A lei do suicídio assistido, no Canadá, tomou um caminho diferente da proposta inicial. Depois de vários anos dizendo que a prática era “uma forma humana de aliviar o sofrimento de pacientes terminais”, seus defensores estão vendo pessoas buscando o “direito de morrer” por outros motivos.
A eutanásia direta e o suicídio assistido por médico foram legalizados em junho de 2016, conforme o Alliance Defendign Freedom (ADF). Os procedimentos ficaram conhecidos “assistência médica na morte” ou MAID.
Mas, os novos termos apenas amenizam uma realidade sombria e desviam a atenção das pessoas para o que realmente significa “legalizar a morte” e tornar o suicídio normal para a sociedade.
‘Moralmente repreensível’
De acordo com Grant Atkinson, autor do artigo publicado no ADF sobre o assunto: “O suicídio assistido por médico é moralmente repreensível, mas o parlamento do país aprovou uma nova lei que dizia que os cidadãos poderiam ser elegíveis para suicídio assistido por médico, mesmo que sua morte não fosse considerada razoavelmente previsível”.
O jornalista explica que os candidatos a morrer deveriam estar sofrendo de “uma condição médica grave e irremediável” e “estar em estado avançado de declínio que não poderia ser revertido”.
“Essas novas diretrizes permitem que pessoas com deficiência permanente ou dor crônica sejam elegíveis”, disse ao citar o caso de Amir Farsoud, de Ontário.
“Farsoud é um homem de 54 anos que sofreu uma lesão debilitante nas costas anos atrás e recebe uma ajuda 1.200 dólares por mês do Programa de Apoio a Deficientes de Ontário. Mesmo morando com outras duas pessoas, o dinheiro mal dá para ele sobreviver”, compartilhou.
“Em outubro, ele disse ao CityNews que seu aluguel e contas o deixavam com cerca de 7 dólares por dia para comida. Quando a casa em que morava foi colocada à venda, ele começou a pensar no impensável: optar pelo suicídio assistido para evitar a pobreza”, continuou.
Momento de desespero
Conforme Grant, o homem não queria realmente morrer, mas estava desesperado com a possibilidade de se tornar um sem-teto: “Eu sei que, na minha atual condição de saúde, eu não sobreviveria de qualquer maneira. Não seria nada digno esperar”, argumentou o homem.
“Farsoud disse que não pensaria em suicídio se não fosse por sua situação habitacional. Mas por medo de não conseguir encontrar nenhum outro lugar acessível para morar, ele se inscreveu no MAID e recebeu a assinatura de um médico confirmando que ele atendia aos critérios”, revelou o jornalista.
“Felizmente, o Canadá exige um mínimo de 90 dias para avaliar a elegibilidade para o suicídio assistido, para alguém que não esteja com uma doença terminal e também requer a aprovação de dois médicos”, esclareceu.
‘31 mil pessoas mortas em seis anos’
A vida de Farsoud, porém, tomou outro rumo. Durante o período dos 90 dias para avaliação de seu caso, sua história foi amplamente compartilhada nas redes sociais.
Um estranho iniciou um GoFundMe — plataforma para arrecadação de dinheiro — e conseguiu levantar uma verba de 60 mil dólares. Agora Farsoud não pensa mais em suicídio.
Ele se descreve como uma pessoa diferente: “Eu não tinha nada além de escuridão, miséria, estresse e desesperança. Agora eu tenho o oposto dessas coisas”.
Farsoud escolheu a vida, mas não é o destino de todos os candidatos à morte. “Nos primeiros seis anos do programa MAID do Canadá, mais de 31.000 pessoas morreram por suicídio assistido por médico ou eutanásia”, disse Grant.
Ele conta também que, alguns estados nos EUA estão seguindo o exemplo do Canadá e diminuindo o período crucial de espera durante o qual pessoas como Farsoud podem encontrar esperança.
“Na Califórnia, por exemplo, o governador Gavin Newsom assinou uma nova lei, em outubro de 2021, reduzindo o período de espera para suicídio assistido por médico de 15 dias para 48 horas”, relacionou.
Os advogados da ADF entraram com uma ação contra a Califórnia contestando esta lei, representando as associações médicas e cristãs.
Cultura da morte
O jornalista da ADF explica que os defensores do suicídio assistido gostariam que as pessoas acreditassem que Farsoud representa um caso à parte e que não deveria ser usado como argumento contra o MAID.
“Porém, na realidade, sua história ressalta o resultado inevitável de uma lei falha e maligna e uma cultura da morte”, alertou.
“Em vez de fornecer aos mais vulneráveis da sociedade os cuidados de qualidade e o apoio de que precisam, o governo canadense decidiu que seria simplesmente mais fácil fornecer drogas letais mediante solicitação”, continuou.
“Não há nada de compassivo ou digno no suicídio assistido por médico. Uma vez que você diz que é melhor morrer do que viver com uma doença, não é surpresa que a sociedade comece a ver a morte como uma alternativa a outros tipos de sofrimento como a pobreza ou a solidão”, disse ainda.
“Mas toda vida tem valor, incluindo a vida dos vulneráveis — alvos específicos da prática do suicídio assistido por médico. O caso de Farsoud destaca essa verdade”, concluiu.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições