Durante uma longa entrevista, o vice-comandante do Exército Iraniano, Gen. Alireza Sheikh, revelou como o regime de seu país enxerga a doutrina militar.
A entrevista foi publicada pelo Fars News — uma agência de notícias considerada ‘semi-oficial’ por ter fortes ligações com o governo.
De acordo com as declarações do general, o Irã está seguindo a doutrina militar da Rússia e também aprendendo com o Paquistão, focando em mísseis e drones. Vale lembrar que o país tem feito ameaças sobre uma suposta bomba nuclear.
A intenção do Irã é ameaçar seus adversários visando desestabilizar o Golfo, caso seja confrontado com um conflito maior, conforme observou o Jerusalem Post ao publicar detalhes sobre a entrevista.
Usinas nucleares em Shazand, no Irã. (Foto representativa: Wikimedia Commons)
Como o Irã entende seu papel militar
É importante entender que as forças armadas do Irã têm vários aspectos. Embora tenha forças armadas tradicionais, como marinha, força aérea e forças terrestres, também possui as forças do IRGC — Islamic Revolutionary Guard Corps.
O “Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica” atua como uma força paramilitar, como forças de elite que guardam o regime, a força na vanguarda de algumas das tecnologias de mísseis e drones e a força que conduz operações no exterior em lugares como Iraque, Síria, Líbano e Iêmen.
Portanto, a principal razão pela qual vale a pena considerar a doutrina é ver como o Irã entende seu próprio papel militar. O regime iraniano é diferente de outros regimes autoritários, começando pela grande extensão dos exercícios militares recentes, conduzidos em milhões de quilômetros quadrados.
“Esta é uma referência ao fato de abranger uma grande área do litoral e também áreas do Golfo de Omã e do Oceano Índico”, observou o autor do artigo, Seth J. Frantzman.
‘Teerã provou que pode atacar navios usando drones’
De acordo com Frantzman, é um pouco exagerado o Irã fingir que pode realmente projetar seu poder sobre uma grande área ao mesmo tempo.
“Mas, mesmo assim, está tentando usar drones e mísseis de longo alcance para cobrir imensas áreas do Oceano Índico e também áreas costeiras. Teerã provou que pode atacar navios no Golfo de Omã usando drones”, apontou.
“O comandante diz que o treinamento recente foi importante para mostrar que a educação e o treinamento de recrutas do Irã estão valendo a pena, acrescentando que ajuda a aprimorar táticas e estratégias. Sheikh então passa a discutir o futuro da guerra na região”, alertou o observador.
“Ele diz que as guerras não são ‘força única’, mas incluem armas combinadas e forças conjuntas que vão envolver todos os recursos da nação”, continuou.
“Isso significa que o Irã pode usar sua marinha relativamente pequena ao lado de suas forças terrestres, força aérea e, aparentemente, o IRGC também”, explicou ao lembrar que o maior temor do Irã é o Golfo.
Míssil balístico lançado por submarino. (Foto: Laboratório Nacional de Los Alamos)
‘Para chegar ao Irã terão que atravessar um mar de sangue’
“O regime deve ter medo de que os EUA ou outros países possam ameaçá-lo do mar. O comandante disse que a atual doutrina de defesa é praticar uma ‘ofensiva’ contra um país da região. Ele explicou que qualquer país que pretenda chegar ao Irã terá que atravessar um ‘mar de sangue’”, lembrou o correspondente e analista de assuntos no Oriente Médio.
O general chegou a afirmar: “A política de defesa é que nenhum inimigo deve atingir nosso solo”, disse ao se referir às estratégias do regime.
Além disso, ao dizer como se tornou uma “potência regional”, o general citou a enorme reserva de drones e mísseis. “Teerã exportou drones para a Rússia, embora ele não mencione isso. O general só discute como o Irã usou drones em exercícios recentes e como os usou para atingir a maquete de um navio sionista”, disse o jornalista.
Resumindo
O Irã está ciente de que ainda pilota helicópteros e aviões de modelos mais antigos, mas garante que compensa isso com seus mísseis de capacidade stand-off, o que significa que podem ser disparados a uma distância de cerca de 100 quilômetros — o que para muitos pode parecer insignificante.
Mesmo assim, Alireza Sheikh fala com tom de superioridade: “Os inimigos conhecem nosso poder e eles nos monitoram. Nós mostramos uma parte da nossa capacidade para eles. O inimigo sabe que não deve cometer erros em seus cálculos e não deve cometer os mesmos erros que eles cometeram em outros lugares em relação ao Irã. O Irã não é como qualquer outro país”.
Com a entrevista, o general tenta transmitir uma mensagem para a região. “Ele quer que seus adversários saibam que qualquer conflito com o Irã seria difícil e que Teerã agiria rapidamente para desestabilizar o Golfo e lançar incursões e ataques”, concluiu o jornalista.
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