Pastor conhecido como 'Schindler asiático' se arrisca para salvar escravas sexuais na China

O pastor Chun ajuda mulheres norte-coreanas que se tornam vítimas do tráfico humano ao tentarem fugir da ditadura de Kim Jong Un.

Fonte: Guiame, com informações do Christian PostAtualizado: quinta-feira, 13 de junho de 2019 às 14:37
Pastor Chun já resgatou mais de 1.000 mulheres do tráfico sexual na China. (Foto: The GroundTruth Project)
Pastor Chun já resgatou mais de 1.000 mulheres do tráfico sexual na China. (Foto: The GroundTruth Project)

Várias mulheres norte-coreanas traficadas como escravas no mercado ilegal e multimilionário da prostituição virtual na China encontraram liberdade e cura graças aos esforços de um pastor sul-coreano conhecido como "Schindler asiático".

Em entrevista à CNN, uma desertora da Coreia do Norte chamada "Lee" contou como ela permanuceu presa por cinco anos com diversas outras outras garotas em um minúsculo apartamento no nordeste da China, depois que uma pessoa em quem confiou para ajudar-lhe em sua fuga da ditadura de norte-coreana se revelou como parte de uma quadrilha de tráfico humano, que a vendeu por 30.000 yuan (cerca de US$ 4.500).

"Quando descobri, me senti tão humilhada", disse ela à CNN. "Comecei a chorar e pedi para sair de lá, mas o chefe da casa disse que pagou muito dinheiro por mim e agora eu tinha uma dívida com ele".

Durante anos, Lee foi forçada a realizar vários atos sexuais em uma sala de bate-papo e só era autorizada a deixar o minúsculo apartamento uma vez a cada seis meses. Seu captor, um sul-coreano, confiscava o dinheiro de todas as garotas e também abusava delas fisicamente se ousassem pedir indenização.

Em 2015, Lee tentou escapar por uma janela, descendo por um dreno de metal, mas ela caiu e acabou machucando as costas e pernas. Após a queda, ela também ficou com um problema permanente na perna que a faz mancar até hoje.

"Eu senti vontade de morrer 1.000 vezes, mas eu não podia nem me matar, pois o chefe sempre estava nos observando", disse ela. "Durante esses passeios, ele sempre ficava ao nosso lado, então nunca conversávamos com ninguém".

Esperança

Mas em 2018 tudo mudou.

"Um dos meus clientes percebeu que eu era norte-coreana e estava sendo mantido em cativeiro", disse Lee. "Então ele comprou um laptop e me deixou controlar a tela remotamente para que eu pudesse enviar mensagens sem que meu chefe percebesse".

O homem também deu a ela o número de telefone de Chun Ki-Won, um empresário sul-coreano que se tornou pastor e resgatou centenas de vítimas traficadas da Coreia do Norte nas últimas décadas.

Chun foi apelidado de "Schindler ásiatico" na mídia coreana por causa de seus esforços, comparado a Oskar Schindler, o empresário alemão e membro do Partido Nazista que salvou a vida de 1.200 judeus.

Em setembro de 2018, Lee entrou em contato com o pastor Chun por meio de um serviço coreano de mensagens e escreveu: "Oi, eu quero ir para a Coreia do Sul. Você pode me ajudar?"

Nas semanas seguintes, Lee explicou ao pastor como ela havia caído em um golpe e acabou em um quarto onde era mantida como escrava para pornografia virtual, além de revelar a localização de seu apartamento e as rotina de seu chefe.

Durante o chat, o pastor disse a Lee: “Não se preocupe, nós vamos resgatá-lo”. E ela respondeu enquanto chorava: “Obrigada. Estou com medo".

O resgate

Em outubro do ano passado, Chun enviou uma equipe para Yanji, com o objetivo de resgatar Lee e outra garota chamada Kwang. As duas foram retiradas do apartamento pela do quarto andar, usando diversos lençóis amarrados como uma "corda" improvisada. Em poucos minutos, elas já estavam dentro de um carro, a caminho da Coreia do Sul.

Depois de quase uma semana de viagem, elas chegaram à Coreia do Sul e passaram vários meses em um centro de recuperação, onde receberam apoio e também aprenderam sobre o cotidiano do país, como usar o metrô, tirar dinheiro em um caixa eletrônico e comprar alimentos em um supermercado. Em seguida, elas receberam um passaporte sul-coreano, foram encaminhadas a um apartamento subsidiado e receberam o direito de se matricular em uma universidade gratuitamente.

Hoje, Lee espera se tornar professora, enquanto Kwang, que deixou a escola aos 12 anos, quer concluir seus estudos e se formar.

"Eu nunca tive o luxo de me perguntar o que fazer com a minha vida", disse Kwang.

Contexto

Embora o número exato de desertores norte-coreanos que são forçados ao tráfico de seres humanos na China e em outros países asiáticos não seja claro, especialistas dizem que um número crescente de mulheres está fugindo da Coreia do Norte para a Coreia do Sul.

A Coreia do Sul diz que recebeu mais de 32 mil 'desertores' desde 1998. Só no ano passado, o país recebeu 1.137 pessoas que fugiram da ditadura de Kim Jong Un - e 85% dessas pessoas eram mulheres.

Anteriormente, Chun disse à NBC News que cerca de 99% dos desertores da China entram no país através do tráfico de seres humanos.

"Como há uma grande demanda por mulheres na China, os chineses pagarão à patrulha de fronteira para trazer mulheres", disse ele. "As norte-coreanas só sabem que estão sendo vendidas quando elas escapam de seu país, então elas naturalmente fogem para cair no tráfico humano".

A organização de ajuda cristã de Chun, Durihana ajudou mais de 1.000 desertores a chegarem a Seul desde 1999. A missão do grupo é unir as Coreias do Norte e do Sul, usando o Evangelho.

O chamado

O site da organização observa que Chun fundou a Durihana depois de encontrar o corpo de uma mulher norte-coreana que congelou até a morte, enquanto tentava escapar de seu país, atravessando o rio que fica na fronteira entre a Coreia do Norte e a China.

Ao ver isso, Chun deixou uma lucrativa carreira de empresário, foi para o seminário e se tornou pastor, dedicando sua vida a proclamar o Evangelho de Jesus ao povo norte-coreano.

Em 2001, Chun foi preso na fronteira da China com Mongólia, enquanto ajudava um grupo de desertores norte-coreanos a escaparem. Ele foi mantido em uma prisão chinesa por nove meses e finalmente libertado em agosto de 2002.

Hoje, os resgates são mais perigosos do que nunca, disse o pastor, especialmente com o avanço da tecnologia. Além disso, o ditador norte-coreano Kim Jong Un classificou Chun como um "câncer que deveria ser erradicado".

"A Coreia do Norte anuncia que vai me matar uma ou duas vezes por ano", disse ele à NBC News. "A China também já enfatizou que quer me capturar".

Mas, apesar dos riscos, Chun disse que continuará ajudando a resgatar os norte-coreanos do “reino físico e espiritual das trevas sob o qual eles vivem, para proclamar ao povo norte-coreano a redenção que está em Cristo Jesus, e para servi-los e fortalecê-los com compaixão ao reconstruírem suas vidas ... não importando o custo".

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