Estamos chegando, mais uma vez, no período da festa da Páscoa. Desde os tempos pós-apostólicos, os cristãos, por iniciativa própria (pois não foi algo ordenado por Cristo) celebravam a Páscoa, pois, foi na época desta festa judaica que Jesus sofreu por nós e ressuscitou.
A história mostra que, já no séc. II depois de Cristo, os cristãos celebravam a Páscoa. Não celebravam pelos mesmos motivos que os judeus, isto é, para comemorar a libertação do Egito. Celebravam para comemorar a morte e a ressurreição de Cristo. Também não celebravam da mesma forma dos judeus, isto é, numa celebração familiar que incluía uma refeição com ervas amargosas, pães asmos, e carne de um cordeiro sacrificado etc. Os cristãos, originalmente, celebravam a Páscoa comunitariamente, numa reunião de crentes que incluía orações, leituras das Escrituras, a celebração da ceia do Senhor etc.
Diante disso, preciso afirmar que é errado dizer que os cristãos só começaram a comemorar a Páscoa depois de Constantino (quando a igreja caminhava para se tornar a religião do império e se corrompeu em vários aspectos). Com Constantino veio a decisão oficial pelo dia anual em que ela seria celebrada; e foi a partir daí que se adaptou e foram anexados outros elementos para a celebração etc. Contudo, a celebração da Páscoa, entre os cristãos, já existia.
Pois bem, não estou fazendo estas considerações para concluir dizendo que devemos “celebrar a Páscoa” como os cristãos deste período pós-apostólico fizeram. Não, esta não é minha intenção. Apesar de não achar que a mesma seja pecaminosa, Jesus não a instituiu e não vejo razão para celebrarmos a mesma. O caminho que quero propor é outro, à luz do texto a seguir: “Pois Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que celebremos a festa, não com fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade” (1 Co 5:7-8).
Paulo diz que Cristo é a “nossa Páscoa”, e depois exorta: “celebremos a festa”. Em que sentido o apóstolo quer que “celebremos a festa”? É importante sabermos desta resposta, pois é um mandamento para os cristãos. Não creio que ele faz esta exortação em termos literais. Paulo não está pedindo que os cristãos celebrem a Páscoa judaica, senão ele estaria diminuindo o significado da expiação de Jesus, o cordeiro sacrificado de modo definitivo (verdade que ele também abordou neste texto). Na verdade, ele usa a cerimônia da celebração da Páscoa entre os judeus como uma metáfora para a vida cristã. Vamos tentar entender esta metáfora?
O contexto de 1 Coríntios 5 é o pecado. Paulo está oferecendo orientações à igreja sobre como agir frente a um pecador imoral que não quer se arrepender. Nas orientações de Paulo este pecador deve ser excluído da comunhão da igreja (v.5), pois um pouco de fermento pode levedar toda a massa (v.6). Ele usa o “fermento” aqui como símbolo do pecado. Na linguagem deste texto, se ninguém tomar atitude contra este irmão, ele vai acabar influenciando outros. Daí entra a imagem da comemoração da Páscoa judaica. Paulo diz: “Lançai fora o fermente velho…” (v.7a). Quando se aproximava a época de comemorar a Páscoa, o judeu se livrava de todo o fermento que houvesse em casa, pois junto com a páscoa eles comemoravam a festa dos pães asmos, em que ficavam sete dias sem comer pão com fermento. Tudo isso era feito antes do cordeiro ser oferecido no templo.
Levando-se em conta que o fermento era símbolo do pecado, e este contexto mencionado, não é difícil deduzir o que Paulo está pedindo. Assim como os judeus tinham de se livrar de todo o velho fermento de suas casas e comer pão sem fermento durante sete dias, os cristãos devem se livrar do pecado em sua vida. Devem fazer isto para mostrar que são “nova massa”, isto é, um novo povo em Cristo. A razão? “Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado” (v. 7b). A expressão “foi sacrificado” indica um ato definitivo e completo. Observe que verdade gloriosa Paulo está anunciando: os judeus se livravam do fermento velho antes de comemorar a Páscoa, mas a nossa páscoa já foi sacrificada, definitivamente. Cristo é o sacrifício perfeito. Ele é a solução do pecado no meio do seu povo. Os nossos pecados foram perdoados por ele na cruz, definitivamente. Somos libertos da penalidade do pecado, e estamos sendo libertos de seu poder. Por isso devemos lutar contra o pecado em nossa vida cristã! Apressadamente nos livremos de todo fermento velho!
À luz desta explicação, chegamos à expressão “Pelo que celebremos a festa”. Que festa? Não a Páscoa judaica e nem mesmo a ceia do Senhor. Ele está comparando a vida cristã com uma festa da Páscoa contínua. Podemos nos alegrar, continuamente, porque Cristo nos limpou dos nossos pecados! “Celebrar a Páscoa”, neste texto, é viver esta certeza da vida cristã. Como? Fugindo do pecado (não com o velho fermento), vivendo a nova vida (comendo os asmos da sinceridade e da verdade)
Metaforicamente falando, a vida cristã é uma Páscoa contínua. Celebremos a Cristo, nossa Páscoa, louvando e nos alegrando em Deus todos os dias pelo que foi feito no calvário, onde nossos pecados foram perdoados, e vivendo a nova vida, fugindo a todo custo das más influências do pecado.
Para este período de Páscoa que se aproxima, onde pessoas de todo o nosso país celebrarão esta festa, você pode simplesmente dizer que é contra tudo e demonizar a palavra “páscoa” ou aproveitar estes dias para falar da verdadeira páscoa, que todo cristão deve e pode comemorar todos os dias. Por este texto, você já sabe da minha escolha.
Eleilton William é pastor, professor e escritor. Mestre em Teologia com ênfase em leitura e interpretação da Bíblia. Atua como diretor e editor na Editora Promessa. É casado com Elaine Gomes e serve a Cristo na Igreja Adventista da Promessa no bairro Jardim Aeroporto, em Campinas, SP.
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