Cruzando a América do Sul de carro

Cruzando a América do Sul de carro

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:28

  Muitos brasileiros já querem variar de Europa e Estados Unidos como destinos internacionais. Com o câmbio favorável e os preços mais acessíveis, o Cone Sul – região da América do Sul composta por Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai – se tornou uma alternativa atraente para quem quer passar as férias em outro país.

Em 2010, os brasileiros representaram um terço dos turistas recebidos na Argentina, 25% no Paraguai – sem contar os que fazem atravessam a fronteira para fazer compras em Ciudad del Leste –, 18% no Uruguai e 10% no Chile, segundo dados dos governos locais. Se a opção é viajar de carro, é necessário planejar o passeio com antecedência, para providenciar a documentação correta, fazer a revisão do automóvel e adquirir o seguro obrigatório para viagens dentro do Mercosul. Além disso, o condutor deve tomar cuidados com a longa duração da viagem e precisa estar atento até mesmo na hora de abastecer em solo estrangeiro.

Se o veículo está em nome do condutor, a burocracia para atravessar a fronteira é menor. Nesse caso, basta portar carteira de identidade ou passaporte de todos os passageiros. A Carteira Nacional de Habilitação não é aceita como documento de identificação, mas é obrigatória para motoristas. “Muitos motoristas fazem confusão, já que no Brasil a CNH é aceita como identidade.

Mas, em outros países do Mercosul, o documento só é válido junto ao RG ou ao passaporte”, alerta o inspetor Wilson Martinês, chefe de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal no Paraná. Além disso, o carro deve estar com a documentação em dia e o condutor precisa ter o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo em mãos. A regra é válida para todos os países que compõem o Mercosul.  

A permanência é limitada a 90 dias, renovada por mais 90, com risco de multa e apreensão do veículo caso o prazo seja desrespeitado. O seguro Carta Verde – obrigatório – custa, em média, R$ 150 para o período de 30 dias, e cobre custos no caso de danos contra terceiros por um automóvel brasileiro em território estrangeiro. “A dica é contratar o seguro Carta Verde próximo da fronteira, porque ainda há desconhecimento do produto em cidades que não fazem limite com outros países”, afirma o geógrafo e montanhista Pedro Hauck, que já realizou diversas viagens para países da América do Sul.

No caso do Chile, o seguro Carta Verde não é obrigatório – mas recomendável para evitar dor de cabeça no caso de imprevistos. O Ministério das Relações Exteriores também recomenda que o motorista se informe sobre o clima no país andino, já que alguns acessos rodoviários podem ficar fechados por vários dias no caso de grandes nevadas.  

Outro ponto importante é a manutenção do veículo. No caso de viagens longas, é fundamental fazer revisões completas, incluindo alinhamento, balanceamento, calibragem dos pneus, checagem dos freios, sistema elétrico, motor e troca de óleo. O condutor também deve observar os equipamentos de segurança, que, no caso dos países do Cone Sul, incluem dois triângulos e um kit de primeiro socorros. No Chile ainda é necessário ter correntes para as rodas durante o rigoroso inverno da Cordilheira dos Andes.

Na estrada, o cuidado deve ser intensificado em rodovias que o motorista ainda não conhece. “Buracos, pistas estreitas e sinuosas interferem na condução do veículo. À noite, a atenção deve ser redobrada, porque o motorista fica ainda mais sujeito a surpresas na via”, adverte André Horta, analista de segurança viária do Cesvi – Centro de Experimentação e Segurança Viária. Em alguns pontos, como na rodovia de acesso à província de Santa Cruz, na Patagônia argentina, a pavimentação da pista é irregular. No Chile, a rodovia Panamericana, em direção aos Andes, é bem conservada, mas a paisagem árida e desértica também requer cautela.

“O Chile é um país com infra-estrutura de Primeiro Mundo. Em compensação, as rodovias bem conservadas possuem vários postos de pedágio. A cobrança acontece até mesmo dentro das cidades”, frisa Hilton Benke, bancário que já realizou diversas viagens pela América do Sul ao lado da esposa e de amigos. Aliás, viajar com amigos, se possível em mais de um carro, ajuda bastante em caso de imprevistos ou de problemas mecânicos.

Também é importante respeitar os limites da resistência na hora de continuar a viagem. “O motorista que quer percorrer de São Paulo a Foz do Iguaçu em 10 horas, para atravessar a fronteira o quanto antes, não tem vantagem. A viagem se torna cansativa e ele pode adquirir dores lombares e fadiga muscular intensa, que atrapalharão o lazer durante o descanso”, adverte Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego – Abramet. O ideal é limitar o trajeto a seis horas diárias para cada motorista, com pausas de 15 minutos a cada duas horas. Também é importante dormir de seis a oito horas antes de seguir viagem.

