A mobilização de trabalhadores agrícolas que se espalhou para mais de 10 países europeus acendeu um sinal de alerta sobre a possível “crise de alimentos no mundo”.
“As reivindicações são antigas”, explica Josué Luis Sotillo, que é cristão e prefeito de Saelices de la Sal, município da província de Guadalajara, na Espanha.
Ele disse que conhece bem o meio rural e que uma das questões em cima da mesa é o mal-estar causado pelo excesso de burocracia que ocupa horas e horas de trabalho.
“As regulamentações cada vez mais exigentes da União Europeia (UE) e o ritmo lento para a chegada da ajuda foram fatores que causaram os protestos”, ele explicou.
“Há um grande contraste entre as condições exigidas pela UE para a produção e as dos produtores de outros países fora da UE, dos quais importamos cada vez mais alimentos”, disse Sotillo ao site de notícias espanhol Protestante Digital .
Assim como outros países europeus, o governo espanhol disse que se reunirá com representantes de algumas das organizações agrícolas para tratar dos assuntos pertinentes às manifestações.
Perspectiva bíblica sobre o consumo de alimentos
Conforme notícias do Evangelical Focus, com slogans como “sem agricultores, sem comida”, os produtores dirigem-se não só ao governo, mas também ao público em geral.
O geógrafo cristão Michael Wickham reconhece que “parece haver pouco que possa ser feito pela maioria de nós que vivemos nas grandes cidades”.
Ele acredita que as pessoas podem consumir menos carne e produtos processados, utilizando a água de forma mais racional e tentando não deixar que as vidas sejam manipuladas e controladas pelos atuais sistemas de produção e consumo.
Para Sotillo, “o mundo em que vivemos parece mais uma criação humana do que divina”. Ele menciona que as pessoas nos tempos bíblicos e o próprio mundo criado por Deus funcionava de maneira diferente e a vida cristã também.
“Um cristão com experiência no cultivo sabe que não se joga apenas as sementes e pronto. Se quiser que elas brotem e criem raízes, é necessário despender algum tempo e esforço preparando o solo”, observou.
“Um pastor familiarizado em cuidar de animais sabe que cada ovelha é especial. E se você é horticultor, sabe que as plantas delicadas exigem cuidados diários até que se desenvolvam e se tornem fortes”, continuou.
“Além disso, o pregador que conhece o ‘fogo doméstico’ sabe que acendê-lo todos os dias não é fácil. Da mesma forma, quando prega a Palavra, é necessário que haja o ‘fogo do Espírito Santo’ para que a Palavra comece a arder nos corações dos ouvintes”, comparou.
“Viver em contato com a natureza abre outras perspectivas e também muda a forma como interagimos com Deus”, ele resumiu.
A política e a falta de acordo com os agricultores
Ainda de acordo com o Evangelical Focus, os agricultores espanhóis consideram a PAC (Política Agrícola Comum da União Europeia) rígida e pesada, pelo que apelam à “flexibilidade e simplificação” face à “burocracia excessiva” no acesso à ajuda econômica.
“A PAC foi criada nos primeiros anos da UE para garantir que o setor agrícola de cada país permanecesse competitivo, com subsídios muito caros, evitando o despovoamento e a dependência de países ultramarinos”, afirmou o geógrafo Wickham.
“Mas isso levou a enormes custos e subsídios que se tornaram um grande problema para a UE”, explicou. Os setores de produção agrícola nacional na UE estão divididos. Um exemplo são as manifestações na Alemanha no início de 2024 e o boicote dos agricultores franceses aos produtos provenientes da Espanha e Itália, a quem acusam de utilizar diferentes tipos de fertilizantes e modelos de produção mais baratos que os seus.
Para Sotillo, parte do problema tem a ver com o fato de os governos procurarem soluções “em gabinetes e departamentos técnicos”, que propõem “projetos muito sólidos baseados em pressupostos teóricos, que normalmente estão muito distantes da realidade porque há uma grande falta conhecimento sobre a vida rural”.
“Mas há também necessidade de uma mudança na mentalidade geral sobre o que é a vida rural, porque para muitos ainda tem um significado pejorativo, uma vida com grandes carências e muito pouco apelo”, acrescentou.
Um problema de ordem natural: a seca
Além dos problemas políticos que atingem agricultores nos mais diversos países, ainda há questões climáticas que dificultam a produção dos alimentos.
A seca na Espanha este ano, por exemplo, agravou ainda mais a situação que já era crítica. O trabalho dos produtores de irrigação fica totalmente interrompido até chover, e alguns denunciam a lentidão no recebimento da ajuda prometida pelo governo.
“Tudo sugere que começam a agir tarde demais e os recursos financeiros para resolver a situação atual dos agricultores não estão disponíveis”, lamentou Michael Wickham ao concluir.
Fome em proporções bíblicas
Enquanto isso, milhões de pessoas passam fome em todo o planeta. O Guiame divulgou, no ano passado, que cerca de 735 milhões de pessoas passam fome, conforme um relatório da ONU.
O número certamente é muito maior que aquele que foi divulgado e aumenta assustadoramente a cada ano. “Como humanitários, estamos enfrentando o maior desafio que já vimos”, disse a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (WFP, da sigla em inglês), Cindy McCain, em um comunicado compartilhado com o Christian Post.
“Precisamos que a comunidade global aja com rapidez, inteligência e compaixão para reverter o curso e virar o jogo contra a fome”, disse ela na ocasião, lembrando que cerca de uma em cada cinco pessoas na África enfrenta fome, que é mais do que o dobro da média mundial.
A Bíblia diz que “haverá fomes em vários lugares”, conforme Mateus 24 e que haverá um tempo de escassez extrema de alimentos, em todo o mundo, de acordo com Apocalipse 6, onde é descrito de forma simbólica, a passagem do “cavalo preto”, por ocasião da abertura do terceiro selo. Diante das atuais notícias, podemos dizer que esse tempo está próximo.
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