Mianmar perde 40 pastores por Covid-19 no último mês

A morte de pastores pelo avanço da doença traz grande impacto sobre a igreja e sobre o avanço do Evangelho.

Fonte: Guiame, com informações do IrrawaddyAtualizado: terça-feira, 6 de julho de 2021 às 15:30
Voluntários enterram o corpo de vítima de Covid em Tonzang, Estado de Chin, em 3 de junho. (Foto: Reprodução / Tonzang Awging)
Voluntários enterram o corpo de vítima de Covid em Tonzang, Estado de Chin, em 3 de junho. (Foto: Reprodução / Tonzang Awging)

O aumento de casos de Covid-19 em Mianmar está afetando as igrejas e tirando a vida dos poucos pastores que atuam no país. Com o clima de tensão em que o país está mergulhado, após o golpe militar iniciado em fevereiro, a situação fica ainda mais crítica.

A maior parte dos casos da doença acontece próximo da fronteira com a Índia nos municípios de Kale e Tamu na região de Sagaing e nos municípios de Tonzang e Falam no estado de Chin, onde cerca de 100 pastores também morreram em decorrência da doença.

Em entrevista exclusiva ao Guiame, o Pr. Joseph* fala sobre o impacto que essas mortes estão produzindo na igreja e sobre as famílias. “Estamos muito tristes. Eu estava chorando quando orei pela família de um pastor que se foi”, diz Joseph.

Com a morte dos pastores, a igreja fica desguarnecida de liderança, o que em um país onde o cristianismo é minoria prejudica o avanço do Evangelho.

Segundo o bispo Cláudio Modesto, que integra o NCMI que é uma equipe  Ministerial translocal, composta de homens e mulheres que, por meio de parceria, ajudam os pastores e líderes a construir suas igrejas locais e que mantém conexões com diversas igrejas mundiais, inclusive em Mianmar, a situação nos leva a refletir e exercer o nosso papel como corpo de Cristo  encorajando uns aos outros com uma voz apostólico profética para este tempo lembrando-os que o nosso Deus tem o controle de tudo em suas mãos, como disse o apóstolo Pedro em sua primeira carta no capítulo 5-9-10 . “Lembrem-se de que seus irmãos em Cristo em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos. Deus, em toda a sua graça, os chamou para participarem de sua glória eterna por meio de Cristo Jesus. Assim, depois que tiverem sofrido por um pouco de tempo, ele os restaurará, os sustentará e os fortalecerá, e os colocará sobre um firme alicerce.”

Ele completa dizendo que “não podemos parar. Se olharmos o que está diante dos nossos olhos vamos acreditar como Elias que somente nós ficamos e que também vamos morrer, mas, se enxergarmos como Deus enxerga veremos que ainda existem muitos joelhos que não se dobraram e que temos que avançar, porque o Reino de Deus é tomado à força!”.

O bispo brasileiro tem ministrado e aconselhado o Pr. Joseph, especialmente neste tempo de pandemia e dificuldades políticas, quando a igreja birmanesa tem sofrido ainda mais para se estabelecer.

Cerco militar

Além do profundo impacto do coronavírus no país, os birmaneses estão sendo expulsos de seus lugares. O Pr. Joseph conta a proximidade dos militares o faz estar pronto para ter de “fugir da aldeia” onde mora e pastoreia, se for o caso. É o que acontece com outros pastores.

“Na semana passada, muitas pessoas do leste da vila do distrito de Falam, todas fugiram da vila porque havia uma guerra entre os locais que resistiam e os militares”, conta.

“Como os locais não tinham grandes armas, por isso mais de cinco pessoas foram baleadas”, diz o pastor, descrevendo que “a militância entra na aldeia e quebra muitas motos, quebra as casas e leva o que quer”.

“Tudo isso é muito triste. Agora, muitas pessoas estão passando necessidade, não sabem como sobreviver, elas realmente precisam de ajuda”, explica.

O avanço da Covid

Desde a semana passada, cerca de 20 a 70 casos diários de coronavírus foram relatados na região de Sagaing. A maioria dos casos está nos distritos de Kale e Tamu, no oeste da grande região.

De acordo com o Ministério da Saúde e Esportes, controlado pelos militares, cerca de 15 a 50 casos de Covid-19 foram relatados em Kale desde o início de junho, enquanto o município de Tamu notificou entre 11 e 40 casos por dia.

A agência de notícias Zalen disse que cerca de 32 pessoas morreram de Covid-19 em Kale neste mês.

Dois pastores cristãos, de 43 e 53 anos, morreram vitimados pela Covid em Kale no domingo.

De acordo com o departamento de saúde pública em Hakha, Estado de Chin, cerca de 480 casos da doença foram notificados no estado entre 19 de maio e 11 de junho.

Cerca de 337 casos de Covid-19 e 10 mortes - o maior número no estado - foram registrados no município de Tonzang. Falam Township relatou 128 casos e uma morte.

Cinco dos nove distritos do estado de Chin - Tonzang, Hakha, Tedim, Falam e Thantlang - estão sob ordens do ministério da saúde para ficar em casa.

Tonzang está enfrentando falta de medicamentos e ventiladores para os pacientes, disse recentemente um oficial de saúde municipal ao The Irrawaddy.

Desde o golpe, o regime tem lutado para manter a prevenção, controle e tratamento da Covid-19, já que milhares de médicos do governo e vários voluntários se recusaram a trabalhar para a junta.

O ministério da saúde realizou cerca de 1.500 a 2.000 testes por dia, em comparação com 16.000 a 18.000 sob o governo civil deposto.

No domingo, Mianmar relatou 145.603 casos de Covid-19, incluindo 3.244 mortes e 132.928 recuperações.

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