João de Deus usava a fé para cometer abusos sexuais, diz delegado

Polícia afirma que João de Deus fazia dos abusos parte dos rituais espiritualistas nos atendimentos às mulheres.

Fonte: Guiame, com informações do Estadão e Folha de S. PauloAtualizado: quarta-feira, 19 de dezembro de 2018 às 13:50
João de Deus é enquadrado em crimes que envolvem fé como objeto de exploração. (Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão)
João de Deus é enquadrado em crimes que envolvem fé como objeto de exploração. (Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão)

“Violência sexual mediante fraude” é uma das tipificações do crime supostamente cometido João de Deus, baseado nas acusações de abuso sexual de mulheres durante atendimentos individuais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.

A informação foi dada pelo delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, que estuda ainda o enquadramento em crimes de estupro e estupro de vulnerável, quando envolve menores ou incapazes. O artigo do Código Penal que pode ser utilizado nos inquéritos é o 215, que trata do ato de ter “conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”.

João Teixeira de Faria, nome verdadeiro de João de Deus, usava a fé das mulheres para assediá-las, aproveitando-se de suas fragilidades emocionais, segundo autoridades policiais. O depoimento cita que o médium, de 76 anos, amedrontava as vítimas dizendo que elas “tinham gravíssimas enfermidades”.

Caso já chega a 500 relatos e envolvem vítimas no Brasil e em seis países: Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, Estados Unidos e Suíça.​ O guru espiritual está preso no Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia, a 20 quilômetros da capital.

Nesta terça-feira (18), a justiça negou Habeas Corpus impetrado pela defesa do médium, alegando “gravidade dos delitos e necessidade de proteção às vítimas”.

Fé e medo

psicóloga cristã Marisa Lobo chama de “alienação espiritual” o argumento no qual os abusadores usam a fé para convencerem suas vítimas. “Elas ficam reféns espiritualmente daquele líder e pensam ter contato direto com Deus, isso faz com que aceitem esse tipo de situação”, disse ao Guiame.

Autora do livro “Psicopatas da fé”, Marisa diz que esse e outros tipos de abuso porque as vítimas acreditam nos “poderes atribuídos àquele líder, principalmente se há confirmações de ‘milagres’.” Em alguns testemunhos, mulheres relatam que pensaram exatamente isso. “Achei que tinha sido escolhida por Deus para um grande propósito”, disse uma das testemunhas no depoimento.

De acordo com a psicóloga, “esses psicopatas alienam suas vítimas tornando-as reféns por medo do poder superior do qual eles se dizem representantes. Algumas desenvolvem dependência emocional do abusador, outras podem até achar normal, e acreditar que estão sendo abençoadas pelos abusos.”

Marisa diz que as consequências destes abusos vão desde culpa e tristeza a depressão, transtornos psicológicos e até mesmo o suicídio, como forma de dar fim ao sofrimento psíquicos, “que se tornam insuportáveis”. Dias depois do caso João de Deus vir a público, uma das vítimas se suicidou, de acordo com matéria no jornal Folha de S. Paulo.

Armas e dinheiro

Mandados de busca e apreensão realizados na casa do médium João de Deus e na Casa Dom Inácio de Loyola, onde ele fazia os atendimentos e onde ocorriam os supostos abusos sexuais, revelaram armas e grande quantia de dinheiro. Segundo a polícia, ainda há mais 20 mandados a serem cumpridos.

A polícia também faz perícia na sala da casa onde as vítimas relataram terem ocorridos os abusos. Os peritos buscam por indícios que possam ser examinados para confirmar as acusações feitas pelas mulheres que citam o ambiente em seus depoimentos. A operação tem ainda como objetivo esclarecer os pontos contraditórios entre os depoimentos das vítimas e do acusado.

Mistério

Houve relato de situações anormais que aconteceram durante depoimento do médium, feitos na Delegacia Estadual de Investigação Criminal (DEIC). Falhas no computador, que começou a ‘digitar sozinho’ uma determinada letra como se o teclado estivesse sendo pressionado; curto-circuito em um frigobar, que provocou uma pequena explosão; e até o atropelamento de um escrivão foram consideradas ações sobrenaturais por algumas pessoas.

Para a delegada Karla Fernandes, que diz não ter sentido medo por ser espiritualista, os episódios podem não ser só obra do acaso. “Estamos diante de uma situação que envolve crenças e energias”. A delegada disse que o médium respondeu a todas as perguntas e se recordou de alguns atendimentos feitos a mulheres que o denunciaram. 

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