“Orei por comida e água”, diz homem que viajou escondido em navio da Nigéria até o Brasil

Roman Manesi, de 35 anos, contou ao Fantástico que orava pedindo proteção a Deus durante a viagem.

Fonte: Guiame, com informações de Fantástico e G1Atualizado: segunda-feira, 17 de julho de 2023 às 19:00
Roman Manesi, de 35 anos, orou a Deus por ajuda durante a viagem. (Foto: Reprodução/Fantástico/TV Globo).
Roman Manesi, de 35 anos, orou a Deus por ajuda durante a viagem. (Foto: Reprodução/Fantástico/TV Globo).

A imagem de quatro imigrantes sentados no leme de um navio, após viajarem escondidos por 14 dias, da Nigéria até a costa do Espírito Santo, impressionaram o Brasil, na última semana.

Os nigerianos foram resgatados na segunda-feira passada (10) pela Polícia Federal (PF), após um deles pedir socorro.

“Eles informaram que já estavam há pelo menos três dias sem água num local insalubre, úmido, frio à noite, quente durante o dia. Eles podem também eventualmente cair daquela estrutura no meio do oceano, o que seria fatal", contou o agente Rogério Lages, que fez o resgate dos homens, ao Fantástico.

Os imigrantes saíram da cidade de Lagos, na Nigéria, no dia 27 de junho, no transatlântico chamado Ken Wave. Eles achavam que o navio iria para a Europa. Em 10 de julho, chegaram à Costa Brasileira, sem saber onde estavam.


Os imigrantes foram resgatados pela Polícia Federal. (
Foto: Reprodução/Fantástico/TV Globo).

Os quatro nigerianos viajaram num compartimento externo do navio, em contato direto com a água. O espaço tinha cerca de 3 metros de altura por 3 de comprimento, com pequenas estruturas onde os homens ficaram sentados. Não havia onde se deitar.

"Eles estavam muito debilitados em razão da falta de água, da falta de alimentos, mas não apresentavam nenhum tipo de doença aparente e foram encaminhados para um hotel, receberam alimentação e foram hidratados", afirmou Eugenio Ricas, delegado e superintendente da Polícia Federal do Espírito Santo, ao Fantástico.

Lutando para alimentar suas famílias

Dois deles decidiram voltar para a Nigéria, em viagem paga pela seguradora do navio. Os outros dois – Roman Manesi, de 35 anos, e Matthew, de 38 anos – pediram refúgio no Brasil e vão ser acolhidos por uma missão católica em São Paulo.

O Fantástico entrevistou os imigrantes que desejam permanecer no Brasil. Roman e Matthew contaram que arriscaram a vida em busca de uma vida melhor para suas famílias.

"Eu não tenho pai, tenho três irmãos e minha mãe é viúva. Eles dependem de mim. Eu sou o filho mais velho e eu não tenho emprego no meu país. Eu orava a deus e pedia uma oportunidade de viajar. Eu vi o navio, e decidi entrar e tudo pra dar um futuro melhor para a minha família e para mim", disse Romam, que é soldador.

Ele relatou que um tio foi morto pelo grupo extremista Boka Haram, enquanto viajava de trem no norte da Nigéria. Segundo Roman, ele e a família passavam fome no país.

Ele descreveu como foi atravessar o Oceano Atlântico no leme do navio: “Você fica com medo, porque a água era tão forte, e o barulho do motor. A única coisa em que você pensa é pedir a Deus pra te proteger. Você não pensa em mais nada. Onde nós estávamos, era muito perigoso e arriscado. Todo mundo estava com muito medo. Nós temos sorte de estarmos bem".

Orando a Deus no oceano


Roman Manesi (à esquerda) e o outro nigeriano, Matthew (à direita) pediram refúgio no Brasil. (Foto: Reprodução/Fantástico/TV Globo).

Quando a comida e a água acabaram durante a viagem, o nigeriano orou a Deus pedindo ajuda.

“Eu estava orando e pedindo por comida e água por cinco dias. Eu vim atrás de uma vida melhor. Eu vou dar tudo de mim pra conseguir trabalhar", ressaltou ele.

"Quando eles me disseram que era o Brasil, eu fiquei tão feliz. Eu não sabia onde eu estava! Finalmente vi uma equipe de resgate”, relatou.

Matthew, o outro negiriano que pediu refúgio no Brasil, era pastor evangélico e agricultor na Nigéria, e tem dois filhos. Ele perdeu sua casa durante as enchentes que atingiram o país em 2020.

Ele revelou que está lutando para oferecer condições melhores a sua família. “Eu não consigo pagar a escola deles. Eu não consigo alimentá-los. Eu tinha que sair da Nigéria”, declarou Matthew. 

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