Ataques a igrejas e sinagoga deixam ao menos 19 mortos no sul da Rússia

Aparentemente coordenados, os ataques atingiram as cidades de Derbent e Makhachkala durante o festival ortodoxo de Pentecostes.

Fonte: Guiame, com informações da BBCAtualizado: segunda-feira, 24 de junho de 2024 às 12:50
A sinagoga incendiada em Derbent. (Foto: Sergei Melikov)
A sinagoga incendiada em Derbent. (Foto: Sergei Melikov)

Ataques a duas igrejas e uma sinagoga, além de postos policiais, na república russa do Daguestão, no norte do Cáucaso, neste domingo (23), mataram pelo menos 19 pessoas, incluindo 15 policiais. Dois militantes foram mortos.

O Comitê Nacional Antiterrorismo da Rússia afirmou que um padre da Igreja Ortodoxa Russa e agentes da polícia foram mortos nos ataques, considerados terroristas pela instituição. Outros oficiais da polícia foram feridos.

Aparentemente coordenados, os ataques atingiram as cidades de Derbent e Makhachkala, a maior cidade do Daguestão, durante o festival ortodoxo de Pentecostes.

Ataques no Daguestão foram considerados terrorismo. (Captura de tela/BBC)

Os agressores não foram oficialmente identificados, mas o Daguestão já foi palco de ataques por militantes islâmicos no passado.

Sergei Melikov, chefe da república, afirmou que se sabe quem está por trás da organização dos ataques, mas não revelou detalhes.

Melikov disse que vários civis morreram, incluindo o padre Nikolai Kotelnikov, que, segundo ele, serviu em Derbent durante mais de 40 anos.

Melikov anunciou três dias de luto a partir desta segunda-feira (24).

‘Organização terrorista’

Os homens armados ainda não foram oficialmente identificados, mas em um vídeo no Telegram, Melikov afirmou que o ataque foi planejado no exterior e que o Daguestão está agora diretamente envolvido na guerra da Rússia contra a Ucrânia.

"Entendemos quem está por trás da organização dos ataques terroristas e qual objetivo eles perseguiam”, ele disse.

Um importante nacionalista russo na Ucrânia ocupada, Dmitry Rogozin, alertou que atribuir todos os ataques "às maquinações da Ucrânia e da OTAN" seria um erro, afirmando que essa "névoa cor-de-rosa" nos levaria a grandes problemas.

Imagens exibidas nas redes sociais mostram pessoas vestindo roupas escuras atirando contra carros da polícia, antes da chegada de um comboio de veículos de emergência ao local.

Homens vestido de preto atiram a céu aberto. (Captura de tela/BBC)

Na cidade de Derbent, localizada no Mar Cáspio e onde vive uma antiga comunidade judaica, homens armados atacaram uma sinagoga e uma igreja, em seguida eles incendiaram os prédios.

Uma viatura policial também teria sido atacada na aldeia de Sergokal. A polícia prendeu Magomed Omarov, chefe do distrito de Sergokalinsky, próximo a Makhachkala, após relatos de que dois de seus filhos estavam entre os responsáveis pelos ataques de domingo.

Segundo informou agências de notícias russas na manhã desta segunda-feira, a operação antiterrorista iniciada após os ataques havia chegado ao fim.

‘República muçulmana’

O Daguestão, uma das regiões mais pobres da Rússia, é uma república predominantemente muçulmana.

Entre 2007 e 2017, a organização jihadista Emirado do Cáucaso, posteriormente conhecida como Emirado Islâmico do Cáucaso, realizou ataques no Daguestão e nas repúblicas russas vizinhas da Chechênia, Inguchétia e Kabardino-Balkária.

Após um ataque à Câmara Municipal de Crocus, próximo a Moscou, em março, as autoridades culparam a Ucrânia e o Ocidente, apesar de o grupo Estado Islâmico ter assumido a responsabilidade.

Na época, o residente russo Vladimir Putin insistiu que "a Rússia não pode ser alvo de ataques terroristas perpetrados por fundamentalistas islâmicos" porque "demonstra um exemplo único de harmonia e unidade inter-religiosa e inter-étnica".

No entanto, há três meses, o serviço de segurança interna da Rússia, o FSB, informou que havia frustrado uma conspiração do Estado Islâmico para atacar uma sinagoga em Moscou.

Desde a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, os russos foram levados a acreditar que seus principais adversários são a Ucrânia e o "Ocidente coletivo". As autoridades russas relutam em mudar essa mensagem para evitar suscitar dúvidas públicas sobre a narrativa oficial.

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