A Festa de Purim é uma das mais importantes celebrações do povo judeu. Em 2023, as comemorações começam no início da noite desta segunda-feira, 6 de março, e vai até o início da noite de terça-feira (07).
O evento, que simboliza a libertação dos judeus de uma sentença de morte, conforme registrado no Livro de Ester, é comemorado pelos judeus no mundo inteiro.
No feriado, as crianças se fantasiam, andam pela vizinhança e fazem barulho para receber doces de todos, explica Dominick Hernández, professor de Antigo Testamento e Semitas na Talbot School of Theology, Biola University.
“É um feriado alegre em que os judeus celebram o resgate de seu povo registrado no livro de Ester”, diz.
Em seu artigo “Festa de Purim: A libertação silenciosa e surpreendente de Deus”, Hernández explica como o povo judeu, anos após ano, se lembra de como foi resgatado da conspiração do tirânico Hamã:
“Cada vez que o nome de Hamã é mencionado durante a leitura pública de Ester, os presentes vaiam e fazem barulho para demonstrar seu descontentamento com sua memória (cf. Ex. 17:14)”.
“Para completar a festa, o povo judeu come biscoitos chamados ‘Orelhas de Hamã’ e canta canções de Purim”, diz.
Ester e a história de Purim
O professor diz ainda que para entender melhor sobre o Purim, é necessário conhecer a história e ambientação do livro de Ester, no final do século 6 a.C.
“Foi quando muitos judeus foram levados para o exílio pelos babilônios, que foram então conquistados pelos persas. Os eventos do livro de Ester ocorrem durante um período de amplo domínio persa”, diz.
Hernández explica que Ester foi levada sob a custódia do rei persa Assuero, e seu tio Mordecai a orienta a esconder sua identidade judaica (Est. 2:10, 20). A estratégia dá certo, Assuero se apaixona e se casa com Ester, sem saber sua etnia.
A história apresenta um vilão chamado Hamã, o Agagita, que ascende à posição semelhante ao cargo de primeiro-ministro na Pérsia. Após esta promoção, o rei ordena que todos se curvem e honrem Hamã. “Mordecai não apenas se recusa a se curvar, mas também revela que é judeu (3:4) — fazendo exatamente o que havia ordenado a Ester que não fizesse”, diz Hernández.
O professor explica que Hamã desenvolve ódio pelo povo de Mordecai: “Não bastava que todos se curvassem diante dele, e não bastava matar Mordecai. Hamã decide matar todo o povo judeu por causa da rebelião de Mordecai. E assim, Hamã lança sortes (Purim em hebraico) para determinar o dia terrível em que o povo judeu seria morto (3:6-7)”.
A ação de Mordecai
Quando Mordecai fica sabendo dos planos genocidas de Hamã, ele se encontra com Ester e a convence a ajudar seu povo (4:13–14). Ester convida o rei Assuero e Hamã para uma série de banquetes. Durante o segundo banquete, a rainha revela ao marido que é judia.
“A trama de Hamã para matar os judeus inclui a rainha! Esta é uma revelação terrível, não apenas para o rei, mas também para Hamã, que implora por sua vida – mas sem sucesso. Ele é levado e enforcado (7:7-10)”.
“Neste ponto da história, a redenção do povo judeu ainda não está completa. Outro decreto era necessário para neutralizar o primeiro (8:10-14), um que permitisse aos judeus se defender contra qualquer um que tentasse prejudicá-los (9:6, 12, 16)”, explica o professor Hernández.
“Por este segundo decreto, a aniquilação do povo judeu foi evitada. Aqui está a ironia: a salvação do povo começou no mesmo dia em que Hamã planejou sua destruição lançando sortes. Para o povo judeu, isso foi motivo de grande comemoração, e eles instituíram o novo feriado.”
Purim e os cristãos
Hernández faz conexão entre a Festa de Purim e os cristãos, lembrando que, em Gênesis, Deus promete a Abraão que todas as nações da terra seriam abençoadas por meio dele (Gn 22:18).
“Deus preservou sua promessa por meio do filho de Jacó, Judá. O rei Davi veio do povo de Judá, e Jesus, o Messias, era descendente de Davi (Mt 1:3–6, 16). Em outras palavras, Jesus veio dos judeus para os judeus (João 1:11–14) e por meio dos judeus para todas as pessoas”, resume.
Hernández diz que Deus estava determinado a cumprir sua promessa de abençoar todas as nações por meio do povo judeu através de Jesus. “Deus não pode deixar sua Palavra falhar e está disposto a trabalhar nos bastidores, mesmo em silêncio, para cumprir o que prometeu”.
“Por essas razões, o livro de Ester faz parte de nossa herança como cristãos. É parte da grande história da redenção que mostra o amor de Deus pela humanidade trazendo alguém da linhagem de Abraão para salvar a humanidade”, explica.
Hernández deixa claro que “o poder preservador de Deus não se limita a um grupo de pessoas. Para os cristãos, Purim nos lembra da providência e soberania de Deus sobre todas as vidas humanas”.
“Mesmo quando não queremos colocar Deus em nossa história, somos todos beneficiários da providência de Deus. Como Deus guia todas as circunstâncias para sua glória, somos abençoados por ter um vislumbre do que Deus faz por meio das pessoas — inclusive nós”, finaliza.
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