Será que estamos “coando mosquitos e engolindo camelos? Entenda a hipérbole

Texto dentro do contexto

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: quarta-feira, 25 de agosto de 2021 às 12:25
(Foto: Canva)
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O que será que Jesus quis dizer com essas palavras? Pode-se dizer que a classe religiosa dos tempos de Jesus era extremista. Os mestres da lei, fariseus e saduceus, eram julgadores inflexíveis.

Eles faziam diferença entre as pessoas. Enquanto isso, Jesus andava entre os cobradores de impostos (que eram considerados ladrões), prostitutas, doentes e até endemoninhados. Os religiosos o condenavam por isso. Mas certo dia, Jesus disse ao povo:

“Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam.” (Mateus 23.2-3).

E ainda disse mais:

“Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los.” (Mateus 23.4)

Praticamente, todo o texto de Mateus 23 é um sermão contra eles e suas práticas interesseiras. E quando Jesus disse que “eles coavam um mosquito e engoliam um camelo”, estava desmascarando a hipocrisia e o falso moralismo daqueles líderes.

Naquela época, todo fariseu tinha o costume de coar as bebidas. O arqueólogo Rodrigo Silva explica que eles faziam isso com coadores de pedra, bronze ou, mais raramente, de argila.

Coavam o vinho para não correr o risco de engolir um mosquito, que era considerado o menor ser vivo impuro, que constava na lei de restrições alimentares do Antigo Testamento. Confira aqui:

“Mas considerarão impuras todas as outras criaturas que enxameiam, que têm asas e que se movem pelo chão.” (Levítico 11.23)

O camelo também era considerado um animal impuro, e era o maior deles. Veja:

“Vocês não poderão comer aqueles que só ruminam nem os que só têm o casco fendido. O camelo, embora rumine, não tem casco fendido; considerem-no impuro.” (Levítico 11.4)

Jesus usou uma figura de linguagem para dizer que eles se preocupavam demais com pecados pequenos, mas cometiam outros bem maiores. Trata-se de mais uma hipérbole [figura de linguagem que utiliza o exagero], já que é impossível alguém engolir um camelo.

O trocadilho no aramaico ficaria assim: “Coas um QAMLA e engolis um GAMLA”.

Os fariseus haviam perdido a noção. Preocupavam-se demais com coisas insignificantes (como um mosquito) e cometiam falhas enormes (como um camelo) sendo desonestos, aproveitadores, cruéis e gananciosos.

Contextualizando

Leia o capítulo 23 inteiro do livro de Mateus, e você vai perceber que Jesus deu vários exemplos que ilustravam a hipocrisia dos fariseus:

  • Não praticavam o que pregavam (vers. 3)
  • Dificultavam a entrada das pessoas para o Reino de Deus (vers. 13)
  • Exploravam as viúvas (vers. 14)
  • Pagavam o dízimo de tudo, mas desprezavam os necessitados (vers. 23)
  • Mantinham a aparência de bons, mas eram gananciosos e maldosos (vers. 25, 28)

Eles seguiam regras humanas e desobedeciam a Deus. Exaltavam a lei e desprezavam o amor. Evitavam pequenos delitos, mas cometiam grandes crimes. Isso é coar um mosquito e engolir um camelo!

Simbolicamente, Jesus estava mostrando que era inútil coar suas bebidas para não ingerir um mosquito, quando dentro do estômago já havia uma grande quantidade de “carne imunda”.

Deus estava cobrando deles o amor ao próximo, e eles estavam preocupados com seus objetivos políticos, usando a lei para o benefício de um pequeno grupo de elite.

Você consegue trazer essa ideia para o nosso tempo?

Perceba que Jesus os chamou de “Serpentes! Raça de víboras!” (Mateus 23.33) e ainda disse: “Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície.” (Mateus 23.27)

Você acha possível que, hoje em dia, uma pessoa que se apresenta como “servo de Deus” possa vestir as melhores roupas e manter uma aparência impecável, mas por dentro ser uma pessoa semelhante a um fariseu dos tempos de Jesus?

Consegue imaginar um líder religioso cobrando santidade de um jovem adolescente, enquanto ele mesmo está cometendo adultério?

Já parou para pensar que alguns líderes que cobram o dízimo dos fiéis, dizendo que aquele que não dizima está roubando de Deus, é capaz de desviar o dinheiro da Igreja para alimentar suas vaidades, investindo em casas, carros, realizando viagens e tendo uma vida luxuosa?

Há cristãos que visitam famílias, que aconselham casais e que se lançam na missão de “reconstruir lares” e restaurar casamentos. Aconselham e exortam pessoas, mas quando chegam em casa, encontram o próprio lar destruído.

Estão tolerando ou “engolindo” brigas, discussões, falta de respeito, traição, agressões e palavras torpes. Ou seja, não praticam o que pregam e vivem de aparência.

Se você consegue imaginar todo esse cenário, então você consegue entender o significado de “coar um mosquito e engolir um camelo”. Vamos fazer essa reflexão: Será que não estamos fazendo o mesmo?

Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o Movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico para a ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Entenda a parábola do camelo e a entrada do rico no Reino de Deus

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