem anorexígenos de maneira ilegal. "Espero que essas medidas nos auxiliem a mudar a posição no ranking do uso destes medicamentos, pois este primeiro lugar nos envergonha. Gostaríamos de chegar a 2009 e receber o novo relatório da JIFE com a cabeça erguida, orgulhosos da nossa capacidade para reverter esse triste cenário", afirma Ellen Paiva.

Emagrecer, sem remédios, é possível

Ao decidir emagrecer, o paciente deve ser orientado a iniciar uma dieta balanceada e evitar o uso e o abuso de medicamentos. Muitas vezes, o paciente se surpreende com a relativa facilidade de seguir uma dieta, quando esta foi preparada exclusivamente para ele, respeitando suas preferências e seu estilo de vida. "Precisamos de uma dieta que viabilize a perda de peso e a boa nutrição ao mesmo tempo. Parece utopia, mas é possível, quando médico, nutricionista e paciente se mobilizam em prol de uma forma saudável e eficiente para perder peso", defende Ellen Paiva.

Além disso, destaca a médica: "após o emagrecimento, os pacientes que perderam peso sem medicamentos têm muito mais chances de manterem o peso. Pois estas pessoas passaram por um processo de aprendizado e de reeducação alimentar, que, muitas vezes, é invibibializado, quando os medicamentos estiveram presentes ao longo da dieta", afirma.

Postado por: Claudia Moraes

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