Pentecostes e a contagem do ômer: Entre a promessa e a colheita

Durante sete semanas completas, ao pôr do sol, o povo conta os dias com uma bênção específica até completar cinquenta.

Fonte: Guiame, Getúlio CidadeAtualizado: quarta-feira, 28 de maio de 2025 às 16:44
(Imagem ilustrativa gerada por IA)
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No próximo domingo (1º de junho), celebra-se Pentecostes, também conhecido como Shavuot no calendário bíblico. Esta é a última das Festas da Primavera e representa a conclusão do ciclo iniciado na Páscoa. Embora muitas vezes lembrado apenas pelo evento de Atos 2, Pentecostes tem raízes profundamente conectadas ao calendário agrícola de Israel e à progressiva revelação de Deus à humanidade.

Diferente de outras festas, Pentecostes não possui uma data fixa. A Bíblia ordena que seja celebrada no quinquagésimo dia após a Festa das Primícias, por meio de uma prática chamada contagem do ômer (Sefirat HaOmer). Durante sete semanas completas, ao pôr do sol, o povo conta os dias com uma bênção específica até completar cinquenta.

Esse ato de contar, conforme descrito em Levítico 23:15-16, tem um significado que vai além da simples marcação de tempo. É um convite ao povo de Deus a entrar num processo de expectativa espiritual, acompanhando a transição da colheita do centeio (início da primavera) até a colheita do trigo, o grão mais nobre da terra e principal oferta de cereais em Pentecostes na época do Templo.

A contagem nos ensina a observar o crescimento dos campos e sua crescente cor dourada, dia após dia, e assim reconhecer a provisão diária do Senhor, desde os primeiros brotos até os campos maduros, prontos para a ceifa. Cada dia contado se transforma em um ato de gratidão e fé.

O Deus que conta

O ato de contar não é estranho à Bíblia. O livro de Números (Bamidbar) mostra como Deus instrui a contagem do povo, tribo por tribo. Ele também conta as estrelas e lhes dá nomes (Sl 147:4) e conhece até os números de fios de cabelo em nossas cabeças (Mt 10:30). O salmista ainda ora: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio" (Sl 90:12).

Aprendemos a contar nossos anos passados, mas não podemos contar os dias que estão adiante. Entretanto, essa é a petição do salmista. Definitivamente, se soubéssemos o tempo de vida que nos resta, viveríamos de forma muito mais sábia e não desperdiçaríamos minutos, horas ou dias com tolices.

A contagem do ômer, portanto, é um convite de Deus para percebermos o tempo de forma diferente — não como rotina, mas como revelação e preparação.

Do Egito ao Sinai: Uma Jornada de Transformação

Segundo a tradição judaica, o primeiro Pentecostes aconteceu cinquenta dias após a saída do Egito. A travessia do Mar Vermelho simbolizou uma ressurreição coletiva: o povo condenado à escravidão e morte ressurgiu para uma nova vida do outro lado do mar. Após essa experiência de salvação, Israel chegou ao Monte Sinai, onde recebeu a Torá, selando sua aliança com Deus.

Esse processo reflete um padrão: libertação, amadurecimento e revelação. Moisés passou quarenta dias no monte, um tempo de preparação antes da entrega da Torá. O número quarenta representa maturidade e ciclo completo. O cinquenta, por sua vez, é símbolo de jubileu, liberdade e restauração.

Pentecostes na Nova Aliança

O primeiro Pentecostes da Nova Aliança (Brit Hadashah) ocorreu cinquenta dias após a Páscoa em que o Cordeiro de Deus foi morto para levar sobre si os pecados do mundo. Nesse sacrifício perfeito, houve a libertação da escravidão do pecado que separava o homem de Deus. Três dias depois, veio a ressurreição do Messias, ocorrida exatamente na Festa das Primícias, no início da contagem do ômer.

Após sua ressurreição, Yeshua permaneceu com os discípulos por quarenta dias, ensinando sobre o Reino de Deus, assim como Moisés no Sinai. Após sua ascensão, nos dez dias seguintes, os discípulos permaneceram em Jerusalém, contando o ômer com uma expectativa muito maior, aguardando a promessa. No quinquagésimo dia, foram cheios do Espírito e capacitados para anunciar as Boas Novas — não apenas a Israel, mas a todas as nações.

Assim como no Sinai, quando a Torá foi escrita em tábuas de pedra, agora ela seria escrita nos corações, por meio do Espírito, em outro monte, o Sião. Uma nova colheita se iniciava, não de grãos, mas de almas.

A Festa da Colheita

Pentecostes é também chamada de Festa da Colheita e esse simbolismo é central na pregação de Yeshua. Suas parábolas frequentemente utilizavam metáforas agrícolas: sementes, solos, trigo, joio, ceifa. João Batista também usou essas imagens para descrever o Messias como aquele que separa o trigo da palha (Mt 3:12).

Essa colheita começou naquele primeiro Pentecostes da Nova Aliança e ainda está em curso. Vivemos na era da graça, tempo em que o Reino está aberto para todos os que creem. A contagem do ômer é também um símbolo da expectativa pela plena colheita espiritual.

Além dos 50 Dias

Pentecostes encerra as Festas da Primavera, mas a história não termina aí. No calendário bíblico, ainda há as Festas do Outono que apontam para a segunda vinda do Messias. Se Shavuot representa a descida do Espírito e a colheita, as festas seguintes anunciam arrependimento, reconciliação e o retorno do Rei.

Por isso, como o salmista, devemos pedir: “Ensina-nos a contar nossos dias”. Não apenas os cinquenta dias do ômer, mas também os que virão até o grande dia da redenção final. Que saibamos viver com sabedoria, reconhecendo os tempos de Deus que precedem sua volta. Bendito seja o nome de seu glorioso Reino para sempre!

Para saber mais, acesse https://www.aoliveiranatural.com.br/2025/05/26/pentecostes-e-a-contagem-do-omer/

 

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor de A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Cheio de Graça e de Verdade: Do Sinai à transfiguração

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