O pastor Ramon Rigal e sua esposa, Ayda Expósito, foram detidos no início desta semana em Guantánamo, confirmou a organização britânica Christian Solidarity Worldwide (CSW). O motivo é a recusa do casal em enviar seus filhos para escolas públicas devido a educação socialista e ateísta que lá é transmitida.
A família, que pertence à Igreja de Deus em Cuba, recebeu a informação de que seria julgada 30 minutos antes do início do julgamento, em 18 de abril, e prosseguiu durante a tarde, mas foi suspensa até segunda-feira, 22 de abril.
No jornal Diário de Cuba, a jornalista independente Yoe Suarez relata que em dois processos judiciais anteriores contra o casal Rigal, “o promotor indicou que a educação em casa ‘não é permitida em Cuba porque tem uma fundação capitalista’ e que apenas professores [do governo] são preparados ‘para instilar valores socialistas’”.
Os filhos de Rigal e Expósito estão matriculados em uma escola cristã particular localizada na Guatemala e estão concluindo sua educação on-line por meio de um programa oferecido pela escola. Rigal afirmou que seu desejo de educar seus filhos em casa decorre de sua preocupação, como cristão, com o papel das escolas cubanas em doutrinar as crianças no socialismo e no ateísmo.
Pais cristãos, especialmente os pastores, relatam que seus filhos são muitas vezes escolhidos por ridicularização ou intimidação pelos administradores da escola por causa de suas crenças religiosas. Em Cuba não existem alternativas legais às escolas estatais.
O julgamento sumário de Rigal e Expósito vem em um momento particularmente tenso para grupos religiosos em Cuba após a adoção de uma nova constituição que enfraqueceu as proteções à liberdade de religião ou crença e que muitos líderes religiosos se opuseram publicamente.
Nas últimas semanas, algumas das maiores denominações protestantes, incluindo a Igreja Metodista, a Liga Evangélica e a Convenção Batista Oriental relataram que foram proibidas de receber visitantes estrangeiros, em aparente retaliação à formação de uma Aliança Evangélica Cubana independente.
Nos últimos dez dias, vários pastores associados ao Movimento Apostólico, incluindo os pastores Alain Toledano e Marcos Perdomo, foram citados e interrogados pela polícia. No Granma, um pastor da Igreja Nazarena informou que recebeu na quinta-feira a notícia de que a propriedade onde sua igreja está localizada há 20 anos está sendo confiscada.
Manifestação em prol da família Rigal em frente à sede diplomática de Havana, em Washington.(Foto: Michael Ireland / ASSIST News)
Anna-Lee Stangl, chefe conjunta da Advocacia da CSW, disse: “Estamos profundamente preocupados com o julgamento sumário de Ramon e Ayda e a perspectiva de que ambos possam estar enfrentando uma pena de prisão significativa, deixando seus filhos nas mãos do governo cubano”.
Ela disse ainda que “numerosos grupos religiosos, incluindo a Igreja Católica, levantaram repetidamente a questão da falta de opções em Cuba quando se trata de educação primária e secundária, especialmente para pais que não querem que seus filhos sejam ensinados de um currículo que promove agressivamente o ateísmo, sem sucesso”.
A advogada informa também que, ao longo dos anos, a CSW recebeu inúmeros casos de crianças de pastores que foram agredidas e ridicularizadas na escola por causa de suas crenças religiosas, chegando ao ponto de causar sérios traumas psicológicos.
“Isso é inaceitável. Pedimos ao governo cubano que liberte Ramon e Ayda e garanta que todas as crianças em Cuba possam estudar livres de assédio, independentemente das crenças religiosas de sua família”, reivindica Anna-Lee.
Educação cristã
O casal de líderes religiosos ganharam notoriedade em 2017, quando enfrentaram um julgamento por reivindicar seu direito à educação escolar em casa, ou ensino familiar, de sua filha mais velha, Ruth.
Essa prática, comum em países da Europa e dos Estados Unidos, é proibida em Cuba, onde o sistema educacional está sob o controle do Partido Comunista.
Uma fonte de liderança evangélica próxima a Rigal explicou que o casal “lidera nove famílias há mais de dois anos que tiraram as crianças de escolas públicas e iniciaram o programa de aulas em casa”, com enfoque cristão.
“Por mais de um ano, o governo não pôde mudar de opinião e sancionou Rigal e sua esposa no tribunal”, disse a fonte.
“As outras nove famílias não foram sancionadas na época, nem as crianças retornaram às escolas estaduais”, acrescentou a fonte.
Em maio de 2017, Rigal e Expósito foram detidos pela polícia.
“Aqui os pais não têm o direito de dar aos filhos a educação que eles querem, mas a que é oferecida pelo Estado através de seu sistema educacional”, disse a fonte da igreja.
Após os dois processos judiciais, o casal foi condenado a um ano de prisão domiciliar, o que levou a uma manifestação em frente à sede diplomática de Havana, em Washington.
“Agora foi que eles reagiram novamente”, disse a fonte evangélica em referência à detenção nesta quarta-feira, coincidindo com o fim do ano de prisão domiciliar.
Em um vídeo publicado pela Associação de Defesa Legal da Escola Doméstica (HSLDA, na sigla em inglês), Rigal denunciou que o governo cubano não os quer no país, mas tampouco os deixam sair.
Sua filha Ruth foi ameaçada pelas autoridades. “Eles disseram que iam me separar dos meus pais e eles seriam mandados para a prisão”, disse a jovem.
“Já tínhamos muitas coisas vendidas e as passagens aéreas compradas, mas não nos deixaram sair do país”, lamentou Expósito.
HSDLA coletou mais de 30.000 assinaturas na internet, na citizengo.org, exigindo o fim da violação do direito das famílias cubanas de praticar homeschooling.
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