O gabinete do governo de Ontário, no Canadá, divulgou recentemente dados atualizados e estatísticas sobre a eutanásia e o suicídio assistido na província. Desde que foi legalizada em 17 de junho de 2016, houve 3.302 mortes por eutanásia e 1 por suicídio assistido.
Além do Canadá, a eutanásia é permitida na Holanda, Luxemburgo e Colômbia. O tema polêmico traz sempre questões religiosas e de fé, passando pela discussão da ética médica.
No Canadá, os dados para o MAiD (Medical Aid in Dying) mostraram que o número de mortes por eutanásia e suicídio está aumentando. Na província de Ontário houve 189 mortes assistidas em 2016, 841 em 2017, 1.499 em 2018 e 774 nos primeiros seis meses de 2019. Se a tendência para 2019 continuar, haverá mais de 1.500 este ano, segundo o LifeSite News.
Alex Schadenberg, da Coalizão de Prevenção da Eutanásia, relatou que as mortes assistidas em todo o Canadá aumentaram. Em 2019 foram registradas 4.325 mortes assistidas, contra 2.704 em 2018.
As estatísticas de Ontário mostraram as razões difíceis pelas quais as pessoas escolhem a eutanásia ou o suicídio assistido. De acordo com o levantamento, 63% dos óbitos estavam relacionados ao câncer, enquanto 16% estavam relacionados a condições circulares e respiratórias e 12% a distúrbios neurodegenerativos. Os restantes 9% foram listados como outros.
As estatísticas também revelaram que 48% das mortes ocorreram em hospitais, enquanto 43% dos que escolheram a eutanásia e o suicídio assistido morreram em casa.
O mais jovem relatou suicídio assistido em Ontário foi um jovem de 22 anos e o mais velho foi de 106. A idade média para a eutanásia e mortes por suicídio assistido em Ontário é de 74 anos.
Ética médica
Schadenberg disse que sua coalizão recebe ligações de enfermeiras que se sentem pressionadas a participar da eutanásia. Ele apontou para uma recente decisão que dizia que os médicos não são obrigados a realizar a eutanásia, mas devem ter um sistema para “encaminhamento eficaz” no local.
Falando da necessidade de ajudar os profissionais médicos que se sentem pressionados a realizar a eutanásia e o suicídio assistido, Schadenberg afirmou que “os direitos de conscientização dos profissionais médicos em Ontário precisam ser protegidos”.
O médico canadense Sandy Buchman explica que aceitar a autonomia do paciente a levou a fornecer uma injeção letal que daria fim àquele seu sofrimento.
Sobre essa escolha do paciente terminal, o pesquisador sênior em Ética Médica, Gillian R. Wright, afirma que esse não seria um motivo para que ele praticasse a eutanásia.
“A autonomia deve ser o auge da ética médica moderna? Eu faço o que eu quero para mim. Eu escolho [o que quero] para mim. E quanto aos efeitos no meu amigo, meu vizinho, meu médico...?”, questionou o médico, que afirmou que a introdução da eutanásia afeta mais do que os envolvidos.
O Dr. Wright, afirma que jamais apoiaria a morte assistida. “A proibição de tirar a vida está presente em quase todas as sociedades civilizadas devido a uma alta visão do valor da vida humana. Todos têm o direito à vida, de acordo com o Artigo 1 da Lei de Direitos Humanos de 1998, de tal forma que ninguém deve ser privado intencionalmente dessa vida”.
O médico diz que “devemos parar para refletir que o sofrimento do paciente é terrível, mas os valores humanos nos impedem de tirar a vida. A responsabilidade para com os vulneráveis é a própria coisa da amizade e da família, da sociedade, da própria relação médico-paciente”.
“Eu não quero levar a vida dos pacientes. Mesmo se eles me pedirem”, declarou o Dr. Wright.
Dor e sofrimento
Segundo a advogada e ex-capelã Patrícia Alonso, no Brasil, o direito à vida é um direito Constitucional e irrenunciável. No entanto, o estado de São Paulo tem uma Lei aprovada denominada de Lei Mário Covas, criada quando o então governador estava com câncer em estado terminal e não queria mais fazer as quimioterapias e demais procedimentos que lhe causavam sofrimento.
“A questão da eutanásia é muito discutida, e tem muitas vertentes a respeito que precisamos analisar”, diz a advogada. “No caso do governador a lei foi feita de forma que a família não mais podia decidir por ele, que por sua vez, queria que a ‘natureza’ se encarregasse de seu final de vida”, explica.
Patrícia diz que a lei estadual paulista “não reza expressamente que está autorizada a eutanásia, no entanto, ela permite que o paciente escolha se quer ou não prosseguir com o tratamento médico, pois em muitos casos, o tratamento pode aumentar os anos de vida, mas o paciente pode viver de forma vegetativa”.
Para o teólogo e psicanalista Eduardo Silva, “em primeiro lugar é preciso destacar o grau de sofrimento pelo qual a pessoa está passando. Diante disso devo escolher se minha posição será de julgar ou acolher. Vivemos em uma sociedade que prefere julgar (e condenar) do que acolher. A estes Jesus diria: ‘Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra…’”.
Eduardo esclarece que o “aumento de casos como sugerem alguns estudos, significa também que, ‘talvez’ estejamos sofrendo mais por diversos fatores”.
Para o psicanalista, “temos que levar em conta que a maioria das pessoas que recorrem à eutanásia, prática aliás não reconhecida no Brasil, estão em situações terminais como câncer ou doenças degenerativas, além de outras causas”.
Patrícia Alonso alerta que o aumento da eutanásia deve ser visto também por outros ângulos. “Se de um lado a eutanásia é praticada sob o argumento do paciente não sofrer, do outro pode-se analisar também que muitas famílias escolhem a eutanásia para poder resolver a questão de cuidar desse idoso, contenção de gastos, herança etc.”
Para Eduardo Silva, há ainda o envolvimento da fé. “Sendo cristãos, reconhecemos Deus como autor da vida e a quem somos devedores, assim, temos então um sentido da vida como algo sagrado. Não nos compete dar fim à nossa existência. Mas devo lembrar que a falta de cuidado com nosso corpo, nossa saúde, nossas emoções e relacionamentos, também podem nos fazer adoecer e nos levar à morte de forma a abreviar a nossa existência”, lembra.
Em 2015, o pastor Rick Warren se declarou contrário à prática da eutanásia. O líder da Igreja Saddleback juntou-se a outros grupos religiosos em uma manifestação contra um projeto de lei da Califórnia que dá às pessoas com doenças em estado terminal, o direito de dar fim às suas próprias vidas.
"Eu me oponho a essa lei como teólogo e como o pai de um filho que tirou a própria vida depois de lutar contra uma doença mental por 27 anos", disse Warren em uma conferência, referindo-se a seu filho, Matthew, que se suicidou em 2013.
Vincent Lambert
O caso do francês Vincent Lambert, de 42 anos, que ficou tetraplégico e passou a viver em estado vegetativo desde que sofrera um acidente de trânsito em 2008 tornou-se emblemático na discussão da eutanásia.
O francês morreu nesta quinta-feira (11), nove dias após o hospital de Reims, onde estava internado, desconectar as máquinas que o mantinham com vida.
Seu caso havia se transformado num símbolo do debate sobre o direito à morte digna na França, depois de uma longa e dura batalha judicial que dividiu a família e levou toda a sociedade a refletir sobre as leis relativas ao fim da vida e à eutanásia.
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