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Saúde

O que sua voz diz sobre você?

O que sua voz diz sobre você?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:07

A fala das pessoas reflete diversos aspectos da personalidade Eu estava ontem no consultório de um amigo dentista. O telefone tocou e, como a recepcionista estiva ocupada, atendi.

Fui surpreendida por um telefonema, no mínimo, intrigante. Nele, uma moça aparentando vinte e poucos anos, pedia para agendar um horário com o dentista.

Solicitei o nome e número de telefone da tal moça.

"Roberto", "ela" disse. "Roberto??" Perguntei, certa de tratar-se de um mal entendido. "Roberto", "ela" repetia assertivamente.

Fiquei alguns instantes sem saber como prosseguir, como daria tal recado ao dentista, um senhor de setenta anos? Decidida a esclarecer de vez o assunto, soltei mais uma pergunta: "Então é para outra pessoa que você está querendo marcar?".

"Não, é para mim mesmo" respondeu "ela", "ele" (sei lá!), não sem um risinho nervoso que não pude deixar de perceber e, discretamente, corresponder. Anotei prontamente o nome e telefone, confirmei o número duas vezes e despedi-me cordialmente.

Só me restava passar o "abacaxi" ao doutor, avisando que não havia entendido nada! E foi o que fiz, narrei o ocorrido e terminei sugerindo que ele chamasse por "Robert_" ao telefone, assim mesmo, sem emitir a última vocal. Também levantamos algumas hipóteses: "Travesti? Criança? Trote?". Por que isso? Porque aquela voz não combina com aquela pessoa. Provavelmente, se "Roberto" fosse ao meu consultório como paciente, eu iria imaginar sua queixa com relação à voz no momento em que ele abrisse a boca para falar "Olá".

Qualquer emissão humana, desde uma fala encadeada, cantada, até uma simples exclamação, como um "Olá", um grito ou suspiro, traz com ela informações do indivíduo que a transmite, ou seja, cumpre uma função comunicativa. Já em 1934, um famoso pesquisador alemão (Karl Bühler), enumerou três principais funções:

1. Função de representação - a voz comunica alguma coisa, ou seja, seu uso está relacionado ao conteúdo da mensagem verbal;

2. Função de expressão - a voz revela alguma coisa do falante, como sua idade, seu nível sócio-econômico-cultural, seu estado emocional, entre outros.

3. Função de apelo - a voz deseja e provoca uma reação no ouvinte, o que significa que existe sempre uma intenção, freqüentemente inconsciente, no tipo de voz que se utiliza no discurso.

Podemos citar como exemplo uma pessoa que, ao caminhar chuta uma pedra e emite o grito "AI!". Se eu estiver aqui no escritório de minha casa e escutar esse grito, imediatamente, estimulada pela minha audição, tecerei as seguintes considerações:

1. Alguém está com dor (representação);

2. Este alguém é do sexo feminino e deve ser jovem (expressão);

3. Sinto pena dessa pessoa (apelo). Assim, a voz é o veículo de nossa inter-relação, de comunicação, um meio de atingir o outro.

É assustador ver um louco que fale sozinho pelas ruas, simplesmente porque não há o outro. A voz é o "tato à distância", motivo pelo qual certas vozes nos tocam mais profundamente do que outras, dando à mensagem por ela expressa um significado mais especial. É uma experiência diária o fato de identificarmos uma pessoa pela sua voz.

Quando falamos ao telefone com alguém que não conhecemos vai se formando em nossa mente uma série de imagens que nos permitem visualizar nosso interlocutor. O refinamento deste processo é tal que, além de atributos mais simples como sexo, idade e procedência, chegamos a projetar, por vezes, o tipo de estrutura física e as expressões faciais do falante. Isso posto, a revelação do nome "Roberto" naquele contexto foi, sem sombra de dúvida, o mais completo anticlímax de nosso pequeno diálogo.

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