Ouro no cascalho

Só o amor lança um olhar que rebenta a crosta da mesquinharia

Fonte: guiame.com.brAtualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:01
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ouroO amor é colírio que limpa o olhar, tornando-o puro. É falso o adágio de que o amor é cego. Ao contrário: o amor percebe realidades encobertas ao olhar displicente. Consegue ver beleza debaixo da crosta endurecida da maldade.

Deus zela para que sua imagem perdure em cada homem e mulher. Sim, é possível que no mais das vezes, sua imagem se encontre falsificada, deturpada. Devido aos baques inclementes da vida, a Imago Dei sofre lesões. Resultado de escolhas erradas, encontra-se meio apagada, descolorida, enevoada sob um cúmulo de miséria.

Como irmãos, sem distinção de gênero, orientação sexual, etnia, grau de escolaridade, nossa missão consiste em trazer esta imagem à tona, à luz. Humanizar-se é assumir a função de garimpeiro à cata de pepitas no cascalho dos corações bagunçados. Cumprimos nossa vocação humana quando descobrimos trigo na plantação de joio.

Nas personagens rotuladas como más, odiosas ou pouco ortodoxas sobrevivem traços de uma bondade digna de ser recuperada. Arrastaram uma mulher considerada adúltera (onde estava o adúltero?) Tentaram apedrejá-la de acordo com as leis religiosas de uma cultura patriarcal. Sem entrar no mérito cultural ou religioso, Jesus escancarou uma bondade desconcertante: até os réus inapeláveis podem ser recuperados. A mulher pode partir rumo ao seu destino sem o tacão do ódio e da discriminação.

Só o amor lança um olhar que rebenta a crosta da mesquinharia. Atitudes graciosas ultrapassam o túnel escuro do preconceito até pousarem no resquício divino, ainda virgem, que o coração alberga. Ama quem consegue misturar-se lá dentro, além da barreira da maldade. Só o amor traz à tona uma beleza que outros nem suspeitam existir.

George Bernanos afirmou: A experiência demonstrou-me, tarde demais, que não é possível explicar as pessoas a partir dos seus vícios, mas, pelo contrário, a partir do que conservaram intato, puro, com o que resta neles da infância, por mais profundo que se deva procurá-lo.

Amor, na fé cristã, procura ir além do pecado, além do mau cheiro que meus escrúpulos dizem vir do outro. O clichê de que devemos amar o pecador e odiar seu pecado não se sustenta na vida e no ensino de Jesus. Ele preferiu dizer que devemos amar o pecador e odiar o pecado que nos impede de ser indulgentes, cuidadosos, misericordiosos, com o próximo. Antes de mexer o argueiro do olho do teu irmão, cuida da trave que está no teu.

A alma é solo sagrado. Se me atrevo entrar nesse chão, não tenho o direito de me colocar como fiscal ou juiz, mas como amigo que ajuda a resgatar o melhor que ainda sobrevive nela. Qualquer outra atitude pode pretender ser conservadorismo religioso, jamais o ensino de Jesus de Nazaré.

Soli Deo Gloria


- Ricardo Gondim

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