Setembro Amarelo: “Eu não deixei o suicídio dar a última palavra”, diz viúva de pastor

Após perder o marido, mulher decide usar a tragédia que viveu para aprender mais sobre saúde mental e ministério.

Fonte: Guiame, com informações de Christianity TodayAtualizado: quarta-feira, 15 de setembro de 2021 às 15:15
Kayla Stoecklein, viúva do pastor Andrew. (Foto: Arquivo pessoal)
Kayla Stoecklein, viúva do pastor Andrew. (Foto: Arquivo pessoal)

Neste mês que ficou conhecido como “Setembro Amarelo” — um movimento de conscientização sobre a prevenção ao suicídio — muitas vidas são lembradas, inclusive a de inúmeros pastores que foram luz, mas enfrentaram as trevas da depressão.

Um deles, é um pastor americano chamado Andrew, que tirou a própria vida ao ser vencido por um trio poderoso: esgotamento, depressão e ansiedade. A viúva Kayla conta a sua história.

Logo depois de perder o marido, ela fez uma promessa: “Seu nome continuará vivo de forma poderosa. Sua história tem o poder de salvar vidas, mudar vidas e transformar a maneira como a Igreja apoia os pastores”, escreveu em suas redes sociais. 

Kayla Stoecklein, atualmente, é uma voz em defesa das pessoas que enfrentam doenças mentais que podem levar ao suicídio. Sua inspiração neste novo ministério surgiu da triste tragédia que foi obrigada a enfrentar.

Andrew era pastor de uma igreja nos Estados Unidos e estava lutando há algum tempo contra o cansaço físico e mental. Então, no dia 25 de agosto de 2018, ele decidiu dar um fim à própria vida. 

“O ministério era tudo”

Kayla conta que conheceu Andrew aos 19 anos de idade. “Rapidamente me apaixonei. Ele era filho de pastor e tinha um chamado para o ministério”, contou. Mas ela não tinha ideia de como era a vida nos bastidores.

“Embora servir no ministério possa ser algo significativo e bonito, pode ser também estressante, decepcionante, desanimador e solitário”, revelou. “Andrew se tornou pastor da igreja onde seus pais eram líderes, em 2015, e eu me encaixei no ministério feminino”, continuou.

“O ministério era tudo. Todo o nosso mundo girava em torno da igreja local e do chamado de Deus para a vida de Andrew. Seu chamado havia se tornado o meu chamado; sua paixão, a minha paixão; seu propósito, o meu propósito”, frisou.

“Depois de lutar por um tempo contra o esgotamento, a depressão e a ansiedade, meu amado marido, Andrew, tragicamente suicidou-se”, relatou.


Kayla e Andrew. (Foto: Reprodução/Site God´s Got This)

“Eu não deixei o suicídio dar a última palavra”

A vida de Kayla mudou completamente. Viúva e mãe de três filhos, ela teve que lidar com a nova realidade. “De repente, a triste história da internet era a nossa. Eu vi imagens de minha vida e família ganharem as manchetes em todo o mundo. De uma hora para outra, viramos o centro das atenções”, lembrou.

E enquanto o mundo estava assistindo à tragédia de sua vida, Kayla decidiu falar. “Eu não deixei o suicídio dar a última palavra. Apenas três dias depois que Andrew foi para o céu, escrevi uma carta para ele e postei no blog da família”, disse.

E foi por meio dessa carta que Deus entrou em ação, segundo a viúva: “redimindo o que estava perdido e até salvando vidas do suicídio. Recebemos de completos estranhos centenas de cartas, presentes, doações, livros, cobertores e buquês. O amor falou alto”, destacou.

Suicídio entre os pastores não é algo incomum

“O que percebi logo no início, e aprendi nos últimos anos, é que a história de Andrew não é algo incomum. É muito triste, mas, ano após ano, a igreja americana vem perdendo mais líderes para o suicídio”, lamentou.

“Muitos pastores e pessoas que servem em posições ministeriais lutam com questões de saúde mental. E, infelizmente, nem sempre sentem que há espaço para compartilhar suas lutas com colegas de ministério ou membros da igreja”, apontou.

“O medo de perder o emprego, o púlpito, a voz e o respeito de seus colegas é uma realidade bem concreta. Pela minha experiência com Andrew, aprendi como é importante para a igreja formar líderes para atender pastores e pessoas que servem em posições ministeriais, quando estes inevitavelmente se encontram em um período de fadiga ministerial”, prosseguiu.

“Todos os pastores precisam de um círculo de amigos próximos e de uma comunidade de confiança, na qual pode baixar a guarda, tirar o chapéu de pastor e serem iguais. Andrew costumava dizer: ‘É solitário aqui no topo’. Mas não precisa ser. Não fomos criados para viver sozinhos; isso não funciona”, refletiu.

“Jesus é o eixo”

“Um pesado fardo de responsabilidade está ligado a essa solidão. Andrew costumava se referir a si mesmo como o ‘eixo’, uma pessoa que mantém tudo unido. Constantemente e com amor, eu lhe mostrava que Jesus é o eixo”, ponderou.

Kayla conta que demorou para seu marido tirar pelo menos um dia de descanso por semana. “Se não estabelecermos margem para descanso, estaremos correndo com o tanque vazio. Precisamos intencionalmente desligar o telefone, desconectar de nosso e-mail ou ficar longe do computador durante o dia. O descanso é a chave do sucesso”, observou.

A verdade que descobri em minha experiência como esposa de pastor é que os pastores também são gente como a gente. Eles não são super-homens; são humanos. Eles não são invencíveis; são apenas vasos quebrados que estão dando o seu melhor para ser uma luz resplandecente em um mundo realmente em trevas e desesperado”, especificou.

