A Teologia Arminiana, desde o seu surgimento, sempre sofreu acusações e difamações. Expressões como “pelagianismo”, “semipelagianismo”, “heresia” e entre outros termos, são as acusações famosas que o Arminianismo recebe.
No seu contexto holandês, Armínio respondeu essas acusações através de seus escritos. No século seguinte, John Wesley na Inglaterra, rebateu essas difamações através dos seus sermões.
Mas atualmente a história se repete: no podcast Inteligência Ltda, um reverendo calvinista convidado (é uma referência de pregador em nosso país), infelizmente, fez colocações inadequadas sobre o Arminianismo. Vamos responder nesse artigo.
O Arminianismo não é uma visão centrada no ser humano. Armínio afirma que “as crianças são descritas como tendo pecado em Adão, antes que elas tivessem qualquer existência pessoal e, [...], antes que pudessem pecar, com a sua própria vontade e segundo o seu prazer” (ARMÍNIO, 2015, p. 290 e 291).
O teólogo holandês está claramente declarando que somos pecadores por natureza (Pecado Original). Nos seus escritos, não há nada de indícios de pelagianismo. O pecado original é um ensinamento bíblico.
Na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo ensina essa doutrina bíblica que é de suma importância na fé cristã.
John Wesley, no seu sermão Pecado Original, afirma que “através da desobediência de um homem, todos homens foram constituídos pecadores; que em Adão todos morreram, morreram espiritualmente, perderam a vida e a imagem de Deus” (WESLEY, 2006).
O fundador do metodismo está defendendo essa verdade bíblica que somos pecadores porque herdamos a natureza pecaminosa e automaticamente perdemos a “plena comunhão com Deus”. Por essa razão, estamos mortos espiritualmente (Efésios 2).
Essa morte espiritual, chamamos de “Depravação Total”, porque o ser humano não tem capacidade de tomar iniciativa. É Deus que toma iniciativa no plano da salvação. O semipelagianismo ensina que o ser humano não está totalmente morto, porque ainda resta a capacidade espiritual de tomar iniciativa no chamado da salvação. Mas é um grande erro! Pois as Escrituras são bem claras: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” (Efésios 2:1 – ARC).
O Arminianismo não compactua com o semipelagianismo. Armínio e Wesley seguem a visão teológica da Depravação Total de igualdade com os calvinistas, sem nenhum acréscimo.
Em seus escritos, Jacó Armínio afirma que “a mente do homem, em seu estado, é escura, destituída do conhecimento salvífico de Deus e, de acordo com o apóstolo Paulo, incapaz de alcançar as coisas que pertence ao Espírito de Deus (1 Coríntios 2:14)” (ARMÍNIO, 2015, p. 473).
O teólogo holandês é enfático que o ser humano, sem Deus, não tem nenhuma capacidade de discernir os assuntos espirituais. Não há nada de semipelagianismo no seu escrito. Wesley, no seu sermão Pecado Original, faz a defesa da depravação total, afirmando que “todos os homens são concedidos em pecados e formados em iniquidade [...], há todo homem uma mente carnal que é inimizade contra Deus” (WESLEY, 2016).
O avivalista está destacando que a raça humana está morta espiritualmente. Não há nela capacidade de tomar iniciativa. O Arminianismo ensina que Deus toma iniciativa no plano da salvação. Essa iniciativa chamamos de “graça preveniente”, que significa que a graça de Deus é que toma iniciativa (Mateus 11: 28 – 30; Efésios 2:8 e 9).
O teólogo e historiador Roger Olson afirma que “o fundamento essencial do pensamento do arminianismo clássico é a graça preveniente. Toda salvação é absolutamente e inteiramente da graça de Deus” (OLSON, 2013, p. 205).
A doutrina da graça é um ensinamento bíblico que o Arminianismo crê e prega. Os arminianos não defendem que a força da conversão vem de nós mesmos. É a graça de Deus que liberta o ser humano do pecado!
É um erro afirmar que o cerne do Arminianismo é o livre-arbítrio. A Teologia Arminiana segue fielmente a “sola gratia”, que é um dos pilares da Reforma Protestante. O Arminianismo ensina que Deus toma iniciativa mediante a sua graça, que “é fruto da atuação do Espírito Santo sobre o coração da pessoa” (NASCIMENTO, 2016, p. 110).
A atuação do Espírito Santo “vai adiante preparando o caminho, abrindo o coração do pecador e fortalecendo a sua vontade, em direção ao arrependimento” (NASCIMENTO, 2016, p. 115). A graça de Deus capacita a pessoa a aceitar ou rejeitar o convite da salvação. Chamamos de livre-arbítrio libertário, porque só a graça de Deus que capacita e liberta o ser humano do pecado!
Creio que o presente artigo mostrou que o Arminianismo nunca ensinou que as pessoas são “soberanas nas suas escolhas”, que o “ser humano não escolhe pecar” e entre outras colocações. A Teologia Arminiana é uma visão ortodoxa que honra os princípios da ortodoxia cristã. Respeitem o Arminianismo!
Referências bibliográficas
ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio – Volume 1. Rio de Janeiro. CPAD. 2015.
NASCIMENTO, Valmir. Graça Preveniente – Um estudo sobre o gracioso agir de Deus para a salvação humana. São Paulo. Editora Reflexão. 2016.
OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: Mitos e Realidade. São Paulo. Editora Reflexão. 2013.
WESLEY, John. Sermões de John Wesley. Pecado. In: Couto, Vinicius. Em favor do Arminianismo – Wesleyano: Um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade. São Paulo. Editora Reflexão. 2016.
_______, John. Sermões de John Wesley: sobre a Queda do Homem. São Paulo. Editeo. 2006. 1 CD-ROM. In: Couto, Vinicius. Em favor do Arminianismo – Wesleyano: Um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade. São Paulo. Editora Reflexão. 2016.
Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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