Netanyahu usa profecia de Balaão em ação contra o Irã: “O povo se levantará como um leão”

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu usou uma referência bíblica para justificar o ataque preventivo de Israel ao Irã, iniciado na madrugada de sexta-feira (13).

Na quinta-feira (12), Netanyahu foi fotografado colocando um bilhete manuscrito em uma fenda do Muro das Lamentações em Jerusalém, o local de oração mais sagrado do judaísmo.

Uma tradição bastante conhecida é a de colocar orações ou pedidos escritos nas fendas do Muro das Lamentações, acreditando-se que ali estão mais próximos de Deus. Foi por isso que Netanyahu inseriu um bilhete manuscrito em uma das rachaduras do muro.

Segundo a mídia, a ação teria sinalizado os então iminentes ataques ao Irã.

O gabinete do primeiro-ministro divulgou na sexta-feira uma foto do bilhete, que dizia "o povo se levantará como um leão".

Leão Ascendente

Israel denominou a operação militar contra o Irã de "Leão Ascendente", nome retirado de um versículo bíblico que promete um futuro vitorioso para um Israel poderoso.

A expressão “Leão Ascendente” – extraída da frase “o povo se levantará como um leão”, mencionada por Netanyahu – vem de Números 23:24, que diz:

“Eis que o povo se levantará como um grande leão, e se levantará como um leão novo; não se deitará até que devore a presa e beba o sangue dos mortos.”

 

 

 

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O versículo faz parte do primeiro oráculo de Balaão, um profeta e adivinho não israelita, onde ele anuncia a força e o poder de Israel, comparando-o a um leão que não descansa até devorar sua presa.

O gesto de Netanyahu teve grande repercussão na comunidade judaica, funcionando como um lembrete das raízes históricas e espirituais que sustentam a determinação da nação.

Balaão e bênçãos para Israel

O Livro de Números é o quarto livro da Bíblia. Nesta parte da narrativa, aparece Balaão – um adivinho, uma espécie de profeta conhecido por sua capacidade de abençoar e amaldiçoar – sendo convocado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar o povo de Israel, o povo escolhido de Deus, que Balaque via como uma ameaça.

Em vez disso, Balaão acaba por abençoá-los, pois Deus o instrui a falar apenas aquilo que Ele ordenar. O versículo em questão faz parte de uma dessas bênçãos, nas quais Balaão descreve, em linguagem poética e simbólica, a força e o poder de Israel.

O versículo transmite a ideia de que Israel será forte, destemido e pronto para agir – como um leão que se levanta para caçar.

O que Balaão quer dizer é que os israelitas são como leões poderosos. Eles não cessarão até vencer. São ferozes e imparáveis. De forma poética, ele afirma que Deus está com eles, e por isso seus inimigos não terão chance.

Balaão profere outros discursos proféticos, continuando a abençoar Israel em vez de amaldiçoá-lo. Ele também prediz a queda dos inimigos de Israel, incluindo Moabe (o povo de Balaque), Edom e outros.

O trecho mais famoso de suas profecias é considerado messiânico por judeus e cristãos: “Uma estrela procederá de Jacó, e um cetro se levantará de Israel…”

Citações bíblicas

Em seu discurso sobre a operação, Netanyahu disse que a ação continuará quantos dias forem necessários.

“Israel jamais permitirá que aqueles que clamam por nossa aniquilação desenvolvam os meios para atingir esse objetivo”, disse Netanyahu, ao anunciar que Israel havia atingido o cerne de armamentos de programa nuclear do Irã.

O primeiro-ministro afirmou que o Irã tenta cercar Israel com um “anel de fogo” para atacar o país como aconteceu em 7 de outubro, com a invasão de terroristas do Hamas ao solo israelense que fez centenas de vítimas.

Netanyahu também recorreu a uma paráfrase de um ensinamento do Talmude, registrado em Sanhedrin 72a – parte de um debate rabínico sobre autodefesa – ao declarar: “‘Quando alguém vier para matá-lo, levante-se e aja primeiro.’ É exatamente isso que Israel faz hoje. Nós nos levantamentos como leões para nos defender.”

Ele também citou Moisés e falou sobre a mensagem que, segundo Netanyahu, “nos fortalece desde então: ‘Sejam fortes e corajosos’.”

“Hoje, nossos fortes e corajosos soldados e povo se unem para nos defender daqueles que buscam nossa destruição”, disse.

Muro das Lamentações

O Muro das Lamentações, situado na Cidade Velha de Jerusalém, é uma imponente estrutura de pedra que restou do Segundo Templo Judaico, destruído pelos romanos no ano 70 d.C.

O muro representa o ponto mais próximo que se pode alcançar do antigo Santo dos Santos – o lugar mais sagrado do Templo, onde se acreditava que a presença divina habitava.

Como os judeus são impedidos de orar no Monte do Templo, em razão de restrições religiosas e tensões políticas, o Muro das Lamentações tornou-se o principal espaço de oração e peregrinação judaica.

Com o tempo, passou a representar a resistência e a resiliência do povo judeu diante de séculos de destruição, exílio e retorno à sua terra.