Adriana Bernardo (@adrianammbernardo) é jornalista, escritora e idealizadora do grupo feminino cristão “Amigas de Deus”. Professora de Teologia e Aconselhamento. Casada com Bene Bernardo, é mãe de Raphael, Aline e Guilherme, e avó de Raquel, Daniel e Júli
A cena mais terrível da história – e, ao mesmo tempo, o cumprimento da mais grandiosa e significativa profecia – aconteceu no Gólgota, o Monte da Caveira, com a crucificação de Jesus Cristo, martirizado pelos pecados de toda a humanidade.
Jesus, o Filho de Deus, viveu 33 anos nesta terra como um homem justo e um mestre (rabi) excelente. No entanto, foi condenado à morte pelo mais cruel dos martírios romanos: a crucificação, após intensa tortura. Um inocente, conhecido por sua bondade, foi colocado entre dois criminosos, como se fosse um deles.
Apesar de serem culpados, Jesus não condenou nenhum dos dois homens crucificados ao seu lado. Como ainda acontece com tantos até hoje, um deles zombou de Jesus, desafiando-o a salvar a si mesmo e a eles também. O outro, no entanto, repreendeu o companheiro e voltou-se para Jesus com fé, pedindo que Ele se lembrasse dele quando entrasse em seu Reino.
Nenhum deles deixou de ser criminoso. Mas a fé os diferenciou. Jesus não preteriu ninguém, a fé daqueles homens os distinguiu. Suas escolhas definiram seus destinos. Paulo escreveu: “...pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades” (Efésios 2:16).
Jesus não faz acepção de pessoas – seja judeu, seja gentio. Prova disso é que, ao longo de seu ministério, esteve constantemente cercado por pessoas pecadoras. Ele se aproximava delas intencionalmente – porque as queria por perto, porque as amava incondicionalmente. Só cabia a elas – como continua hoje – aceitar seu amor e salvação.
Apesar de seus pecados – algo comum a toda a humanidade, como nos lembra João 8:7 – Jesus jamais as abandonou. Nunca ignorou suas dores, ou desconsiderou suas tragédias.
Mas alguém pode argumentar: “Ah, estamos falando de Jesus – de Deus, de alguém santo.” Sim! Mas Jesus também era homem (100% Deus e 100% homem, o que teologicamente, é denominado união hipostática). Ele jamais menosprezou a dor, o sofrimento ou mesmo a morte de qualquer pessoa – aliás, Ele sentiu tudo isso por amá-las, ainda que essas pessoas o odiassem. E Ele continua sendo assim, porque Deus não muda.
Jesus não falou mal delas, mas agiu em favor delas. Sua resposta diante da hostilidade foi marcada por compaixão e verdade – um exemplo que confronta profundamente nossos tempos, em que o discurso público muitas vezes banaliza a dor do outro.
Recentemente, a comentarista política Eliane Cantanhêde, do programa Em Pauta, da GloboNews, uma das principais empresas jornalísticas do país, gerou indignação ao afirmar, durante uma análise ao vivo, que os mísseis lançados pelo Irã “não estavam matando o suficiente” ao atingir o território israelense.
“Tem uma mortezinha daqui, outra dali”, disse a jornalista, sobre as vidas de judeus atingidos pelos mísseis iranianos em Israel. A frase deixava explícito que apenas as mortes de um lado mereciam lamento – quando, na verdade, a perda de vidas humanas, de ambos os lados, deve ser igualmente reconhecida e considerada uma tragédia neste conflito.
No comentário, ficou evidente o desdém pela vida de um povo que lhe é desafeto. Quando se trata do povo judeu, esse tipo de desprezo tem nome: antissemitismo.
Além das palavras – que, sim, importam – havia ainda o tom de voz e a risadinha ao final. Um gesto que, por si só, já dizia muito. Que vergonha!
Após a fala considerada abjeta em rede nacional, o vídeo viralizou nas redes sociais, gerando uma onda de críticas e reações negativas. Foi essa repercussão – e não o conteúdo da fala em si – que motivou a manifestação da GloboNews e da própria jornalista.
Cantanhêde não gravou um vídeo de retratação; limitou-se a publicar um texto, cuja intenção pareceu mais justificar suas palavras insensíveis do que, de fato, pedir desculpas como seria esperado.
Não somos Jesus, que suportou a todos em amor. Todos mesmo! Mas devemos, ao menos em nome da civilidade, cultivar tolerância com aqueles que não compartilham de nossas ideias, crenças ou opiniões. Porque o valor da vida – mesmo da vida de quem não nos agrada – não está em nós, mas naquele que a concedeu.
Não devemos nos indignar pelo fato de “poucos deles” perderem a vida. Devemos, sobretudo quando temos o poder de influenciar e formar opinião, demonstrar empatia, humanidade e respeito incondicional à dignidade de cada pessoa – mesmo daquelas com quem não concordamos ou por quem não nutrimos simpatia.
A vida humana não é estatística; é sagrada. Por isso, sua perda jamais deveria ser tratada de forma diminutiva. Afinal, cada vida possui um valor tão imenso que custou o sangue de Jesus, derramado na cruz do Calvário.
Adriana Bernardo (@adrianammbernardo) é jornalista, escritora e idealizadora do grupo feminino cristão “Amigas de Deus”.
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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