Jesus é advogado, não juiz

Se Jesus for julgar todos que cometem erros ninguém sobra, pois ninguém é perfeito como ele.

Fonte: Guiame, Sergio Renato de MelloAtualizado: quarta-feira, 6 de março de 2024 às 17:55
(Foto: FreeBible)
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Uma afirmação ingênua, mas necessária. Se todas as leis de César fossem cumpridas com conhecimento da nossa missão divina e pela vontade de cumpri-las não haveria necessidade de tantas prisões. Haveria uma maior consciência do pecado original e de que nosso coração é enganoso e pecador. Seríamos conscientes de que se errarmos teremos que nos arrepender, e isso é difícil depois de o coração já ter sido corrompido.

O que se entende quando se fala que Jesus é o advogado? Existem os advogados dos criminosos, que trabalham pela absolvição de seus clientes, e Jesus é o advogado dos pecadores. Enquanto a confissão do crime diminui a pena, a confissão e arrependimento de pecados leva à salvação eterna. A primeira confissão leva à prisão, a segunda à liberdade. A lei de Jesus é a lei sobre a lei.

Jesus não veio impor regras, leis próprias dele que, por serem melhor, substituem leis anteriores que governavam o mundo cristão daquele tempo de sua encarnação. Cristo veio para confirmar a lei. O que quer dizer isso?

Quantos pessoas atormentadas por suas próprias consciências e até por espíritos malignos, muitas vezes até usando pessoas da própria igreja, que os acusam de terem pecado e perdido a salvação!

Jesus não é metido. Ele não se intromete nas leis do governo. É conhecido e famoso o adágio “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”. Ora, por que Jesus não se mete na trama mundana? Vivemos num mundo livre, sendo certo que Cristo só intervém na vida particular de cada um se cada um quiser e usar a própria fé. Podemos descartar já de pronto, então, qualquer falso Jesus que falsários como Leonardo Boff e Frei Betto dizem ser ele militante.

Jesus convida, não impõe que obedeçamos à sua vontade só por ele ser quem é, o Jesus que faz milagres e salva. Logo, não se pode falar que a sua lei seja obrigatória. Fosse o contrário, se Deus não permitisse liberdades de escolha, mesmo a liberdade de cumprir ou não a sua vontade, não seria perfeito.

Jesus veio passar que a lei não é para ser cumprida na sua literalidade, na sua frieza. Mais importante que o cumprimento da lei é a justiça que está na lei e acima dela. Ser justo não é aplicar a lei acima de qualquer sentimento de justiça.

Jesus deixou por nossa conta. Ou seja, que nós resolvamos nossos conflitos. Não quis se intrometer no mérito de alguma questão entre as pessoas. Analisando a passagem bíblica da adúltera, nota-se que Jesus não se posicionou como julgador. Apesar de toda sua superioridade divina, ele é a própria humildade em pessoa, não querendo nem tendo vindo aqui na condição de um suposto terceiro julgador. Por quê? Porque o primeiro pecado que introduziu o mal no mundo nos fez pecadores por essência, e todos pecam. Logo, se Jesus for julgar todos que cometem erros ninguém sobra, pois ninguém é perfeito com ele foi.

Cristo foi contra a violência. A lei dos homens é impositiva, ou seja, traz sanções a quem descumpri-la independentemente de suas motivações psicológicas, ou seja, para o direito em primeiro lugar está o cumprimento da lei, depois o arrependimento e, se for um crime, a ressocialização. Jesus veio inverter esta transformação. Em primeiro lugar está o arrependimento, depois as consequências legais. Esta consciência impede que a lei valha, seja temida e cumprida por si só. Com o perdão dos pregadores, afirmo que o mero descumprimento de uma regra não leva ninguém para o inferno.

A adúltera não foi apedrejada por aqueles populares que deviam muito bem conhecer a lei, nem condenada por Jesus, porque Jesus tinha revogado o adultério. Não! Jesus não quis mostrar que o adultério era ou não era errado. Ele quis deixar claro que existe lei, a lei deve ser cumprida, mas existe também arrependimento e, acima de tudo, hipocrisia.

O cumprimento formal da lei por si só não basta, tem que ter arrependimento pessoal e individual. Por isso que fariseus e escribas, embora exímios cumpridores da lei numa falsa e hipócrita santidade, no julgamento cristão são menos que os publicanos arrependidos que não eram nada na hierarquia social da época.

Jesus foi socrático, ou Sócrates foi usado por Deus. Conhece-te a ti mesmo. Jesus deixou simbolicamente este recado àqueles que estavam preparados para apedrejar a adúltera e, também, à própria adúltera (lembro, da encenação do momento, os olhos dela fitados em Jesus procurando compreender o que estava acontecendo e, quem sabe, questionando-se).

De tudo, a lei de Jesus não era simplesmente uma lei que poderia ser revogada por outra lei, como o Código Civil. A lei de Jesus, embora não podendo ser chamada simplesmente de lei no seu sentido literal, era e é uma lei eterna, que dizia e diz respeito a coisas eternas.

Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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