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Saúde

Telefone celular pode provocar dor de cabeça?

Telefone celular pode provocar dor de cabeça?

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

Estudos recentes com indivíduos saudáveis mostraram que o campo eletromagnético de um telefone celular é capaz de provocar discretas e transitórias mudanças em padrões neurofisiológicos como a excitabilidade cerebral e seu fluxo sanguíneo. Além disso, algumas pessoas queixam-se de dor de cabeça quando usam o celular e pesquisas então foram desenvolvidas para avaliar se o uso realmente causa tal mal estar. Indivíduos com queixa de dor de cabeça ao usar o celular foram estudados, sendo que uma parte deles foi exposta a um aparelho normal e outro grupo a um aparelho que filtrava o campo eletromagnético, ou seja, um modelo experimental que pode ser chamado de placebo. Ambos os tipos de aparelho provocaram o mesmo nível de desconforto nos participantes. A melhor explicação para a dor de cabeça associada ao uso de celular é o efeito nocebo.

A origem do termo placebo é o verbo placere do latim que significa agradarei. A simples expectativa positiva de que um tratamento pode nos fazer bem já é capaz de provocar mudanças fisiológicas em nosso corpo e esse é o chamado efeito placebo. E será que a expectativa negativa diante de alguma ação ou tratamento também é capaz de provocar mudanças fisiológicas e sintomas?

A visão pessimista de que alguma coisa pode nos fazer mal também pode provocar efeitos negativos que também têm seu nome: efeito nocebo, também do latim e significa prejudicarei. Essa expectativa negativa é a provável explicação para alguns dos efeitos adversos de medicações e outras formas de tratamento. Apesar do efeito nocebo ser muito menos explorado em pesquisas científicas do que o placebo, especialmente por questões éticas, o corpo de evidências da sua existência em diferentes situações médicas não é pequena. Já foi demonstrado que o efeito nocebo é capaz de desencadear crises de asma, alergia cutânea, diversos tipos de dor, impotência sexual, disfunções intestinais, entre outros sintomas.

O efeito nocebo merece especial atenção dos profissionais da saúde, já que uma expectativa negativa por parte do paciente pode ter origem no próprio terapeuta, seja por sua dificuldade de comunicação, seja por uma aparência física que não inspira cuidados de higiene, seja por um modo extravagante de se comportar. Até mesmo as instalações físicas do local de atendimento têm importância.

É claro que alguns pacientes são psicologicamente mais propensos a apresentar o efeito nocebo, o que é condizente com o pensamento popular de quem pensa muito em doença acaba ficando doente. Um estudo populacional (Framingham) chegou a demonstrar que mulheres que acreditavam que iriam adoecer do coração tinham quatro vezes mais chance de morrer do que aquelas que não tinham essa expectativa negativa, mesmo com o mesmo nível de fatores de risco para doença do coração entre os dois grupos. Pensamento positivo no momento de iniciar um tratamento pode não só reduzir as chances do efeito nocebo, mas aumenta em muito a chance de chamar para perto de si seu irmão bonzinho e poderoso: o placebo. É claro que tudo fica mais fácil se o terapeuta também faz a sua parte.

Outras questões que não dependem nem do terapeuta, nem do paciente, parecem influenciar também. Alguns estudos nos mostram que até a cor das pílulas tem influência sobre o resultado de um tratamento: pílulas com cores quentes são mais estimulantes, pílulas com cores frias mais calmantes. De acordo com o antropólogo americano Daniel Moerman, um dos maiores pesquisadores da área, algumas respostas são peculiares a uma determinada cultura. Na Itália, pílulas placebo azuis induzem bem o sono nas mulheres, mas entre homens têm tendência a efeito oposto.

Dr. Ricardo Teixeira é autor desse artigo, doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico. É também titular do Blog "ConsCiência no Dia-a-Dia" e consultor do Grupo Athena.   

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