
Cristãos foram caçados e mortos durante o massacre de civis cometido pelo grupo rebelde islâmico Forças de Apoio Rápido do Sudão (RSF), no Sudão.
De acordo com a International Christian Concern, que monitora a perseguição no mundo, os combatentes da RSF cometeram atrocidades contra a população cristã durante a tomada de el-Fasher.
No dia 27 de outubro, o grupo rebelde assumiu o poder da última cidade controlada pelo governo no estado de Darfur.
Vídeos, verificados pela imprensa, mostram combatentes da RSF realizando execuções dentro e ao redor de el-Fasher após a tomada da cidade.
"As RSF entraram, mataram civis cristãos indiscriminadamente", disse um médico sudanês, ao ICC.
Os militantes ainda incendiaram bairros cristãos, igrejas e casas. Famílias inteiras foram brutalmente assassinadas.
"Eles entraram em nossa aldeia, gritando com os cristãos, nos chamando de infiéis", disse um sobrevivente chamado Jok*.
"Eles incendiaram a igreja e as chamas subiram mais alto, consumindo tudo. Eles arrastaram homens de suas casas, os massacrando e atirando neles. Ouvi seus gritos, mas não havia tempo para pensar. Tivemos que correr. Deixamos tudo para trás”, lembrou ele.
Outra sobrevivente, chamada Garang*, perdeu o irmão durante o ataque: "Estávamos no mercado quando o RSF invadiu. Os soldados não se importavam com quem estava lá ou com o que tínhamos. Eles simplesmente começaram a atirar. Vi meu irmão cair bem na minha frente. Eles queimaram todo o mercado até o chão. Eu fugi para minha segurança”.
Os moradores que fugiram de el-Fasher não foram poupados pelo RSF. Cristãos – incluindo mulheres, crianças e idosos – foram caçados e mortos enquanto tentavam escapar.
Analistas da Universidade de Yale, que verificaram os vídeos do massacre, afirmaram que os combatentes foram de casa em casa para matar os civis.
A crueldade do grupo islâmico foi tanta que chegou ao ponto dos rebeldes atacarem até os hospitais de El Fasher, que foram reduzidos à ruínas.
As RSF bombardearam a maternidade do hospital principal da cidade, matando 460 pessoas.
"Os hospitais não estão mais funcionando. As paredes da clínica estão manchadas com o sangue dos inocentes. Outras clínicas foram incendiadas. As pessoas estão morrendo nas ruas e não há nada que possamos fazer”, contou um médico sudanês.
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Ao jornal Deutsche Welle (DW), sobreviventes do massacre também relataram que civis foram estuprados e espancados pelos militantes.
Conforme o governo do Sudão, mais de 2.000 civis foram mortos desde que os rebeldes tomaram a cidade.
“O que se seguiu nos dias seguintes foi um pesadelo de genocídio. O ataque às comunidades cristãs em Darfur se tornou uma campanha explícita para apagar sua existência na região. Não era apenas a morte física que eles procuravam; foi a destruição de tudo o que tinham. Os sobreviventes precisam de ajuda. Eles precisam de proteção. Eles precisam de justiça”, declarou o International Christian Concern.
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Vídeos das atrocidades
Imagens de satélite, revisadas pelo Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale, também revelaram montanhas de corpos em áreas rurais, confirmando os assassinatos em massa.
Vídeos das atrocidades foram compartilhados nas redes sociais pelos próprios combatentes, como um “troféu”.
Em uma das imagens, compartilhadas em uma reportagem do jornal DW, um militante exibe os corpos de vítimas no chão e diz: “Alá é grande. Eles estão caindo como moscas, ou vencemos ou morremos”.
Outro vídeo mostrou um rebelde da RSF atirando em um homem desarmado sentado entre dezenas de cadáveres, em um prédio de uma universidade. Outra gravação exibiu um combatente conhecido como Abu Lulu abrindo fogo contra nove prisioneiros desarmados, enquanto membros da RSF aplaudiam.
Guerra civil
Conforme a Missão Portas Abertas, a guerra civil entre a RSF e as Forças Armadas Sudanesas iniciou em abril de 2023.
Os rebeldes e as forças do governo disputam pelo controle de partes do Sudão e de seus recursos naturais. O conflito já matou mais de 40.000 pessoas. Houve várias tentativas de mediação de paz, porém todas fracassaram.
Além disso, mais de 14 milhões de sudaneses se tornaram deslocados para fugir da violência. Mais de 4 milhões se refugiaram em países como Chade, Etiópia, Sudão do Sul, Uganda e Egito.
Abuso sexual de crianças e mulheres
A Portas Abertas relatou que atrocidades têm sido cometidas contra civis durante a guerra civil.
“A guerra tem deixado um rastro de traumas. O povo sudanês testemunhou e sofreu atos horríveis pelas mãos da SAF e RSF: violência sexual e física, tortura e execuções. Relatórios chocantes revelam que mulheres, meninas e até crianças menores de cinco anos sofreram violência sexual. Esse tipo de violência é usado como arma de guerra para aterrorizar e traumatizar civis”, afirmou.
“Homens e meninos civis também não são poupados neste conflito. Eles são frequentemente os primeiros a morrer em conflito, e também enfrentam violência sexual’, acrescentou.
Além de serem afetados pela guerra, os cristãos no Sudão (4% da população) ainda enfrentam a perseguição por parte da SAF e RSF, que são seguidores do Islã.
“Aqueles que persistem em seguir a Jesus são marginalizados onde quer que estejam. Apesar disso, muitos líderes cristãos afirmam querer que a Igreja permaneça no Sudão e os cristãos perseverem em sua fé”, relatou a Portas Abertas.
O Sudão ocupa a 5ª posição da Lista Mundial da Perseguição 2025 da Portas Abertas.
*Nomes foram alterados por razões de segurança.
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