A intensa procura pelo site de recursos do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e os erros na correção levam a entidade a estimar que cerca de 30 mil dos 34 mil reprovados na segunda fase da prova tenham recorrido do resultado. O prazo se encerrava nesta segunda-feira após três prorrogações.
Esta edição do exame teve recorde de inscritos. Ao todo, foram 106.941 candidatos, dos quais 46.916 passaram para a segunda fase e apenas 12.634 foram aprovados, ou 11,8% do total inicial. Caso o número de recursos aceitos não seja significativo, este será o menor porcentual de aprovados do exame na história.
O dado tem gerado polêmica entre especialistas. A OAB defende que ele reflete a falta de qualidade da maioria das faculdades de Direito, mas professores mostram que a ordem aprova sempre uma quantidade parecida de candidatos, independente do total de inscritos. Pelo edital, não deve haver limite numérico e todos que demonstrarem ter conhecimentos mínimos para exercer a função devem ser aprovados.
O doutor em Direito pela Universidade de São Paulo, João Ricardo Aguirre, que dá aula em cursos preparatórios para a Ordem há 10 anos, diz que a dificuldade no teste aumentou depois que o exame foi unificado. Até 2005, cada Estado fazia sua seleção e aos poucos a prova foi unificada. O último a aderir foi Minas Gerais, em 2009. A prova está mais difícil, mais elaborada, garante.
Maurício Assis, advogado trabalhista e autor do blog Exame da Ordem, conta que a prova da primeira fase foi uma das mais elogiadas dos últimos anos, mas sobraram 46 mil candidatos. A segunda prova tinha interesse deliberado de cortar este número para patamares próximos aos que sempre ocorrem. Ela estava muito extensa com muitas informações para serem avaliadas, afirma.
O presidente da Comissão Nacional do Exame da Ordem, Walter Agra, afirma que não há qualquer limite. Teríamos todo interesse em aprovar mais gente, isso tornaria a categoria mais forte e geraria mais mensalidades, diz. Segundo ele, não há preocupação em manter a concorrência entre profissionais reduzida. A concorrência já existe de qualquer jeito, tem muita gente que trabalha com registro de amigo.
O motivo pelo qual o porcentual de aprovados caiu, de acordo com ele, foi o aumento no número de estudantes dos últimos períodos que prestam a prova. Até 2009, era preciso ser formado para se inscrever e em 2010 foram aceitos estagiários tanto na primeira prova quanto nesta segunda. Não temos esta estatística fechada, mas o crescimento de inscritos se deve a eles e, como ainda não estão prontos para passar, aumenta o porcentual de reprovados.
Prova boa, correção ruim
A prova em questão foi a primeira aplicada pela Fundação Getúlio Vargas. Tradicionalmente, o teste era feito pela Cespe-UnB. Para Agra, a nova aplicadora fez uma boa prova, mas errou na correção. Por um erro de digitação eles apresentaram espelhos (um gabarito de respostas esperadas) incompletos e isso aumentou muito o interesse por recursos, diz.
Ele lembra que, na primeira fase, quando mais de 100 mil fizeram o teste, o site não caiu por excesso de demanda. Se agora o servidor não aguentou é porque houve muito mais procura, afirmou, dizendo que estima que quase todos os não aprovados entrem com recurso. Isso não quer dizer que o número de processos aceitos será grande, mas esperamos 30 mil pedidos.
A FGV afirmou apenas, em nota, que estendeu o prazo para que não houvesse candidato prejudicado.
ENTENDA A PROVA:
Quem tem que fazer? Todos os estudantes de Direito. Só os aprovados na OAB recebem um registro e podem representar clientes
Como é? O Exame da Ordem dos Advogados do Brasil é composto por duas fases. A primeira é composta de 100 perguntas com alternativas. Os aprovados fazem a segunda em que redigem uma peça prática e respondem a cinco questões dissertativas
Quando é feito? Três vezes por ano. Devido há atrasos acumulados em várias edições, a prova atual corresponde a segunda de 2010.
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