Pesquisa revela que mulheres negras são maioria nas igrejas de São Paulo

Os dados são de uma pesquisa Datafolha realizada entre 24 e 28 de junho com 613 moradores da capital que se declaram evangélicos.

Fonte: Guiame, com informações da Folha de S.PauloAtualizado: segunda-feira, 22 de julho de 2024 às 16:27
Em SP, onde 1 em cada 4 pessoas é evangélica, a pesquisa revela que 58% é mulher. (Foto: Pixabay/Kevin Snyman)
Em SP, onde 1 em cada 4 pessoas é evangélica, a pesquisa revela que 58% é mulher. (Foto: Pixabay/Kevin Snyman)

As igrejas evangélicas da capital paulista são predominantemente compostas por mulheres negras de famílias com renda de até três salários mínimos.

Esse é o perfil do crente médio na cidade de SP, onde 71% frequentam pequenos templos, com até 200 pessoas, que se espalham pelas periferias.

Os dados são de uma pesquisa Datafolha realizada entre 24 e 28 de junho com 613 moradores da capital que se declaram evangélicos.

O levantamento, com margem de erro de quatro pontos percentuais, foi elaborado com a colaboração dos antropólogos Juliano Spyer e Rodrigo Toniol, da socióloga Christina Vital e do cientista político Vinicius do Valle, todos pesquisadores na área.

Em São Paulo, onde uma em cada quatro pessoas é evangélica, a pesquisa revela que 58% é mulher e, segundo o Censo 2022, 53% da população local.

Evangélicos negros

Os evangélicos negros na cidade de São Paulo, incluindo pardos e pretos, representam 67% do total. Em média, segundo o Censo, esse grupo equivale a 43,5% da população paulistana.

Quatro em cada dez entrevistados pelo Datafolha afirmaram frequentar uma igreja evangélica desde o nascimento ou antes dos 12 anos. Esses são os chamados "evangélicos de berço", uma geração que cresceu imersa na fé cristã evangélica.

Em 55% dos casos, nem o pai nem a mãe frequentavam a igreja quando o fiel era criança, diz a pesquisa.

Os números indicam que a maioria se converte à fé evangélica depois dos 18 anos, com 46% relatando que começaram a frequentar cultos nessa idade. Esse processo geralmente inclui o batismo, onde se declara publicamente a fé em Jesus como salvador.

Troca de religião

O fenômeno de trocar uma religião por outra diminuiu. Cinquenta e oito por cento dos evangélicos afirmam nunca ter pertencido a outra religião. Quando ocorre uma troca, a Igreja Católica é a principal perdedora, com 38% dos convertidos oriundos dessa tradição. O restante se divide entre religiões como umbanda, candomblé, espiritismo e budismo.

As grandes igrejas são exceções na cena religiosa, com apenas 12% dos evangélicos frequentando templos com mais de 500 pessoas. A maioria dos espaços evangélicos em São Paulo atende até 200 pessoas e está concentrada nas periferias, onde pequenas igrejas de bairro predominam.

Muitas dessas igrejas são informais, operando em galpões improvisados com cadeiras de plástico e um púlpito básico, sem formalização ou registro oficial.

A frequência aos cultos destaca o alto engajamento dos fiéis: 54% participam dos cultos mais de uma vez por semana, enquanto 26% vão pelo menos uma vez por semana.

Pesquisa também mostra que 43% dos evangélicos dizem pertencer a uma igreja pentecostal, como Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil e Deus É Amor. Outros 22% são membros de igrejas neopentecostais, como Universal e Renascer.

As igrejas históricas, como batistas e presbiterianas, representam 10% dos evangélicos. Já os “desigrejados” – aqueles que se identificam como evangélicos, mas não frequentam uma igreja – são 5% da amostra.

Identidade religiosa

Rodrigo Toniol, professor de antropologia na UFRJ, destaca uma sólida transferência da identidade religiosa dos pais para os filhos evangélicos, um fenômeno que já foi mais prevalente no catolicismo.

Hoje, o Brasil tem muitos "católicos de IBGE" – aqueles que se identificam como católicos, mas não praticam a religião. Em contraste, pesquisas mostram que os evangélicos tendem a permanecer na mesma esfera religiosa, mesmo que mudem de igreja ao longo do tempo. "Ele pode ir para outras, tem uma circulação”, explica Toniol.

O estudioso também considera essencial destacar que o perfil predominante nos templos evangélicos é negro, pobre e feminino. "Acho que vale insistir para a gente chamar atenção de que essa também é a cara do brasileiro médio", afirma.

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