Já em solo estrangeiro, o condutor deve continuar alerta. Apesar da sinalização semelhante, as regras de trânsito variam em cada país. No Uruguai, por exemplo, o veículo deve estar com as lanternas ligadas mesmo durante o dia. Em lugares como a Argentina e o Chile, também é preciso tomar cuidados na hora de abastecer. A gasolina vendida nesses países é mais pura, já que não há a adição de 25% de etanol, como ocorre com o combustível vendido no Brasil.

“Para rodagens de até 3 mil quilômetros, esse fator não interfere no funcionamento do motor. Mas o uso prolongado pode aumentar o desgaste de peças dos motores brasileiros”, explica Alfredo Castelli, diretor de motores da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva. Os principais sintomas são falhas no motor e perda de rapidez nas respostas do acelerador. Para evitar o problema, também é recomendável a opção por postos com bandeiras tradicionais – como a rede YPF, na Argentina, e as marcas globais.

Nas estradas, outra complicação pode vir disfarçada de corrupção policial. Por isso, o Ministério das Relações Exteriores adverte que o pagamento de multas não deve ser feito diretamente ao policial que realizou a abordagem. O correto é guardar o boleto da multa e realizar o pagamento no destacamento policial mais próximo. “A corrupção policial é um problema grave. No Paraguai, os policias “inventam” multas e ameaçam o motorista que se recusa a pagar propina”, lembra Pedro Hauck.  

Passo a passo para viajar pela América do Sul

Documentação: Para viajar para países do Mercosul e para o Chile, não é necessário ter a Permissão Internacional para Dirigir – PID. Em outros países da América do Sul, como Bolívia, Peru e Colômbia, é necessário ter a carteira internacional de habilitação, que é solicitada junto ao Detran e custa R$ 90. Se a documentação do veículo estiver em nome de outra pessoa, o condutor deve proceder com a legalização da autorização por escrito do proprietário do veículo, que é feito em Brasília ou em escritórios regionais do Ministério das Relações Exteriores e pode demorar até 20 dias. Para autenticar a permissão, é preciso também apresentar o documento nos consulados dos países que serão visitados. O preço médio cobrado pela legalização, em cada consulado, é de US$ 20. A Polícia Rodoviária Federal não permite o transporte de crianças na falta de um dos pais, a menos que o responsável apresente declaração por escrito da parte ausente. A documentação exigida para cada país atende a regras de reciprocidade, e também vale para estrangeiros que queiram entrar no Brasil com carro.

Seguro Carta Verde: O seguro Carta Verde foi implementado após a criação do Mercosul, e é obrigatório em viagens internacionais dentro do bloco. Este seguro não está incluído nos planos comuns contratados no Brasil e deve ser adquirido mesmo que o proprietário possua cobertura internacional. O seguro Carta Verde cobre custos que vão de prejuízos materiais a gastos hospitalares com terceiros em acidentes de trânsito. A contratação pode ser feita com a seguradora por telefone ou internet, mas nas cidades fronteiriças o processo é mais ágil. O seguro também é exigido para motocicletas. O produto não é obrigatório no Chile – para o país andino, o custo é cerca de 50% maior em relação aos países do Mercosul.

Compras: O limite de compras com isenção de impostos é de US$ 300. A dica para o visitante que vai a Ciudad del Este, no Paraguai, para compras é deixar o veículo em Foz do Iguaçu, no Paraná. O centro da cidade é bastante congestionado e não dispõe de muitas opções de estacionamento. Para evitar aborrecimentos, a recomendação é atravessar a Ponte da Amizade em transporte público ou táxi.

Informações turísticas: É recomendável planejar toda a viagem antes de partir, incluindo reserva de hotéis, pesquisa de pontos turísticos, aquisição de mapas locais e GPS e até mesmo a habilitação do celular para chamadas internacionais. Para quem quer conhecer destinos turísticos menos badalados, a dica é entrar em contato com as secretarias de Turismo locais, para ter acesso a roteiros e guias de restaurantes e hotéis. As atrações turísticas mais procuradas do Cone Sul incluem a cidade argentina de Bariloche, famosa pela neve e pelas pistas de esqui; os lagos do altiplano chileno e a Cordilheira dos Andes; e o balneário de Punta del Este, na costa sul do Uruguai.  

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