Posicionamento cristão sobre o uso medicinal e recreativo da maconha: o que a Bíblia diz?

De acordo com teólogos, a aceitação cultural da erva tem gerado questionamentos dentro das igrejas.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: terça-feira, 14 de setembro de 2021 às 16:16
“Ficar chapado de maconha é anti-bíblico”, diz teólogo e autor do livro “Cannabis e o cristão: o que a Bíblia diz sobre a maconha”. (Foto: Ilona Szwarc/The New York Times)
“Ficar chapado de maconha é anti-bíblico”, diz teólogo e autor do livro “Cannabis e o cristão: o que a Bíblia diz sobre a maconha”. (Foto: Ilona Szwarc/The New York Times)

Durante muitos anos, o uso da maconha foi considerado pecaminoso por se tratar de uma droga alucinógena, que ofende o corpo. Sendo o corpo humano considerado “templo do Espírito Santo”, os cristãos não deveriam usar a erva sob hipótese alguma. Este argumento é bíblico?

À medida que a maconha continua a aumentar em popularidade e aceitação cultural, esse tipo de pergunta é cada vez mais comum nos círculos religiosos. 

Segundo Todd Miles, professor de teologia do Western Seminary e autor do livro “Cannabis e o cristão: o que a Bíblia diz sobre a maconha”, as Escrituras oferecem uma “infinidade de sabedoria” e orientação que podem ajudar os cristãos a encontrar a resposta certa.

Uso medicinal e recreativo

De acordo com o Christian Post, Miles disse, recentemente, que “nós temos todas as palavras de que precisamos para viver fielmente” e que há muito para informar sobre as questões "medicinal e recreativa” sobre o uso da cannabis.

Como a erva continua a ser legalizada em vários estados dos EUA, Miles disse que espera ajudar na orientação aos cristãos e que eles “comecem a pensar intencionalmente” sobre a complexa questão, especialmente quando se trata dos perigos em torno da droga que muitas vezes são minimizados.

“As autoridades de saúde mental sabem que há uma forte ligação entre o início precoce da doença mental — conhecida por esquizofrenia — e o uso de maconha”, e não devemos dizer o contrário”, alertou.

Entre as muitas questões que cercam a cannabis está a necessidade de diferenciar o uso medicinal do recreativo, já que é justamente o recreativo que, muitas vezes, está sendo perpetuado e pressionado, sem o enquadramento e as informações adequadas.

Efeitos do uso da maconha através do fumo — a maconha ou outras drogas psicoativas têm o objetivo de ampliar as experiências e sensações humanas. Além disso, se administrada por conta própria apresenta sérios riscos à saúde, começando pela dependência química, mudança de personalidade e indiferença ao mundo que está ao redor. 

Em quase todos os casos do uso recreativo da maconha, a motivação básica é a intoxicação para se obter os efeitos proporcionados por essa erva. Usuários da maconha possuem motivações diversificadas: diversão, fuga da realidade ou busca de um alívio imediato para sofrimentos. 

Em todos os casos, “portas são abertas” para o consumo de outras substâncias mais fortes e mais danosas. A proposta do alívio pode se tornar um pesadelo, tanto para a família quanto para o usuário.


No Brasil, milhares de pacientes utilizam medicamentos à base de cannabis para algumas doenças, como epilepsia, autismo e Parkinson. (Foto Getty Images)

Efeitos do uso da maconha através do óleo essencial — nos últimos anos, diversos estudos científicos apontaram que substâncias extraídas da cannabis, como o canabidiol (CBD) e o tetra-hidrocanabidiol (THC), seu princípio psicoativo, podem ser usados para fins medicinais, em terapias para pacientes com dores crônicas e outras enfermidades graves, como câncer, epilepsia, fibromialgia, autismo e Parkinson. No caso da epilepsia, diminuem a incidência dos espasmos, melhorando assim a qualidade de vida dos pacientes. 

“Ficar chapado de maconha é anti-bíblico”

Miles disse que um dos equívocos e inverdades é que “a maconha não vicia”. Embora a droga possa não ser tão viciante quanto outras substâncias, ele resistiu a essa afirmativa e observou alguns dos impactos adicionais que devem ser considerados ao discutir o assunto. 

“Comprovadamente, ‘ficar chapado de maconha’ prejudica as habilidades cognitivas, prejudica as habilidades físicas e prejudica o julgamento moral”, disse ele, observando que essas consequências são “inúteis” e apontando, ao mesmo tempo, para alguns alertas que a Bíblia traz.

Miles citou a ordem bíblica contra a embriaguez, que em sua totalidade se assemelha ao que acontece quando uma pessoa se envolve no uso recreativo de maconha. “Existe uma razão não médica para fumar maconha além de ficar chapado?” ele perguntou retoricamente. “Eu acredito que não há”, continuou.

O escritor disse que espera que as pessoas examinem mais profundamente essas questões e o impacto que a maconha pode ter sobre o indivíduo. “Só porque a lei [humana] diz que algo está certo não significa necessariamente que esteja”, frisou.


Estudos científicos apontam que os princípios psicoativos da cannabis podem ser usados para fins medicinais. (Foto: Getty Images)

Por que Deus criou a maconha?

Muitos se perguntam o motivo de Deus ter criado a maconha, sabendo que os seres humanos a usariam como droga. Segundo Mário Persona, que recebeu esse questionamento em seu canal do YouTube “O que respondi...” é importante lembrar que a entrada do pecado no mundo alterou a realidade tanto da fauna quanto da flora, micro-organismos e DNAs. 

“De fato, nada é mais como antes. A terra foi amaldiçoada”, lembrou o palestrante e consultor de comunicação. 

“Não sabemos se as plantas que temos hoje teriam as mesmas propriedades que tinham quando foram criadas, pois sabemos que o pecado de Adão e Eva não apenas arruinaram toda a raça humana, mas também o ambiente onde tinham sido colocados”, argumentou. 

Persona aponta para o fato de estarmos cercados, não apenas de ervas daninhas, espinhos e plantas venenosas ou alucinógenas, como também de outras coisas que podem nos fazer mal. 

“Pense, por exemplo, no próprio fogo que usamos para preparar nossa comida. Quando alguém fabrica um explosivo está criando uma reação química que produzirá um fogo de grandes proporções que poderá matar muitas pessoas. Então o problema não está na coisa em si, porque explosivos também são usados para construir estradas e extrair a pedra de construção. O problema está no uso que as pessoas fazem disso”, alertou. 

Sobre a maconha, ele destaca que há muitos medicamentos derivados que ajudam a tratar doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esquizofrenia e ansiedade. “Da papoula de onde se extrai o ópio, se produz também a morfina capaz de amenizar as dores mais terríveis em vítimas de acidentes”, continuou. 

Portanto o mal não está nas plantas narcóticas ou alucinógenas, o mal está no ser humano. “Você pode usar uma faca para cortar pão ou matar seu próximo. Veja que até a Palavra de Deus, que nos foi dada para termos vida, tem sido usada ao longo dos séculos para justificar massacres de pessoas que se opuseram a ela”, disse ao citar a Inquisição.

“Tanto a igreja católica quanto a protestante, que agiram assim, às vezes queimando na estaca os que se opunham ao ensino da Palavra de Deus ou, no caso de verdadeiros crentes em Cristo, pelo único crime de terem em mãos uma cópia de seus textos”, mencionou ao concluir. 

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