A professora Kátia Lima, 27 anos, sempre foi do tipo que evita entrar em conflitos, não gosta de expor sua opinião, foge de polêmicas, tem dificuldade para dizer não e dificilmente responde a alguma provocação. Ela só percebeu que esse tipo de atitude estava tendo reflexos na balança ao procurar uma psicóloga.
Estava com muitos problemas e decidi procurar ajuda. Precisei de quatro meses para me conscientizar que só dizia sim para as pessoas, mesmo que isso custasse meu tempo ou que fosse contra a minha vontade, relata. Essa era a origem de vários problemas.
Os bonzinhos, como a própria Kátia se define, constituem o principal perfil dos que sofrem com os efeitos de tanta solicitude nos ponteiros da balança. São pessoas que costumam ignorar suas vontades a fim de não gerar mágoas.
Cuidar demais dos outros faz com que não sobre energia para cuidar de si. O ato de se colocar em último lugar e fazer só o que os outros querem, dá a sensação de ser enganada, o que pode gerar a vontade de comer mais ou demais, explica a terapeuta cognitivo-comportamental norte-americana, Karen R Koenig, em seu livro Engolir sapo pesa na balança (Ed. Best Seller).
O sentimento de ser enganado, ou ainda, manipulado pelo outro, gera raiva, insegurança e submissão.
A pessoa entende que, se não fizer daquele jeito, pode ser rejeitada socialmente. Isso leva a ansiedade e o alimento, nesse contexto, é visto como uma válvula de escape, afirma a psicóloga e nutricionista Eliana de Almeida.
Quando a frustração se torna constante e as emoções não são trabalhadas, a alimentação se torna compulsão, levando facilmente à obesidade, alerta.
Encontrar o equilíbrio
Romper o vício de ajudar mais do que ser ajudado e aprender a dizer não é difícil e exige determinação, esforço e, principalmente, vontade genuína de mudar.
É necessário usar inteligência, coragem, motivação, disposição, obstinação, ou seja, as mesmas qualidades utilizadas para ser boazinha com os outros, escreve Koenig.
Kátia vem tentando mudar de atitude há um ano e diz que ainda hoje se sente desconfortável em situações que exijam uma nova postura.
Algumas pessoas se afastaram de mim e isso dói. Tenho vontade de fazer qualquer coisa para que se aproximem de novo, mas não posso abrir mão de mim pelos outros, relata. Nesse tempo, a professora conseguiu controlar sua alimentação com mais tranquilidade e já emagreceu quatro quilos.
Acho que estou menos sufocada, mais livre e mais dona de mim. Isso me dá segurança e força de vontade para não cair nas tentações, completa.
Eliana confirma que o processo é doloroso. Assim que começam a expressar suas opiniões, elas passam a ser rejeitadas por algumas pessoas. Os que estão a sua volta, acostumados com a Madre Teresa de Calcutá, vão estranhar a mudança e refutá-la. É difícil lidar com essa rejeição também, afirma. Por isso, a psicóloga enfatiza a importância de uma equipe multidisciplinar no tratamento da obesidade. Não adianta fazer dieta, dizer o que pode e o que não pode comer se não tratarmos a raiz do problema. É preciso cuidar do lado psicológico junto com a reeducação alimentar, frisa.
Em seu livro, a terapeuta Karen Koenig dá dicas do que fazer e do que não fazer para quebrar a relação entre estresse e comida:
Não faça:
- Deixar que as pessoas definam o que faz de você uma pessoa boa, altruísta e gentil
- Evitar o tempo livre porque se sente pressionada a ser produtiva e útil
- Preocupar-se com o que pensarão a seu respeito
- Deixar de cuidar de si porque isso é egoísmo
- Acreditar que a única forma de mostrar às pessoas que se importa com elas é resolvendo o problema delas ou ajudando-as em qualquer situação
- Ficar preocupada se alguém não gostar de você
- Dizer sim, quando a melhor resposta para cuidar de você seria dizer não
Aprenda a:
- Agir de forma a ter boa autoestima e capacidade de cuidar de si
- Reconhecer que você pode ser egoísta sem deixar de ser generosa e carinhosa
- Parar de procurar elogios alheios e se valorizar
- Assumir as responsabilidades pela sua felicidade e deixar os outros serem responsáveis pela deles
- Aceitar que é possível ser uma pessoa boa independente de ser produtiva ou útil
- Reconhecer que é uma pessoa boa mesmo quando não ajuda ninguém
- Parar de esperar aceitação ou elogios
- Ter compaixão consigo
- Cultivar hábitos positivos que vão elevar a autoestima e quebrar a relação entre estresse e comida
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