O novo presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, afirmou que Damasco está empenhado em normalizar os laços com Israel, conforme relatado pelo congressista americano Cory Mills à Bloomberg, após uma reunião realizada na semana passada na Síria.
Mills afirmou ter discutido com Sharaa as condições para a retirada das sanções econômicas impostas pelos EUA, além da possibilidade de estabelecer paz com Israel, conforme mencionado no relatório.
Durante a reunião, Sharaa afirmou a Mills que a Síria está disposta a aderir aos Acordos de Abraão "sob as condições certas".
Esses acordos de normalização foram negociados pelo governo anterior do presidente dos EUA, Donald Trump, entre Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos.
Segundo Mills, Sharaa demonstrou disposição para esclarecer como pretende abordar a questão dos combatentes estrangeiros ainda ativos na Síria e oferecer garantias a Israel, que permanece profundamente cético em relação ao líder sírio e contrário à flexibilização das sanções.
Economia devastada
A nova liderança islâmica da Síria tem pressionado os EUA e a Europa pela suspensão total das sanções, buscando reativar uma economia devastada por mais de uma década de guerra civil.
Membro dos comitês de Relações Exteriores e Serviços Armados, Mills e Marlin Stutzman, congressista de Indiana, visitaram Damasco na sexta-feira, marcando a primeira ida de legisladores americanos à Síria desde a queda de Bashar al-Assad em dezembro, após uma ofensiva rebelde islâmica.
Mills reuniu-se com Sharaa na noite de sexta-feira. Apesar de ainda estar sob sanções dos EUA e da ONU devido a seus antigos vínculos com a Al-Qaeda, Sharaa discutiu com Mills, por cerca de 90 minutos, questões relacionadas às sanções americanas e ao Irã.
Em entrevista à Bloomberg, Mills disse que entregará a Trump uma carta de Sharaa, sem revelar detalhes sobre seu conteúdo, e que, após sua viagem, informará o presidente dos EUA e o Conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz.
“Estou cautelosamente otimista e procuro manter um diálogo aberto”, disse Mills.
Mills e Stutzman, republicanos aliados de Trump, visitaram áreas devastadas da capital síria, reuniram-se com líderes cristãos e planejaram encontros com ministros sírios.
“Há uma oportunidade aqui – essas oportunidades surgem uma vez na vida”, disse Stutzman à Reuters. “Não quero que a Síria seja empurrada para os braços da China, ou de volta para os braços da Rússia e do Irã.”
Sanções americanas
No mês passado, os EUA apresentaram à Síria uma lista de condições para obter alívio parcial das sanções, como a remoção de combatentes estrangeiros de cargos de liderança. Contudo, o governo Trump teve pouca interação com os novos líderes.
Stutzman relatou que sírios em Damasco mencionaram ataques israelenses a instalações militares no sul e arredores da capital. Israel enviou tropas para uma zona-tampão no sul da Síria e mantém desconfiança em Sharaa.
“Minha esperança é que um governo forte seja estabelecido na Síria, que apoie o povo sírio, e que o povo sírio apoie o governo — e que a relação entre Israel e a Síria possa ser forte. Acho que isso é possível, sinceramente, acredito”, disse Stuzman.
Entre as exigências dos EUA para suspender as sanções à Síria estão a eliminação de estoques remanescentes de armas químicas e a colaboração no combate ao terrorismo, conforme fontes relataram à Reuters no mês passado.
Caso todas as exigências fossem atendidas, Washington ofereceria algum alívio nas sanções, segundo as fontes. Uma medida específica seria a extensão, por dois anos, de uma isenção já existente para transações com instituições governamentais sírias, além da possível emissão de uma nova isenção.
Os EUA emitiriam uma declaração em apoio à integridade territorial da Síria, segundo a Reuters, mas Washington não apresentou um cronograma definido para o cumprimento das condições.
Os objetivos da Síria e a desconfiança de Israel
Em uma entrevista concedida à The Economist em fevereiro, Sharaa afirmou que não descarta a normalização regional, embora tenha destacado a complexidade de realizá-la com Israel.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de estabelecer laços com Israel como parte de um acordo de paz abrangente no Oriente Médio, Sharaa afirmou que a Síria "deseja paz com todas as partes, mas a questão israelense é tratada com grande sensibilidade na região".
Ele mencionou as três grandes guerras entre Israel e a Síria, além do controle israelense sobre as Colinas de Golã, capturadas em 1967, como pontos de alta complexidade.
Desde então, Israel anexou a porção das Colinas de Golã conquistada em 1967, medida reconhecida por Trump durante seu último mandato, mas rejeitada pela comunidade internacional.
“Entramos em Damasco há apenas dois meses, e há muitas prioridades pela frente, então é muito cedo para discutir tal assunto, pois requer uma ampla opinião pública. Também requer muitos procedimentos e leis para discuti-lo e, para ser honesto, ainda não o consideramos”, disse Sharaa na época.
Acordos de Abraão
Carmit Valensi, pesquisador sênior sobre a Síria e líder do programa da arena norte do Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) em Tel Aviv, afirmou que o interesse de Sharaa em aderir aos Acordos de Abraão não é surpreendente.
“A Al-Sharaa fez vários comentários nos últimos meses expressando interesse na paz com seus vizinhos [da Síria] e dizendo que não tem desejo de entrar em conflito com Israel”, disse ela ao The Times of Israel.
Valensi reconheceu "a política contida e cautelosa" que Sharaa adotou em relação a Jerusalém, dizendo que "apesar da presença das IDF em território sírio, apesar dos ataques aéreos intensos e da exigência de Israel de desmilitarizar o sul da Síria, [os líderes sírios] não tentaram agir contra ou desafiar Israel – na verdade, eles geralmente mantiveram uma retórica moderada em relação a ele".
Um dia após a queda do regime de Assad, Israel mobilizou tropas para uma zona-tampão patrulhada pela ONU, que separa forças israelenses e sírias nas estratégicas Colinas de Golã.
Embora as Forças de Defesa de Israel (IDF) tenham classificado a presença como temporária e defensiva, o Ministro da Defesa, Israel Katz, declarou que as tropas permanecerão na região "por tempo indeterminado".
Israel reiterou sua desconfiança no Hayat Tahrir al-Sham, facção islâmica liderada por Sharaa, que derrubou Assad e surgiu de um grupo anteriormente afiliado à Al-Qaeda, com o rompimento ocorrendo em 2016. Além disso, Israel manifestou sua determinação em evitar que a Síria seja controlada por regimes hostis.
Delegações de Israel e Turquia reuniram-se no Azerbaijão no início deste mês para discutir o fim do conflito na Síria, buscando prevenir incidentes indesejados enquanto as forças militares de ambos os países atuam na região.
No mês passado, o Ministro das Relações Exteriores, Gideon Sa'ar, criticou Sharaa e apelou por condenação internacional às ações dos novos governantes da Síria, após relatos de um massacre de mais de mil civis no coração alauíta do país.
“Eles eram jihadistas e continuam jihadistas, mesmo que alguns de seus líderes tenham usado ternos”, disse Sa'ar, referindo-se a Sharaa.
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