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Aumenta busca por desativadores de bombas de guerra em Berlim

Aumenta busca por desativadores de bombas de guerra em Berlim

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:37

O alemão Ralf Kirschnick é chamado várias vezes por mês para ficar em pé sobre uma bola mortífera, que falhou na hora da explosão, mais de seis décadas atrás.

Seu trabalho é desarmar bombas deixadas em Berlim após a Segunda Guerra (1939-1945).

Ele faz isso de duas formas: coloca um detonador no artefato e caminha uma longa distância antes de explodi-lo. Ou, se a bomba está muito perto de pessoas ou de construções, ele a desativa.

Kirschnick não usa roupas de proteção porque, ele explica, roupa nenhuma o teria protegido contra a explosão de uma bomba jogada na cidade durante os bombardeios da Segunda Guerra.

O trabalho não fica mais fácil, porque quanto maior o tempo a nos separar de 1945, maior o período de exposição da bomba à ação corrosiva da ferrugem.

O volume de trabalho também não diminui, porque o passo acelerado da indústria de construção em Berlim faz com que novos perigos em potencial sejam identificados com cada vez mais frequência.

SEM BRAVATA

Os aliados despejaram montes de bombas em Berlim. Cerca de 465 mil toneladas de explosivos atingiram o solo da cidade. Cerca de uma em cada oito bombas não explodiu.

Ralf Kirschnick disse que uma grande proporção de bombas deixou de explodir porque britânicos e americanos testaram os artefatos em uma parte da Escócia cujo terreno é particularmente duro.

Quando as bombas foram jogadas sobre o terreno mais macio de Berlim, afundaram na terra e lá permaneceram --até entrarem em cena as grandes empreiteiras de hoje.

Antes de que qualquer grande projeto de construção possa ser realizado, os terrenos tem de ser inspecionados e declarados livres de bombas. Se algum objeto suspeito é encontrado, Kirschnick entra em ação.

Ele tem o temperamento certo para esse trabalho. Se você pedir permissão para fotografá-lo, ele lhe dirá que especialistas em desativar bombas não gostam de ter suas fotos na mídia.

O perigo é que comecem a ficar vaidosos, e que isso resulte em atos de exibicionismo --comportamento que pode ter consequências desastrosas para um desativador de bombas.

Se você perguntar a ele quantas bombas já desativou, ele dirá que sabe exatamente quantas foram, mas não revelará a quantia a você.

Todos na equipe sabem quantas bombas cada um desativou, mas guardam o número em segredo, temendo iniciar uma competição, mesmo que amigável e silenciosa.

Uma competição implicaria em riscos adicionais que poderiam ser fatais.

De acordo com o site "Spiegel Online", mais de 600 toneladas de munição velha deixadas pelas duas guerras mundiais e por exercícios de guerra feitos pelos soviéticos durante o período em que a Alemanha ficou dividida são encontradas anualmente no país.

SANTO PROTETOR

Kirschnick sabe tudo o que há para saber sobre bombas despejadas durante a Segunda Guerra.

Os britânicos usavam 98 tipos diferentes de estopins e 123 tipos de bombas. Algumas vinham acompanhadas de armadilhas explosivas para pegar os desativadores de bombas da época.

"Os estopins 35 e 37 tinham armadilhas, mas sabemos como desparafusá-los e tirá-los da bomba", explicou Kirschnick.

Bombas russas eram, com frequência, bombas alemãs, recolhidas pelo Exército Vermelho em seu avanço em direção ao oeste. Elas recebiam estopins russos e eram mandadas para a União Soviética para ser colocadas nos aviões russos.

O escritório de Kirschnick fica em um antigo complexo militar na cidade de Wundsdorf, nas florestas ao sul de Berlim. No corredor, há uma estátua de uma santa. Ela é Santa Barbara, padroeira dos trabalhadores de minas e das pessoas que lidam com explosivos.

Dentro do escritório, ele guarda ferramentas de trabalho mais mundanas: alicates e fotografias aéreas de Berlim tiradas pelas Forças Aéreas britânica e americana.

Ele abre os velhos mapas sobre a mesa e mostra os pontos onde ficavam as fábricas de armamentos alemãs, ao norte da cidade, em Oranienburg.

Também naquela área estão as crateras deixadas pelos bombardeios dos aliados --tentando, obviamente, atingir as fábricas do inimigo.

Hoje, Oranienburg é uma fonte constante de trabalho para os desativadores de bombas.

Kirschnick aponta para o local onde ficava um campo de concentração e chama a atenção para a ausência de crateras na área --porque os aliados evitaram bombardeá-lo. Ele não costuma trabalhar por ali.

PROFISSÃO OU VOCAÇÃO?

Desativar bombas é um trabalho que tem um alto custo pessoal. No ano passado, três desativadores morreram em serviço na cidade alemã de Gottingen.

Muitos dos membros da equipe se casaram mais de uma vez. Esta não é uma profissão considerada atraente pelas mulheres.

Os homens --a maioria dos desativadores é homem-- precisam ter um tipo específico de personalidade.

Precisam ser capazes de bloquear tudo o que pode distraí-los, concentrando-se totalmente no que estão fazendo.

Kirschnick disse que se você discute com sua mulher e duas horas mais tarde tem de desativar uma bomba, precisa dizer a si mesmo: "Não, não pense na discussão com a mulher, agora é o trabalho. Dessa forma, você vai viver".

"Se você não for capaz de bloquear (todo o resto), esse trabalho não é para você".

"Tenho medo, tanto como você", disse o especialista.

Quantas vezes ele sentiu que estava prestes a morrer? "Acho que tive essa sensação umas três ou quatro vezes. Mas você não pensa nisso naquele momento. você faz o trabalho e um ou dois dias mais tarde você pensa que aquilo não foi agradável".

Esta é apenas uma profissão qualquer? "Se fosse apenas uma profissão, você morreria".

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