Declaração de Inferioridade

A reflexão aqui é sobre uma inferioridade velada que, como já disse, nunca vi ninguém declarar.

Fonte: Guiame, Edmilson Ferreira MendesAtualizado: quinta-feira, 4 de março de 2021 às 15:56
(Foto: iStock)
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Você já viu alguém emitir uma declaração de inferioridade? Eu diria que de forma oficial, documentada, praticamente ninguém viu. Porém de forma disfarçada, meio que nas sombras, a maioria de nós já viu.

O inferior não se diz inferior. Não admite. Não divulga. Não gosta de saber que é inferior, pois se trata de uma posição de quem está abaixo dos demais, é lugar sem privilégios, é posição de capacidades reduzidas, de ideias atrofiadas, de maquinações carregadas de más intenções, típicas de quem habita regiões inferiores.

Num primeiro momento, quando abraçamos apenas uma parte do significado da palavra inferior, que é “mais fraco, menor”, podemos achar que as afirmações do parágrafo acima são bem pesadas. Porém não é sobre pessoas socialmente fragilizadas que esse texto reflete. A reflexão aqui é sobre uma inferioridade velada que, como já disse, nunca vi ninguém declarar.

Então que inferioridade é essa? Num de seus pensamentos, Napoleão Bonaparte nos ajuda a responder: “A inveja é uma declaração de inferioridade.” Invejosos jamais admitem que a inveja é que os motiva a ser como são, a fazer o que fazem, a criticar como que criticam, a destruir reputações como destroem.

Tomás de Aquino dizia que “a inveja é uma tristeza pela glória do outro”. Porém tal tristeza sempre será justificada por críticas ao alvo invejado, por observações negativas quanto aos desempenhos do alvo invejado e, uma vez que a inveja, via de regra, está acompanhada de muito orgulho, praticamente nunca ouviremos uma explicação do tipo “na verdade o que sinto é inveja, falo mal de fulano e desdenho das realizações dele apenas porque o invejo.”

Para piorar, a maioria dos invejosos não concordam que o que eles têm é inveja, se apegam as suas explicações e, de fato, acreditam nelas. Dificilmente você encontrará alguém que compreenda sua própria inveja. Afinal, seria como oficializar uma declaração de inferioridade, e ninguém quer assinar tal documento social, psicológico, emocional, espiritual.

Faça uma pausa na leitura, olhe a sua volta, analise seus relacionamentos. Facilmente você enxergará em algumas atitudes e palavras de uns contra outros um tipo de declaração de inferioridade, porque no fim é isso que a inveja é, uma inferioridade que se remói de raiva no interior da alma, não suportando os bons desempenhos dos outros.

Já vi, não poucas vezes, pessoas caírem por pura inveja de colegas que armaram contra elas, e isso em ambientes acadêmicos, empresariais, eclesiásticos, familiares. Mas se foi por inveja, por que pessoas caíram? Elas não eram boas no que faziam? Não eram corretas? Se tinham suas consciências tranquilas, por que então caíram?

A sabedoria popular responde: porque a inveja mata. Mata o ânimo, a vontade, a disposição de conviver num lugar onde se respira conspirações contra a cada momento, o sorriso, a ingenuidade boa. A inveja mata sonhos, e sonhadores naturalmente procurarão outros espaços para sonhar, pois quem sonha sonhos bons não tem tempo para ficar brigando e gastando energias com... invejosos! Gente que habita, sem saber ou admitir que habita, num mundo inferior.

Existe um remédio? Existe um antídoto para se combater a inveja, para nos livrarmos de ficarmos passando declarações de inferioridade com nossos atos e palavras desequilibrados? Sim, existe, atende pelo nome de “amor”, e está registrado em I Coríntios 13:4, “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.”

Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: E o seu deserto, como vai?

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