“Mas, para continuar brilhando e liderando com energia, os pastores devem pensar também sobre como cuidar de si mesmos. Os pastores precisam da comunidade, compartilhar o peso da liderança e devem dar a si mesmos permissão e margem para serem curados e descansar”, acrescentou.


Kayla, Andrew e seus três filhos. (Foto: Reprodução/Site God´s Got This)

“A vida é mais importante que o ministério”

Para líderes que se comprometeram com a igreja e com Deus, pode ser impensável dizer que o preço se tornará alto demais. “Mas a verdade é que sua vida e sua saúde são mais importantes do que seu ministério”, Kayla ressaltou.

“Se o seu ministério está matando você, destruindo sua família e piorando sua depressão, é hora de contar isso para alguém e fazer uma pausa. Reitero que fazer isso é difícil para qualquer um de nós, mas é necessário”, continuou.

“Ao liderar como Cristo, nossos pastores não precisam liderar como se fossem o próprio Cristo. O maior sacrifício já foi feito por nós. Os pastores devem ter liberdade para compartilhar suas dores e lutas, sabendo que ninguém jamais esperou que eles carregassem o fardo sozinhos”, concluiu.

 

Leia aqui a carta que Kayla escreveu a Andrew, depois de sua morte:

Faz apenas 3 dias. Nada pode tirar a dor sufocante que sinto agora que você se foi. Sinto falta de cada parte de você, vejo você em todos os lugares. Eu repasso os eventos daquele dia fatídico em minha mente, desejando que eu pudesse ter feito as coisas de forma diferente. Desejando poder segurar sua mão mais uma vez e orar por você e dizer o quanto eu te amo, o quanto eu acredito em você e como Deus acredita também.

Você estava certo o tempo todo, eu realmente não entendia a profundidade de sua depressão e ansiedade. Eu não entendia quão reais e implacáveis ​​eram os ataques espirituais. A dor, o medo e a turbulência com os quais você deveria estar lidando todos os dias são inimagináveis. 

O inimigo sabia do homem incrível que você era. O inimigo sabia que Deus tinha grandes planos para sua vida. O inimigo viu como Deus estava usando seus dons, habilidades e estilo de ensino único para alcançar milhares de vidas para ele. O inimigo odiava e perseguia você incessantemente. Provocando e torturando você de maneiras que você não conseguia expressar para ninguém. 

Andrew, eu quero dizer a você do fundo do meu coração e da minha dor, sinto muito. Eu sinto muito porque você estava tão assustado. Eu sinto muito porque você se sentiu tão sozinho. Eu sinto muito porque você se sentiu incompreendido. Lamento que você tenha se sentido traído e profundamente magoado pelas palavras e ações de outras pessoas.

Eu sinto muito por você ter lutado uma guerra espiritual sombria praticamente sozinho. Lamento que você não tenha conseguido obter a ajuda e o suporte de que precisava. Eu gostaria de ter mais uma chance de abraçar você e chorar com você e encorajá-lo. 

Eu gostaria que você pudesse ver a demonstração de amor de pessoas em todo o mundo que foram impactadas por sua história. Eu queria que você pudesse segurar seus meninos mais uma vez e dizer adeus a eles. 

Gostaria que pudéssemos fazer mais uma viagem juntos, só nós dois. Não estou pronta para dizer adeus. Estou tão louca e profundamente apaixonada por você. Cada parte de mim deseja estar com você. Não consigo comer, não consigo dormir, não consigo funcionar e me sinto tão perdida sem você. 

Você foi minha vida. Eu estava tão orgulhosa de ser sua esposa Andrew. Eu estava tão orgulhosa por me sentar na primeira fila e assistir você em seu lugar ideal, no altar. Sempre fiquei tão maravilhada com você, todos os dias. 

Você poderia fazer o que quisesse. Você foi útil, você fez todas as casas em que vivemos parecerem lindas por dentro e por fora. Você foi criativo, você foi engraçado, você era atencioso, era apaixonado, tinha visão, tinha carisma e era tão especial. Você é insubstituível, Andrew. Nunca haverá outro homem como você.

Quero dizer que nunca vou parar de lutar por você. Vou continuar a dizer à nossa comunidade e ao nosso mundo que homem incrível você foi. Seu nome será homenageado e você será lembrado como um herói. 

Você lutou o bom combate, e eu só posso imaginar o lugar incrível que Deus preparou para você quando você atravessou os portões do céu. Só posso imaginar como deve ter sido ver seu pai de novo, saudável e forte. 

Só posso imaginar quanta alegria você deve sentir agora que está verdadeiramente livre. Eu gostaria de poder estar aí com você, comemorando nas ruas de ouro. Mas, por enquanto, continuarei a viver aqui para você. 

Vou educar nossos meninos para serem homens de Deus, assim como você foi. Seu nome viverá de uma forma poderosa. Sua história tem o poder de salvar vidas, mudar vidas e transformar a maneira como a Igreja apóia os pastores.

Eu te amo muito e vou sentir sua falta todos os dias pelo resto da minha vida. Quando pensar em você vou sorrir, sabendo que um dia voltarei a vê-lo. Obrigado pelos 10 anos maravilhosos juntos. 

Obrigada por me dar de presente três lindos meninos de olhos azuis que se parecem tanto com você. Obrigado por me escolher, por acreditar em mim e por me mostrar como viver sem medo.

Até nos encontrarmos novamente, vou apegar-me ao meu Pai no céu. Ele vai me levar a cada segundo, a cada minuto, a cada hora de cada dia. Eu li um versículo esta manhã e sei que Deus está me lembrando que mesmo agora, em meio à minha dor mais profunda, Ele está comigo.

“Sempre tenho o Senhor diante de mim. Com ele à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto”. (Salmos 16.8,9)

Com todo meu coração e todo meu amor, de sua garota.

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