As regras de etiqueta empresarial que exigem o terno e a gravata podem privar os homens do contato sadio com os raios solares, as principais fontes de vitamina D.
O nutriente virou o queridinho da ciência e a deficiência dele já foi associada às mais variadas doenças, como osteoporose, problemas neurológicos, câncer, hipertensão e doença coronariana.
Para garantir a dosagem mínima de vitamina D, a professora de reumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Vera Lúcia Szejnfeld expert em mapear as carências do nutriente na população brasileira diz que bastam 15 minutos diários de banhos de sol sem proteção solar, mesmo que só nos braços e pernas.]A proteção poderia ser conseguida no caminho até o restaurante na hora do almoço ou no percurso entre o ponto de ônibus e o trabalho. Mas não são todos que se vestem de forma adequada para facilitar o contato solar.
Privados deste remédio natural, diz Vera, estão os religiosos que usam burca (roupa que cobre praticamente todo o corpo), judeus ortodoxos que não deixam nenhuma parte da pele à mostra e também os engravatados (no grupo de risco estão ainda os obesos e também os negros, por causa do excesso de pigmentação na pele).
As mulheres teriam uma vantagem na exposição ao sol porque podem usar saias e blusas de manga curta, mesmo que usem protetor solar no rosto e nas mãos, afirma Vera Lúcia.
Os homens de terno e gravata já não contariam com este benefício. Eles estariam em situação semelhante a dos grupos religiosos que não podem expor a pele. Uma pesquisa mundial identificou, por exemplo, que na Arábia Saudita, mesmo com o sol escaldante, o índice de deficiência de vitamina D encontrado foi de 81,8%, muito maior do que a taxa da Europa (57,7%), de clima mais frio.
Uma das explicações para esta diferença estatística é que a religião mulçumana que exige o uso da burca por mulheres é mais frequente na Arábia do que entre as europeias.
Desumano
Sem levantar a bandeira da absorção da vitamina D, a Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Rio de Janeiro (OAB/RJ), defende o uso facultativo do terno e gravata por seus associados em dias de termômetros acima dos 30ºC, também com argumentos de risco à saúde. Em Recife, os advogados também comseguiram a liberação.
Nestas condições, o paletó é desumano, diz o presidente da Comissão de Justiça do Trabalho da OAB/RJ, Ricardo Menezes. No verão do ano passado, a Ordem protocolou no Conselho Nacional de Justiça um pedido para que a vestimenta seja opcional em audiências e nos fóruns até o término da estação mais quente do ano. Em 2011, o terno e a gravata também estão liberados até o dia 21 de março e voltam a ser exigidos no restante do ano.
Enfrentar o calor de terno e gravata, em dias em que a sensação térmica supera 40ºC, prejudica o desempenho do advogado e também pode fazer com que ele tenha a saúde afetada, desmaie ou fique com a pressão alterada, avalia Menezes.
Colarinho apertado
O especialista em hipertensão do Hospital do Coração (HCor), Celso Amadeo, explica que não há nenhuma evidência de que o terno e a gravata são responsáveis por elevar a pressão dos usuários em dias quentes, mas existe um problema conhecido como síndrome do colarinho apertado.
Quem usa o colarinho muito apertado pode comprimir algumas terminações nervosas que existem no pescoço, o que provoca quedas ou desmaios, explica Amadeo. Em dias quentes, acrescenta o cardiologista, é mais comum a ingestão de alimentos ricos em sódio como cervejas, amendoins e outros petiscos de happy hour o que elevaria a pressão arterial de indivíduos que já convivem com o problema. Mas nestes casos não adianta culpar a gravata, brinca o médico.
O cardiologista da Sociedade Paulista de Cardiologia, Luiz Antônio Machado César, já pesquisou a influência das altas temperaturas em problemas cardíacos. Ele atestou que em dias com mais de 27ºC o número de infartos é 11% maior do que em dias com termômetros na casa dos 22ºC.
Mas este fenômeno foi comprovado no Brasil e em pessoas com mais de 60 anos. Não temos nenhuma informação científica sobre o terno e a gravata. O que sabemos é que é um desconforto enorme, afirma.
Outro alerta para os engravatados é que não adianta acreditar que a solução para todos os problemas está na sala com refrigeração artificial. O ar-condicionado, alertam os especialistas, alivia o calor, mas pode aproximar problemas de saúde.
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