Um tema bem destacado nos ensinos de Lutero foi o sacerdócio universal de todos os crentes. O princípio sacerdotal enquanto mediação aparece nas narrativas vetero-testamentário em Êxodo 19:5 afirmando que “vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa”.
Deus institui o sistema religioso sob a liderança de Moisés, separando a tribo de Levi, mas da linhagem de Arão que exerceriam esse sacerdócio. Todavia, o ritual cerimonial seria transitório, porque apontava para um sacrifício maior e eterno que o Senhor Jesus Cristo (Hebreus 9:1-28).
Com a morte e ressurreição Dele, Jesus Cristo foi o único sacrifício perfeito e ao mesmo tempo o Sumo Sacerdote que oferece para todos a Sua salvação (João 3:16). Em Cristo Jesus, todo aquele que o recebe, se torna filho de Deus (João 1:12), se torna eleito Nele (Efésios 1:3-7) e participa da Igreja, que é o Corpo de Cristo (1 Coríntios 12:12-14).
Em Cristo Jesus, a Igreja exerce o sacerdócio universal de todos os crentes porque Ele nos deu essa garantia (1 Pedro 2:9). Mas durante a história eclesiástica, o clero foi colocado como “mediador” entre Deus e os humanos. O povo não tinha as Escrituras, só os líderes religiosos eram que interpretavam a Bíblia.
Lutero, que era monge agostiniano, discordou de várias questões da prática da Igreja Romana. Sobre a mediação entre Deus e os homens, Lutero afirmou que “somos sacerdotes; isto é muito mais que sermos reis, porque o sacerdócio nos torna dignos de aparecer diante de Deus e rogar pelos outros” (LUTERO, 2015. Página 27). Em outras palavras, o reformador afirma que todo crente em Jesus Cristo tem acesso a Deus, buscar a Ele e interceder pelas pessoas.
Em nenhum momento, Lutero se desfaz da importância de um líder da igreja. A Bíblia ensina que a liderança pastoral tem como objetivo o “aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:12). Todavia, o crente não fica na eterna dependência de buscar a liderança. O Espírito Santo está sempre conosco em nossas vidas. Enquanto a liderança não pode e nem há possibilidade de estar conosco “24 horas por dia”, o Deus eterno sempre estará conosco para conduzir as nossas vidas; Ele fez essa promessa (Mateus 28:20).
Infelizmente, algumas lideranças agem com posturas de “dominadores dos seus congregados”. Com posturas de ditadores, afirmam que só eles são os verdadeiros mediadores diante de Deus. Se não depender deles, não alcançará as bênçãos de Deus. Mas a Bíblia ensina o contrário: não é o líder que tem o poder de abençoar, e sim Deus é quem determina a Sua benção. A liderança é um instrumento de Deus para trazer orientação e ser canal de bênção. Mas a autoridade que ele recebeu veio de Deus, na autoridade no nome de Jesus Cristo. Nenhuma liderança possui poder. Todo poder pertence a Ele!
Em Cristo Jesus somos salvos pela graça de Deus (Efésios 2:8). Vivenciamos as bênçãos da salvação (Romanos 5). Nossos pecados são perdoados, e agora somos filhos de Deus. Além dessas bênçãos espirituais e outras, temos livre acesso a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Não precisamos de sacrifícios de animais e nem da mediação de um sumo sacerdote para me “religar a Deus”. Essa garantia quem nos oferece é Jesus Cristo, porque o seu sacrifício é perfeito para a humanidade e também Ele é o Sumo Sacerdote perfeito. Nele, temos a plena comunhão com Deus. Sem Ele, não temos é nada!
Bibliografia:
Lutero, Martinho. A liberdade do cristão. São Leopoldo. Editora Sinodal. 2015.
Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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