Morreremos, isto é certo

Não há coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio…

Fonte: guiame.com.brAtualizado: sexta-feira, 5 de setembro de 2014 às 11:46
morte
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morteTudo o que sei não garante o meu amanhã. A cada passo, desvelo novas opções. As dimensões inéditas de minha humanidade não cessam de me desestabilizar. Mantemo-nos sempre despreparados para o inesperado. De repente, muitas vezes de forma abrupta, a vida se transforma. O chão desaparece. O pesadelo se prolonga para depois que se acordou. As paredes se estreitam. A gente quer tomar pé em águas profundas e não acha o fundo. Procura nadar de volta à praia e as repuxe da maré é mais forte.

O meu caminho é só meu. Ninguém andou por ele antes e ninguém o trilhará depois de mim.

Em Metamorfoses, o poeta romano Ovídio exprimiu nosso sentimento trágico, do nascimento à morte. Tudo se acaba, das estrelas aos parasitas. Homens e mulheres são os únicos – até que se saiba – no universo que percebem a decadência e o fim de si mesmos. Viver é aceitar o desafio de nunca abandonar o ofício de aprendiz. Jamais deixamos de ser estagiários que necessitam de supervisão: nossas descobertas são provisórias, nossos acertos, frágeis e nossas certezas, relativas.

Não há coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio…

O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite. Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida? Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova… A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor à folhas. Entra então a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmperas embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos.

Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso… E também a natureza não descansa, e renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas.

Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados… Todos os seres têm sua origem noutros seres. Existe uma ave as que os fenícios dão o nome de Fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outros cinco séculos. Assim também é a natureza e tudo o que nela existe e persiste.

Soli Deo Gloria


- Ricardo Gondim

 

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