Líderes temem controle do governo francês sobre igrejas: “A religião se tornou uma ameaça”

A nova lei de combate ao terrorismo também afeta igrejas, que terão pregações supervisionadas e influência estrangeira enfraquecida.

Fonte: Guiame, com informações do Christianity TodayAtualizado: quinta-feira, 15 de abril de 2021 às 12:43
Polícia monta guarda em frente à igreja em Paris, após sequência de ataques terroristas na França. (Foto: Kiran Ridley/Getty Images)
Polícia monta guarda em frente à igreja em Paris, após sequência de ataques terroristas na França. (Foto: Kiran Ridley/Getty Images)

Na noite de segunda-feira (12), o Senado da França aprovou uma lei antiterrorismo que preocupou os líderes cristãos.

Batizada como “Lei de Apoio aos Princípios Republicanos e Luta contra o Separatismo”, o projeto — aprovado por 208 votos a favor e 109 contra, com 27 abstenções — pretende combater o radicalismo islâmico que incitou inúmeros ataques em solo francês nos últimos anos.

No entanto, o desejo do governo Macron de tornar a França mais segura colocou a liberdade religiosa em risco.

“O vento mudou na França”, disse Clément Diedrichs, diretor-geral do Conselho Nacional dos Evangélicos na França (CNEF), ao site Christianity Today. “[O governo] indicou claramente que não estamos mais em uma sociedade cristã”.

Diedrichs observa que o governo francês não deseja mais proteger espaço para nenhuma crença. “A religião se tornou dispensável”, afirma. 

Em fevereiro, a Assembleia Nacional Francesa aprovou a primeira versão do projeto de lei. Após passar pelo Senado, o projeto de lei vai para uma comissão mista de deputados e senadores e, em julho, passa pela votação final na Assembleia Nacional. 

Enquanto as linhas do projeto de lei são debatidas no governo, grupos cristãos como o CNEF e a Federação Protestante da França (FPF) continuarão seus esforços, pressionando para que o impacto da lei seja menos custoso.

Na prática, a lei restringe doações vindas de fora da França — a fim de enfraquecer a influência estrangeira em locais de culto — e aumenta a vigilância do governo sobre o ensino dos pastores, já que as autoridades poderão fechar temporariamente qualquer local de culto que espalhe mensagens de “discriminação, ódio ou violência” em relação à raça, grupo étnico, crenças religiosas, orientação sexual ou sexo.

“Estamos mudando de uma separação entre Igreja e Estado baseada na liberdade para uma separação baseada no controle”, disse François Clavairoly, presidente da FPF. “A laicidade não é mais realmente uma laicidade de confiança e inteligência, mas agora é uma laicidade de desconfiança, suspeita e controle.”

‘A religião virou uma ameaça’

Embora os cristãos franceses apóiem ​​os esforços de seu governo para enfrentar a ameaça do islamismo radical, eles estão preocupados com restrições que não abordam de fato a luta contra o terrorismo e que confundem outras religiões com a ameaça do extremismo islâmico.

“A ideologia islâmica extrema do terrorismo, que deturpa o Islã, turvou ainda mais a compreensão da vida religiosa”, disse Clavairoly. “A prática religiosa se tornou algo ameaçador para muitos líderes políticos. Portanto, nossa defesa explica que a religião não é uma ameaça, mas, pelo contrário, é um recurso para a inteligência e a cidadania.”

Apesar das restrições apresentadas pela nova lei, os líderes protestantes franceses não querem espalhar o medo e nem assumir uma postura de vitimização. “Não é o apocalipse. Não estamos em uma atmosfera de medo”, disse Clavairoly. 

Em vez disso, os líderes protestantes estão preocupados em se envolver em debates e apresentar sua defesa diante da esfera pública.

“Sem temer por nossa fé, podemos legitimamente expressar nossas preocupações e o fato de que permaneceremos atentos à preservação de nossas liberdades, em defesa de uma laicidade bem compreendida”, disse Erwan Cloarec, diretor de formação da Federação das Igrejas Batistas Evangélicas da França (FEEBF) e pastor de uma igreja em Lyon.

“Devemos ter medo? Não”, disse Diedrichs do CNEF. “Em Jeremias, a Bíblia diz que devemos procurar o bem da cidade onde estamos, e esta cidade não é Jerusalém. É a Babilônia. Acho que muitos cristãos prefeririam que estivéssemos em Jerusalém em vez da Babilônia. Muitos evangélicos gostariam de ainda estar em uma sociedade cristã que nos protege”.

Como a realidade pode ser diferente agora, observa Diedrichs, os evangélicos franceses precisam estar preparados para serem testemunhas do Evangelho como os primeiros fiéis em uma sociedade não-cristã.

“Eles não esperavam que o governo os protegesse. Eles simplesmente tinham uma esperança eterna e testemunharam essa esperança em sua sociedade”, disse ele. “É por isso que digo que não temos motivos para ter medo, mas temos todos os bons motivos para proclamar o Evangelho.”

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