É correto dizer que o ‘Apocalipse já começou’? Entenda o último livro da Bíblia

“Apocalipse nos prova que a história não está à deriva, como um caminhão sem freio ladeira abaixo”, disse o pastor Hernandes Dias Lopes.

Fonte: GuiameAtualizado: quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024 às 15:48
Imagem ilustrativa do fim dos tempos. (Foto: Piqsels)
Imagem ilustrativa do fim dos tempos. (Foto: Piqsels)

Atualmente, é muito comum ouvir dizer que o “Apocalipse já começou”, isso porque a palavra foi associada ao “fim do mundo”. Porém, Apocalipse é o nome do último livro da Bíblia e o “fim do mundo” na verdade não é um termo bíblico.

O livro de Apocalipse e outros livros proféticos da Bíblia citam diversas vezes o termo “fim dos tempos” indicando que a história da humanidade foi dividida em alguns tempos específicos e que a história bíblica tem começo, meio e fim. Apocalipse quer dizer “revelação”. 

Logo, o fim dos tempos é o cumprimento das profecias que foram registradas no livro escrito pelo apóstolo João, conforme a ordem de Jesus. A história da humanidade começa em Gênesis e termina em Apocalipse. 

As profecias do Apocalipse já estão acontecendo?

Em Mateus 24, Jesus disse que o fim dos tempos apresentariam vários sinais, entre eles, o aumento acelerado (como as dores de parto) de guerras, terremotos, pragas e pestes, perseguição aos cristãos, surgimento de falsos cristos e o esfriamento do amor. 

A proximidade do fim dos tempos com todos estes sinais é precedida pelo tempo que se chama “princípio das dores”. Em seguida virá o “fim dos tempos” com outros acontecimentos mais graves até a Grande Tribulação e o Juízo Final. 

O que o Apocalipse descreve, porém, sobre o tempo de grande sofrimento, tanto para a humanidade quanto para toda a natureza, não é o fim do mundo. Segundo a Bíblia, o mundo não se acabará antes de outro tempo conhecido como milênio. 

Além disso, o penúltimo capítulo do livro de Apocalipse revela que, depois de tudo, haverá um novo céu e uma nova terra, ou seja, um “novo tempo”. 

Quando todas as profecias se cumprirem, Deus julgará as nações e os povos, e derramará a sua ira sobre os injustos. E separará o joio do trigo, os bodes das ovelhas. O mal será aniquilado e então virá esse novo tempo. Quer dizer que o fim dos tempos anunciará outros começos.

‘Muitos têm medo do Apocalipse’

Conforme o pastor Hernandes Dias Lopes, muitas pessoas sentem medo do Apocalipse: “O livro não trata de uma grande tragédia, mas da vitória de Cristo e da consumação da história”.

“Apocalipse nos prova que a história não está à deriva, como um caminhão sem freio ladeira abaixo, como pensam os existencialistas ateus”, observou o pastor durante uma live em seu canal no YouTube. Hernandes compartilha as linhas hermenêuticas que se aproximam de Apocalipse:

1. Preterismo

Os preteristas acreditam que o livro apresenta fatos passados, já ocorridos no final do primeiro século: “Acreditam que o livro não apresenta mais nada sobre o futuro e que suas palavras olham pelas lentes do retrovisor. Penso que essa linha não faz jus ao livro e não traz consolo para a igreja contemporânea”. 

2. Futurista

Os futuristas acreditam que a parte histórica do livro está apenas nos capítulos 1, 2 e 3. Já do capítulo 4 ao 22 está a parte profética, com uma mensagem para o tempo final que precede a segunda vinda de Cristo. 

“Também penso que essa linha hermenêutica não faz justiça ao livro porque, desde o primeiro século e ao longo da história da igreja, o livro sempre foi atual e relevante”, disse o pastor.

3. Histórica

Os historicistas acreditam que o livro levou uma mensagem oportuna e pertinente para o primeiro século, para as igrejas da Ásia e os cristãos daquela época e também para a atualidade. 

“O livro aponta com eloquência para o tempo do fim e da consumação de todas as coisas. Mas dentro dessa perspectiva de interpretar o livro, há quatro correntes de abordagem”, disse Hernandes ao mencioná-las.

a) Pós-milenismo

“O pós-milenismo, que foi muito forte no período das missões modernas, entende que o milênio não é literal e que o mundo está sendo cristianizado pelo poder do Evangelho”, explicou. 

“Penso que essa corrente tem dificuldades de explicar a apostasia e o esfriamento do amor que a Bíblia cita no tempo do fim. Além dos terremotos, catástrofes naturais e tsunamis”, comentou. 

b) Pré-milenismo histórico

Boa parte dos pais da Igreja subscreveram essa linha pré-milenista: “Porém, o pré-milenismo histórico sendo pós-tribulacionista crê que a segunda vinda de Cristo é única, visível e vai estabelecer o seu reino de mil anos literais na Terra”. 

“Certamente, essa corrente vai encontrar algumas dificuldades em virtude de que o reino de Cristo não é físico, político ou geográfico. O próprio Jesus disse que o reino dele não é deste mundo, mas é espiritual e está dentro de nós”, relacionou.

c) Pré-milenismo dispensacionalista

Hernandes explica que essa é uma linha de interpretação recente na história da Igreja, iniciada a partir do século 19, por John Nelson Darby, na Inglaterra. Boa parte da igreja evangélica brasileira subscreve o pré-milenismo dispensacionalista. 

Entre as ideias principais dessa corrente está a divisão em 7 dispensações, distinção entre Israel e Igreja, onde a Igreja será arrebatada secretamente e antes do começo da Grande Tribulação. Além disso acredita em mais de uma ressurreição.

“É claro que essa visão enfrenta dificuldades por falta de amparo no Novo Testamento para essa ideia de arrebatamento secreto distinto da segunda vinda visível de Cristo e porque Israel e Igreja não são distintos dentro do propósito de Deus. Deus só tem um povo conforme Paulo escreveu em Efésios. Esse povo se chama Igreja e é composto de judeus e gentios”, explicou. 

“Além disso, a Igreja sempre foi martírica e ela não será poupada da Grande Tribulação, mas será arrancada do meio da Tribulação. Esse é o ensino eloquente de todo o Novo Testamento”, completou. 

d) Amilenismo

“O amilenismo prevaleceu na história da Igreja e prevalece até os dias de hoje pelos mais consistentes teólogos. Mas o termo ‘amilenismo’ não é feliz porque o prefixo ‘a’ indica negação e os amilenistas não negam o milênio”, disse.

Hernandes explica que os amilenistas interpretam o milênio de maneira diferente, como algo simbólico, ou seja, figuras que representam realidades espirituais. 

Para o pastor, a humanidade já vive o milênio: “Cristo já está reinando com as almas e o Trono de Deus está nos céus. Cristo não terá um gabinete político com seus ministros terrenos, tomando decisões políticas”.

O pastor concluiu dizendo que o amilenismo é pós-tribulacionista e que a Igreja enfrentará sim a carranca do diabo, a fúria do Anticristo e a perseguição do mundo, mas mesmo assim será vitoriosa. 

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