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Israel

Israel critica ONU pela demora em investigar evidências de estupros e crimes do Hamas

Após 5 meses, observadora da ONU apresentou relatório sobre ataques do Hamas a Israel, com evidências de violência sexual.

Fonte: Guiame, com informações do Times of IsraelAtualizado: terça-feira, 5 de março de 2024 às 12:51
Pramila Patten, observadora da ONU, em coletiva sobre o relatório. (Captura de tela/YouTube/AP)
Pramila Patten, observadora da ONU, em coletiva sobre o relatório. (Captura de tela/YouTube/AP)

A representante das Nações Unidas para crimes sexuais durante conflitos apresentou um relatório nesta segunda-feira (04) na ONU, sugerindo que estupros coletivos ocorreram durante o ataque do Hamas em 7 de outubro em Israel.

Segundo o relatório, há evidências "claras e convincentes" de que reféns foram estupradas enquanto estavam detidas em Gaza e que os abusos contra as mulheres que permanecem em cativeiro continuam.

O documento de 24 páginas, resultado de mais de duas semanas de reuniões no local, afirma que há "motivos razoáveis" para acreditar que o Hamas cometeu violações e abusos sexuais durante o violento ataque em 7 de outubro.

‘Minimizar o relatório’

Em resposta, Israel acusou a ONU de minimizar o relatório e de atrasar a análise das alegações, enquanto tentava silenciar as acusações – algo que o secretário-geral da ONU negou rapidamente.

Ao apresentar o relatório em uma coletiva de imprensa na sede da ONU em Nova York, Pramila Patten, representante especial da ONU para a violência sexual em conflitos, afirmou que havia "informações claras e convincentes de que a violência sexual, incluindo estupro, tortura sexualizada, práticas cruéis, desumanas e degradantes tratamentos" foram cometidos contra reféns mantidas em cativeiro na Faixa de Gaza pelo Hamas.

“A missão foi difícil em termos do que ouvimos e dos detalhes”, disse Patten para os jornalistas.

“Vimos um catálogo das formas mais extremas e desumanas de tortura e outros horrores”, disse ela, observando que a sua missão “não tinha a intenção nem o mandato de ser de natureza investigativa”.

‘Investigação completa’

A equipe da ONU destacou que seria necessária uma "investigação completa" para determinar a extensão total, o alcance e a atribuição específica da violência sexual.

Patten afirmou que visitou Israel e a Cisjordânia por 2 semanas e meia, onde se reuniu com representantes de 33 instituições israelenses, além de 34 pessoas, incluindo sobreviventes e testemunhas, reféns libertados, socorristas e outros.

Ela observou que não teve a oportunidade de se encontrar com nenhum sobrevivente de violência sexual, pois foi informada de que o pequeno número de sobreviventes vivos está recebendo "tratamento especializado para traumas" e não pode compartilhar suas experiências.

5 mil imagens

A equipe da ONU também teve acesso e analisou 5 mil imagens fotográficas e “cerca de 50 horas de filmagem” dos ataques. Devido ao conflito ainda em curso, Patten disse que não pediu para visitar Gaza também.

Patten afirmou que, com base na coleta de evidências, há motivos razoáveis para acreditar que "estupros coletivos" ocorreram durante os ataques de 7 de outubro em pelo menos três locais: no festival de música Supernova, no Kibutz Re'im, e ao longo das proximidades da Rota 232.

Na maioria desses casos, ela disse que as evidências mostram que as vítimas foram "primeiro sujeitas a violação e depois mortas", observando também "dois incidentes" que indicam a violação de cadáveres de mulheres.

Palco de assassinatos

O local onde aconteceu o festival de música, disse Patten, foi palco de “assassinatos brutais em massa”, observando que muitos corpos foram encontrados amplamente queimados ou desfigurados, e que havia também um “padrão recorrente de vítimas encontradas total ou parcialmente despidas, amarradas e baleadas”.

Ela também observou que “algumas alegações” de violência sexual no Kibutz Be'eri foram consideradas infundadas, incluindo uma história sobre o feto de uma mulher grávida ter sido cortado do seu corpo, enquanto outras alegações simplesmente não puderam ser verificadas.

Patten acrescentou que entrevistas conduzidas na Cisjordânia, tanto com homens quanto com mulheres palestinas detidas, revelaram alegações de tratamento "cruel, desumano e degradante" por parte das forças de segurança israelenses, incluindo relatos de “violência sexual sob a forma de revistas corporais [e] ameaças de violação”.

‘Demora em reconhecer’

O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, criticou o organismo internacional por demorar a reconhecer o que aconteceu na periferia de Gaza em resposta ao relatório.

“A ONU levou cinco meses para finalmente reconhecer os horríveis crimes sexuais que ocorreram durante o ataque do Hamas em 7 de outubro”, disse Erdan num comunicado.

“Agora que o relatório das atrocidades e abusos sexuais que os nossos reféns estão sofrendo em Gaza está a sendo divulgado, a vergonha do silêncio da ONU – que não está sequer realizando uma audiência sobre o assunto – clama aos céus.”

O ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, anunciou que estava chamando o embaixador Gilad Erdan de volta a Israel para discussões sobre como avançar, citando o "silenciamento" da questão pela ONU como motivo para essa ação.

Katz criticou o secretário-geral da ONU, António Guterres, por não ter convocado uma reunião do Conselho de Segurança "para declarar o Hamas um grupo terrorista e impor sanções aos seus apoiadores". Ele afirmou que Israel ainda não ouviu "uma palavra" do chefe da ONU sobre o relatório, acrescentando: "Guterres, acorde".

O porta-voz de Guterres negou que estivesse tentando suprimir o relatório.

“O trabalho foi feito de forma minuciosa e ágil. De forma alguma o secretário-geral fez alguma coisa para manter o relatório 'silencioso'. Na verdade, o relatório está sendo apresentado publicamente hoje”, disse Stephane Dujarric à AFP.

Grupos de defesa de mulheres

Israel fez críticas a grupos internacionais de mulheres que ignoraram as evidências do uso de violência sexual como arma pelo Hamas durante os ataques.

Demorou cerca de oito semanas para que a ONU Mulheres, um grupo de direitos das mulheres sob a tutela da ONU, divulgasse e logo apagasse, uma condenação do ataque de 7 de outubro.

Mais uma semana se passaria antes que a agência registrasse a existência de “relatórios perturbadores de violência sexual e de gênero em 7 de outubro”.

A resposta tardia gerou indignação entre grupos feministas judeus e israelenses, que começaram a usar a hashtag "#MeToo_UNless_UR_A_Jew" e acusaram o silêncio da ONU de ser motivado pelo antissemitismo.

A campanha ganhou força em dezembro, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, denunciando publicamente grupos internacionais de mulheres por ignorarem as provas crescentes de que o Hamas tinha utilizado a violação como arma de guerra.

Depois, naquele mês, o New York Times publicou uma reportagem contundente sobre a extensão da violência sexual durante os ataques de 7 de outubro.

 

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