As respostas errôneas do sistema imunológico também podem atingir órgãos importantes, como o fígado. O sistema de defesa do corpo provoca inflamação crônica, atacando o fígado e levando à formação de fibrose. Cerca de 10% de todas as hepatites crônicas tratadas nos centros de referência do país são auto-imunes, de acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia.
Os números, que parecem reduzidos, estão longe de representar a realidade. O Brasil tem poucos hepatologistas e a doença é subdiagnosticada. Infelizmente, o diagnóstico tardio é a regra, afirma o presidente da SBH, Raymundo Paraná.
Na maioria dos casos, a doença só é identificada quando há comprometimento do órgão. Normalmente não há sintomas característicos, mas o paciente pode apresentar cansaço, pele e mucosas amareladas (icterícia), náusea e dores abdominais e articulares.
Não há um exame específico capaz de identificar a hepatite auto-imune. Os médicos indicam uma avaliação hepática simples, por meio de exames de sangue, com determinação de marcadores específicos e aliam a características clínicas.
Elas
Esse tipo de hepatite é três vezes mais comum em mulheres do que em homens. Elas estão mais propensas a doenças auto-imunes em todos os órgãos e tecidos do corpo. O motivo ainda é desconhecido, explica o hepatologista. Os médicos já identificaram, porém, as idades em que a doença é mais prevalente: em mulheres entre 15 e 25 anos e aquelas na pós-menopausa.
A gastroenterologista Debora Raquel Benedita Terrabujo, em seu estudo 20 anos de hepatite auto-imune no Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), acompanhou 268 pacientes atendidos no período. A idade média de diagnóstico foi de 29 anos.
Para Paraná, justamente por esse caráter feminino, os ginecologistas são os grandes aliados na luta contra a doença. Estamos trabalhando juntos para que esses profissionais solicitem os exames às mulheres a partir dos 45 anos, diz.
Tratamentos
Reconhecer a hepatite auto-imune e diagnosticá-la precocemente evita a cirrose hepática, alerta Paraná. Os tratamentos disponíveis são o corticosteroide e a azatioprina, ambos disponíveis na rede pública de saúde, que podem ser ministrados individualmente ou concomitantemente.
A doença é responsável por até 3% dos transplantes hepáticos em crianças e 4% a 6% em adultos nos EUA e Europa. No Brasil, de acordo com levantamento do estudo 20 anos de hepatite, 26,9% dos transplantados enfrentaram a volta da hepatite em quatro anos.
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