Depois de polêmicas em torno de seu histórico como missionário, o pastor Ricardo Lopes Dias foi exonerado pelo Ministério da Justiça da coordenação de índios isolados da Fundação Nacional do Índio (Funai), em decisão publicada na última sexta-feira (27) no Diário Oficial.
Teólogo e antropólogo, Lopes Dias atuou entre 1997 e 2007 como missionário na Amazônia pela Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB). Seu histórico, no entanto, se tornou polêmico desde sua nomeação para o cargo da Funai em fevereiro, levando o Ministério Público Federal (MPF) a recorrer contra sua nomeação ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Segundo reportagem do jornal O Globo, Lopes Dias continuou ligado a missões evangelizadoras de indígenas, o que seria visto como um problema para o órgão.
“Registros levantados pelo Globo e depoimentos de índios que trabalharam com o pastor revelaram uma atuação de bastidores do religioso, com foco na formação de futuros ministros que dariam a continuidade ao trabalho por ele iniciado”, diz a publicação.
Ricardo foi ainda acusado de “tentar quebrar a quarentena da Covid-19 e indicar missionários para área de índios isolados”, informa o Globo. A denúncia foi feita pela ex-chefe de proteção no Vale do Javari, Idnilda Obando, em ofício enviado ao Ministério Público Federal (MPF) e à Diretoria de Proteção Territorial da Funai.
No ofício, a servidora acusou Ricardo de “proselitismo religioso junto aos indígenas recém-contatados” e considerou o então coordenador uma “ameaça à política pública do não contato aos índios isolados”.
Ricardo Lopes Dias é antropólogo e pastor, tendo sido nomeado em fevereiro para um cargo na Funai. (Foto: Arquivo pessoal)
A reportagem indica que Lopes Dias teria permitido “invasões missionárias” no Vale do Javari, o que, de acordo com a descrição de seu cargo, deveria ser impedido por seu setor, responsável por informações sigilosas como a localização exata de povos isolados.
Na ação que pedia a suspensão de sua nomeação, os procuradores do MPF alegam que Lopes Dias tem profundas ligações “com organização que tem por meta estreitar com os indígenas, preferencialmente os isolados e de recente contato, relações de dependência favoráveis à propagação da fé”.
O MPF sustentou ainda uma ameaça de “genocídio e etnocídio” contra povos indígenas isolados, conflito de interesses, incompatibilidade técnica e risco de retrocesso na política de não contato adotada pelo Brasil desde a redemocratização em relação a esses povos.
A Funai ainda não se manifestou sobre a exoneração. Para o lugar de Lopes Dias, foi nomeado Marcelo Fernando Batista Torres, servidor alocado na Funai do Acre, onde atuava como chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira.
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