Cuba e liberdade religiosa: Como anda esta conturbada relação?

Diferente do que muitos pensam, a perseguição religiosa em Cuba é uma realidade que tem se arrastado por décadas e ainda coloca a nação e sua gestão do regime comunista em uma difícil situação com relação ao respeito aos Direitos Humanos.

Fonte: GuiameAtualizado: quinta-feira, 31 de março de 2016 às 11:37
Igreja Matriz de Cuba. (Foto: Vitor Oliveira / Portuguese Eyes)
Igreja Matriz de Cuba. (Foto: Vitor Oliveira / Portuguese Eyes)

Na semana passada, o presidente Barack Obama realizou uma visita considerada histórica a Cuba. Mas será que as expectativas - de cubanos, norte-americanos e ativistas de Direitos Humanos - não teriam sido um tanto frustradas?

Mesmo com uma relativa reaproximação entre as nações, após a suspensão do embargo econômico que durou quase 60 anos e a reabertura de uma embaixada norte-americana na ilha, o clima da visita de Obama não foi lá tão amigável.

Antes de fazer a tão esperada visita, Obama deixou claro que abordaria assuntos 'delicados', como a falta de liberdade de consciência - o que inclui não apenas o discurso livre, mas também a liberdade religiosa - e realmente o fez.

"Tenho que falar honestamente sobre as coisas que eu e o povo americano acreditamos. Eu acredito, mas não posso obrigar vocês a acreditar, mas acho que deveriam. Acredito que todos devem ser iguais perante a lei e que não devem ter medo de falar o que pensam. Que todos devem ter liberdade para praticar a fé que acreditam e que devem votar em eleições democráticas. Os direitos humanos são universais, para americanos, cubanos e todo o mundo", afirmou Obama.

"É tempo de deixarmos o passado para trás e pensar num futuro juntos. Um futuro de esperança", completou.

Porém o discurso de Obama não foi bem recebido pelo ex-presidente cubano, Fidel Castro, que repeliu com veemência, a fala do presidente norte-americano.

"Não necessitamos que o império nos presenteie com nada. Nossos esforços serão legais e pacíficos, porque é nosso compromisso com a paz e a fraternidade de todos os seres humanos que vivem neste planeta", disse Castro ao se referir sobre a proposta de mudanças e a suspensão do embargo econômico.

"Somos capazes de produzir os alimentos e as riquezas materiais que necessitamos com o esforço e a inteligência de nosso povo", ressaltou.


Perseguição religiosa
Diferente do que muitos pensam, a perseguição religiosa em Cuba é uma realidade que tem se arrastado por décadas e ainda coloca a nação e sua gestão do regime comunista em uma difícil situação com relação ao respeito aos Direitos Humanos.

Entre os diversos e impactantes testemunhos que comprovam esta realidade está o fato que acabou batendo à porta desta visita histórica de Obama a Havana.

O pastor Mario Felix Lleonart de Barroso foi preso no domingo (20), horas antes da chegada do presidente norte-americano a Havana. A casa de Mario havia sido cercada por policiais naquela manhã e ele foi levado à prisão, enquanto sua esposa e duas filhas permaneceram detidas em sua própria casa.

Em outro fato que evidencia ainda mais a perseguição religiosa na ilha cubana, a 'Emanuel Church' - uma igreja filiada ao Movimento Apostólico, denominação protestante não registrada - foi demolida pelas autoridades locais no início de fevereiro e 200 pessoas foram presas.

Com certas semelhanças à prisão do pastor Mario, o reverendo Alain Toledano - líder da 'Emanuel Church' - também teve sua casa cercada por policiais e militares, às 5h da manhã.

Anteriormente, no dia 08 de janeiro, dois outros templos da mesma denominação já haviam sido demolidos, nas províncias de Camaguey e Las Tunas.


Histórias escritas com sangue
O sofrimento do ex-funcionário do governo cubano, Armando Valladares também comoveu centenas de milhares de cristãos recentemente.

Preso em 1960, o cristão foi torturado por 22 anos em uma prisão cubana e atualmente é uma das principais vozes na luta pela liberdade religiosa em Cuba.

Durante sua prisão, Valladares ocupou grande parte de seu tempo, escrevendo cartas e poesias, que sua mulher, Martha, enviava clandestinamente para fora de Cuba, com o objetivo de publicá-las - o que criou um clamor internacional por sua libertação e uma consciência global sobre a perseguição que prisioneiros políticos (e também por motivos religiosos) cubanos sofreram.

Considerando-se que ele geralmente não tinha canetas, lápis ou folhas de papel para escrever, ele acabou usando qualquer coisa que que encontrava para produzir suas cartas e poemas. Valladares muitas vezes reaproveitou papéis de cigarro e até mesmo usou chegou a usar o seu próprio sangue como tinta para escrever.


Esperança
A lenta reaproximação de Cuba e Estados Unidos surge como uma ponta de esperança em um cenário no qual o desespero e o desrespeito às liberdades de consciência / religião ainda marcam os cidadãos cubanos.

Em julho de 2015, a abertura do país a receber 83.000 Bíblias animou ainda mais os cristãos na ilha, porém a recente resposta de Fidel Castro - que apesar de não governar mais efetivamente, ainda tem grande influência política - ao discurso de Obama pode dar uma ideia do quão lento pode ser esse processo abertura do país ao Evangelho.

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